Repertório 451 MHz,

Só sexo?

O psicanalista André Alves e a escritora Tati Bernardi discutem as neuroses e as angústias de nossas vidas sexuais no 451 MHz

13set2024

Está no ar o 451 MHz, o podcast da revista dos livros. Neste 119º episódio, os convidados são o psicanalista e podcaster André Alves e a escritora e também podcaster Tati Bernardi. Eles discutem Alguma vez é só sexo? (Zahar, 2024, trad. Vera Ribeiro), novo livro do psicanalista inglês Darian Leader, e também compartilham suas neuroses e angústias após terminada a leitura. O episódio foi realizado com apoio da Lei de Incentivo à Cultura.

André Alves é psicanalista, podcaster e escritor, além de um dos idealizadores do “Vibes em Análise”, podcast de psicanálise e cultura que apresenta junto com Lucas Liedke. No ano passado, o podcast da @floatvibes ganhou uma adaptação impressa com a publicação de Vibes em análise: psicanálise para escutar as vibrações da cultura contemporânea, lançado pela Companhia Editora Nacional. 

A outra convidada deste episódio é conhecida dos leitores da Quatro Cinco Um. Além de escritora e roteirista, Tati Bernardi é autora de Depois a louca sou eu (2016) e Você nunca mais vai ficar sozinha (2020) — resenhado por Paula Carvalho na Quatro Cinco Um, ambos publicados pela Companhia das Letras. Bernardi também apresenta os podcasts “Meu inconsciente coletivo” e “Se ela não sabe, quem sabe?”, da Folha de S.Paulo

Nessa conversa do 451 MHz, os dois discutem o que mais está envolvido no sexo e compartilham as neuroses que surgiram da leitura de Alguma vez é só sexo?.

Um cachimbo não é um cachimbo

“Aprendemos sobre o erótico muito cedo. Descobrimos que a boca não serve só para obtermos o leite materno, mas que também sentimos prazer”, diz André Alves. O psicanalista parte desse exemplo para refletir sobre como as coisas nem sempre são apenas o que aparentam ser, especialmente ao se tratar de sexo.

Essa questão, amplamente discutida na psicanálise, é um dos temas centrais de Alguma vez é só sexo? e deste episódio do 451 MHz. “O que o livro faz é ampliar a nossa gramática afetiva, deixando mais rico o nosso vocabulário. Pensar no sexo a partir da satisfação, da excitação, da ansiedade, do medo, da culpa e do poder”, comenta Alves

Os convidados ainda resgataram a questão sobre a existência de uma conotação sexual em tudo — além da resposta de Freud, que “Às vezes um charuto é apenas um charuto” — e a angústia que isso gera. Também sobre a mente e racionalizações que fazemos, Tati Bernardi também se questiona: “estou eu vivendo uma sexualidade livre ou estou vivendo uma sexualidade que não imagino o quão presa está a todo o patriarcado?”.

De acordo com os entrevistados, a racionalização pode matar a fantasia e a ilusão — elementos necessários para o enlace sexual (e neurótico) entre duas pessoas. “De certa forma, eu preciso dessa fantasia. Se o outro não está no jogo do engano comigo, eu estou solitária nele”, diz Bernardi.

Asfalto selvagem: Engraçadinha, seus amores e pecados, de Nelson Rodrigues

Eles ainda citam o escritor e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues e o folhetim Asfalto selvagem: Engraçadinha, seus amores e pecados (HarperCollins, 2021), que diz que “a educação sexual é para preás, nós precisamos é de uma educação para o amor”.

Psicanálise de boteco

Segundo Alves, no Brasil há uma cultura psicanalítica presente no debate público e privado, especialmente nas capitais do país. “Os termos psicanalíticos passaram a fazer parte do nosso tempo”, afirma. “Um tempo em que parece estar difícil darmos conta das formas de sofrimento e das faltas de sentido da vida contemporânea.”

“Tornar palatável e acessível não tem nada a ver com diminuir a psicanálise”, afirma Bernardi. A popularização da psicanálise foi um objetivo do próprio Freud, e o psicanalista inglês Winnicott chegou a ter um programa de rádio bastante popular, como também lembra a escritora. 

“Mas como fazer que a psicanálise circule sem abrir mão do rigor?”, questiona André Alves. “Como permitir o desencastelamento da psicanálise sem transformá-la em mais uma estratégia de desempenho neoliberal ou até mesmo em algo que desconsidere e demita os sujeitos de sua subjetividade?”

Capa do podcast “Psicanálise de Boteco”, do Alexandre Patrício

Bernardi recomendou aos ouvintes do 451 MHz o podcast Psicanálise de Boteco, apresentado pelo professor e psicanalista Alexandre Patrício. O podcast simula uma mesa de bar e busca entender e explicar a psicanálise de uma forma mais leve e prática, evitando jargões acadêmicos.

Mais na Quatro Cinco Um

Em janeiro, André Alves resenhou A mulher em mim (Editora Buzz), as memórias da cantora Britney Spears para a edição #78 da Quatro Cinco Um

Colaboradora antiga da revista dos livros, em 2019, Tati Bernardi resenhou a coletânea Cat Person e outros contos (Companhia das Letras, 2019), da norte-americana Kristen Roupenian. Em 2020, ela também resenhou Seu paciente favorito: 17 histórias extraordinárias de psicanalistas (Perspectiva, 2020), livro da jornalista francesa Violaine de Montclos. 

O melhor da literatura LGBTQIA+

O 119º episódio do 451 MHz traz uma dica de Aline Zouvi, autora de Pigmento (Quadrinhos na Cia., 2024). A quadrinista indica Condições ideais de navegação para iniciantes, nova coletânea de contos da escritora gaúcha Natália Borges Polesso, publicada pela Companhia das Letras.

Condições ideais de navegação para iniciantes, de Natália Borges Polesso

“Para quem já conhece o Amora, da Natália Borges Polesso, eu quero indicar o novo livro de contos dela. Esse conjunto é igualmente apaixonante ao anterior, Natália é uma grande inspiração para mim e para várias autoras e mulheres sáficas. Ela sempre faz uma representação muito honesta e íntima da vivência da mulher lésbica e bissexual. Uma narrativa que te faz se sentir próxima das personagens, um poder de identificação muito forte”, conta Zouvi.

Confira a lista completa de indicações do podcast 451 MHz no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+

O 451 MHz é uma produção da Associação Quatro Cinco Um.

Apresentação: Paulo Werneck

Produção: Mariana Shiraiwa e Mauricio Abbade

Edição: Igor Yamawaki

Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi

Finalização e mixagem: Igor Yamawaki

Identidade visual: Quatro Cinco Um

Para falar com a equipe: [email protected]