Literatura, Livros e Livres,

Livros e dicas literárias LGBTQIA+ de 2024

Grandes colaboradores e leitores indicam livros marcantes sobre diversidade sexual e de gênero no podcast 451 MHz

25jun2024 • Atualizado em: 22nov2024

A Quatro Cinco Um convidou grandes autoras e autores para indicar livros que foram marcantes, leituras recentes e outras dicas literárias LGBTQIA+ imperdíveis para todos os leitores. Confira as indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.


O amor dos homens avulsos. Victor Heringer. Companhia das Letras

Indicado pelo Mauricio Abbade, produtor-assistente do 451 MHz e também diretor e roteirista de curtas-metragens, no episódio 124.

“Victor tem um quê de informalidade formalista. Ou, formalidade informal. Ele está sempre brincando e misturando as linguagens. É um livro sobre um homem relembrando uma amizade que teve com outro menino na adolescência. Uma amizade que não era somente uma amizade, era muito mais”, conta Abbade. “Um amor avulso, impossibilitado, em um subúrbio carioca quente, úmido e longe do mar. É um livro que fala sobre crescer, olhar para o passado e as coisas que tocam a gente.”


O ano em que morri em Nova Iorque. Milly Lacombe. Planeta

Indicado pela Daniela Arrais, uma das criadoras da agência de conteúdo @contente.vc, no episódio 123.

“O livro conta a história de uma personagem que está em uma jornada de autoconhecimento depois que o seu relacionamento perfeito e invejado desmorona”, conta Arrais. “É um livro desses que você vai lendo e imaginando: isso daria um filme. É uma leitura estimulante, cheia de sacodes. Fala sobre como nossa vida pode mudar em um segundo, numa escrita super fluida. Um belo exemplar de uma literatura com personagens lésbicas.”


O coração é um caçador solitário. Carson McCullers. Carambaia

Indicado pelo romancista Pedro Jucá, autor de Amanhã tardará, no episódio 122.

“Nesse romance ela retrata de uma maneira magistral e sutil a questão da solidão e da nossa eterna luta para tentar comunicar o próprio desejo, muitas vezes a nós mesmos. Ela narra a história de cinco personagens no sul dos Estados Unidos, em um contexto de pós-Grande Depressão. É um clássico lindo, comovente e inesquecível ”, conta Jucá.


Nossa Senhora das Flores. de Jean Genet. Nova Fronteira.

Indicado pelo poeta e pesquisador de cinema queer Renato Trevizano dos Santos no episódio 121.

“A narrativa se situa na primeira metade do século 20 na França. A gente acompanha os encontros e desencontros da Divina, que se prostitui e acaba envolvida em alguns crimes. Paralelamente, a narrativa segue outras personagens marginais e criminosas como a que dá nome ao livro, a Nossa Senhora das Flores, que é um jovem assassino. Além dele, tem o próprio narrador que se encontra no cárcere, o que ecoa a biografia do próprio autor”, conta Trevizano. “Jean Genet se empenha em elevar o que há de mais baixo em um gesto político que tanto erotiza o sagrado quanto sacraliza a experiência erótica, evidenciando o que é o próprio erotismo: uma experiência de limite e borramento de fronteiras.”


O beijo da mulher aranha. Manuel Puig. José Olympio.

Indicado pela escritora Luisa Geisler no episódio 120.

“O livro conta a história de dois prisioneiros em uma cela no terceiro governo de Perón. Um deles é um militante revolucionário de esquerda e a outra é uma transexual acusada de corrupção de menores. Ambos começam a criar uma relação complexa, com um fundo poético em conversas sobre cultura pop, especialmente cinema”, conta Geisler.


Condições ideais de navegação para iniciantes. Natália Borges Polesso. Companhia das Letras.

Indicado pela quadrinista Aline Zouvi no episódio 119.

“Para quem já conhece o Amora, da Natália Borges Polesso, eu quero indicar o novo livro de contos dela. Esse conjunto é igualmente apaixonante ao anterior, Natália é uma grande inspiração para mim e para várias autoras e mulheres sáficas. Ela sempre faz uma representação muito honesta e íntima da vivência da mulher lésbica e bissexual. Uma narrativa que te faz se sentir próxima das personagens, um poder de identificação muito forte”, conta Zouvi.


Baldomero (Ou Babá, para os íntimos, inexistentes). Leandro Rafael Perez. Fósforo

Indicado pelo escritor Patrick Cassimiro no episódio 117.

“Baldomero é um homem gay que divide uma vida entre Diadema e o centro de São Paulo. O sonho da vida dele é muito simples: ele queria se chamar Valdomiro. Ele não consegue ter intimidade com as pessoas, falando de uma cidade difícil de se conectar como São Paulo. Através do sexo, ele começa a buscar corpos para se preencher. Uma linguagem crua, sem muitos rodeios”, conta Cassimiro.


Veludo Rouco. Bruna Beber. Companhia das Letras. 

Indicado pelo poeta Fabrício Corsaletti no episódio 116.

“Os poemas tratam da infância de Bruna Beber na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e também no bairro onde ela mora em São Paulo, a Barra Funda. O que mais me interessa no livro é acompanhar sua imaginação, plasmando numa linguagem própria, muito lírica e ao mesmo tempo cheia de humor, usando um vocabulário quase rasteiro, mas dando a ele um sentido solene”, afirma Corsaletti.


Romance Real. Clara Alves. Seguinte. 

Indicado pela Olívia Pilar, autora de Um traço até você (Seguinte, 2023), no episódio 115.

“Uma autora jovem que escreve para o público jovem. O romance conta a história da Daiana, que sai do Rio de Janeiro e vai morar com o pai. Ela está passando por um momento de luto, conhece uma garota em Londres e as coisas acontecem a partir daí”, conta Pilar.


Pigmento. Aline Zouvi. Quadrinhos na Cia. 

Indicado pela quadrinista e ilustradora Helô D’Angelo no episódio 114.

“É a graphic novel de estreia da Aline Zouvi, que conta a história da tatuadora Clarice, que tem uma pele que não permite que ela se tatue, como se a tinta da tatuagem não pegasse. É um livro maravilhoso, a arte da Aline é suprema”, conta D’Angelo.


A consulta. Katharina Volckmer. Fósforo. 

Indicado pela editora Carol Fernandes, da livraria Pulsa, no episódio 113.

A consulta é uma espécie de monólogo e a personagem principal está na mesa de cirurgia, passando por uma redesignação de gênero. Ela é alemã, o médico é judeu. Ao longo da cirurgia, a personagem conta que tem sonhos recorrentes e eróticos com Hitler — e ela faz questão de ter um  pênis judeu”, descreve Fernandes. “Como não lembrar do Complexo de Portnoy, de Philip Roth? Um livro em que ri muito e me emocionei também.”


Vivendo como uma lésbica. Cheryl Clarke. Bolha Editora.

Indicado pela poeta Ana Ladeira no episódio 112.

“Lançado há quase quatro décadas e publicado no Brasil há três anos pel’A Bolha Editora, com tradução de Cecilia Floresta, Vivendo como uma lésbica permanece vibrante. Reverbera dentro da gente. A autora, nascida quando havia leis de segregação racial nos Estados Unidos, mescla desejo e política em seus versos cheios de humor, acidez, conflitos, tesão e amor entre mulheres”, conta Ana Ladeira.


Nascimento e anos tardios: poemas novos e antigos 1971-2021. Irena Klepfisz. Demonia Editora.

Indicado pela escritora Daniela Wainer no episódio 111.

“Irena é lésbica, judia, sobrevivente do Holocausto e ativista política socialista. Ela nasceu no gueto de Varsóvia em 1941, sobreviveu à guerra escondida num orfanato, seguindo depois para o interior da Polônia com a mãe. O pai foi um herói do levante do gueto de Varsóvia. Depois da guerra, Irena foi com a mãe para Nova York, onde escrevia em inglês, e depois começou a escrever poemas bilíngues, inserindo ídiche como forma de tensionar a linguagem dominante heterossexual e patriarcal e dialogar com o passado. Seus poemas traduzem toda essa fascinante experiência de vida”, conta Wainer.


Os moedeiros falsos. André Gide. Estação Liberdade

Indicado pelo escritor e crítico literário Silviano Santiago no episódio 109.

“Tive a grande sorte de encontrar no Rio de Janeiro um manuscrito de André Gide, que me levou a me interessar de maneira profissional pela obra dele e me formei lendo essa obra. Tenho que recomendar esse mesmo caminho porque a obra de Gide teve enorme importância. Dentre os livros dele, destaco três: Os alimentos da terra, O imoralista e a obra-prima Os moedeiros falsos”, conta o autor.


Zami: uma nova grafia do meu nome. Uma biomitografia. Audre Lorde. Elefante.

Indicado pela escritora Gabriela Soutello no episódio 108

“O livro é de 1982, mas chega ao Brasil só em 2021. É muito legal que editoras pequenas como a Elefante, a Bazar do Tempo, a Relicário e a Ubu criaram a coleção Audre Lorde fazendo esse trabalho de trazer suas histórias para o Brasil. Zami é um livro que me emocionou muito, com a história da autora desde muito pequena até os 23 anos, e os meus trechos favoritos são muito poéticos e políticos, como quando ela cozinha o seu prato caribenho favorito com a mãe e todas as vezes que ela se apaixona por uma mulher — e foram muitas”, conta a autora.


Reinventando Denise. Aureliano Medeiros. Companhia Editora Nacional

Indicado pelo ilustrador e quadrinista Talles Rodrigues no episódio 107.

“Aureliano é um autor de Natal, no Rio Grande do Norte, e a história se passa lá. A Denise é uma menina que vai para São Paulo para tentar uma carreira de influencer, fica famosa na internet, mas faz isso também para fugir de certas coisas que fez no passado, com seus dois melhores amigos que ficaram lá. Eles se reencontram depois de alguns anos e a história é sobre esse processo de amadurecimento e as reflexões sobre tudo o que aconteceu com eles”, diz o quadrinista.


A história de Shuggie Bain. Douglas Stuart. Intrínseca. 

Indicado pelo jornalista e escritor Fernando Scheller no episódio 106.

“O Douglas Stuart ganhou logo de cara, no seu primeiro livro, o Booker Prize de 2020 com essa saga familiar. O que mais me agrada na história é colocar o Shuggie Bain ainda menino e depois adolescente, um personagem LGBT, como o motor da narrativa. Gosto especialmente da relação do personagem com a mãe dele, uma espécie de Blanche Dubois do Tennessee Williams que vive numa Irlanda de muitas dificuldades, pobreza e vício. É um livro que vale muito a pena ler”, diz o escritor.


Autobiografia do vermelho: um romance em versos. Anne Carson. Editora 34.

Indicado pelo escritor Leonardo Piana no episódio 105.

“É um romance escrito em versos em que a autora recria o mito grego de Gerião, o monstro vermelho derrotado por Héracles em uma de suas doze tarefas. Anne Carson conta a história de Gerião como um menino gay apaixonado por Héracles, que a gente também conhece como Hércules, o nome latino do herói. Foi um livro que mexeu muito comigo não só pela beleza da história, mas também pelo modo como a autora resolveu contar, numa linguagem surpreendente, simples e ao mesmo tempo com uma carga de imagens poderosa”, diz o escritor.


Viagem solitária – A trajetória pioneira de um transexual em busca de reconhecimento e liberdade. João W. Nery. Leya. 

Indicado pela educadora e autora Zênite Astra no episódio 104.

“João foi uma figura importantíssima para a história LGBT+ do Brasil. Ele ficou conhecido por começar o processo de transição durante a ditadura militar e por ter passado por cirurgias afirmativas de gênero numa época em que esses procedimentos eram ilegais. Também teve destaque como pessoa pública e ativista e serviu de referência para uma geração de pessoas transmasculinas”, diz a educadora.


As vantagens de ser você. Ray Tavares. Galera. 

Indicado pelo escritor e roteirista Juan Jullian no episódio 103.

“É uma comédia com um romance sáfico sobre duas amigas que estão naquela fase super identificável, aquela crise dos 22 anos, quando você acabou de sair da faculdade. Elas empregam uma roadtrip até o Jalapão, onde acham que vão encontrar todas as respostas para os problemas que elas estão tendo em um retiro de um guru meio charlatão. Uma jornada de amadurecimento muito divertida, feita com muito bom humor.”, conta o escritor.