Agora, Agora e mais Agora

Está no ar o 116º episódio do 451 MHz. Nesta edição especial, reunimos duas entrevistas com o historiador e ensaísta Rui Tavares, que acaba de lançar dois livros no Brasil: o monumental Agora, agora e mais agora e o Esquerda e direita: guia histórico para o século XXI. 

Na primeira parte da conversa, conduzida pela podcaster e escritora Sofia Nestrovski, do Vinte Mil Léguas, Tavares trata de temas como a filosofia árabe, as tramas da escrita e o otimismo e o pessimismo. Na segunda parte, em conversa com o cientista político Sergio Fausto e a escritora Camila Rocha, o historiador português fala sobre o conceito histórico de esquerda e direita, seus extremismos e também comenta o atual estado político do Brasil e do mundo. 

As entrevistas que compõem o programa foram realizadas n’A Feira do Livro, em São Paulo, no final de junho, nas mesas “Agora, agora e mais agora” e “Esquerda e direita sem extremos”. O episódio é realizado com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura.

Historiador e político, Rui Tavares acaba de lançar Agora, agora e mais agora (Tinta-da-China Brasil), alfarrábio que narra um milênio de histórias, do mundo árabe antigo à Europa do século 21, e é resultado do podcast produzido pelo jornal português PÚBLICO durante a pandemia de covid-19. Além disso, seu livro Esquerda e direita: guia histórico para o século XXI, acaba de ser reimpresso pela Tinta-da-China Brasil, selo editorial da Associação Quatro Cinco Um. 

Sofia Nestrovski é mestre em Letras pela USP e é autora de A história invisível (Fósforo, 2022). Ela também é co-roteirista e apresentadora, ao lado da Leda Cartum, do Vinte Mil Léguas,  podcast de ciências e livros feito pela livraria Megafauna, com o apoio do Instituto Serrapilheira, do qual a Quatro Cinco Um já foi uma das parceiras. 

Cientista político e diretor-executivo da Fundação FHC, Sergio Fausto também foi assessor dos Ministérios do Planejamento e Orçamento, Desenvolvimento e Comércio Exterior e Fazenda, sucessivamente, nos governos de Fernando Henrique Cardoso. 

Já a Camila Rocha é mestra e doutora em ciência política pela USP e autora do livro Menos Marx, mais mises, publicado pela Todavia em 2021. O livro de não ficção é uma investigação sobre o liberalismo e a nova direita no Brasil. 

Confiar no futuro

Tavares e Nestrovski falam sobre a importância das experiências pessoais na bagagem de um escritor e também do papel da arte na sociedade, entre outros assuntos. Já no segundo bloco, a conversa de Tavares, Fausto e Rocha gira em torno dos conceitos históricos de esquerda e direita.

Imaginar o futuro

Na primeira parte do programa, cujo áudio foi gravado na conversa realizada entre Rui Tavares e Sofia Nestrovski n’A Feira do Livro, em 30 de junho, Rui Tavares contou que foi a confiança no futuro que o guiou na criação do podcast Agora, Agora e Mais Agora para o jornal português PÚBLICO.

“Te ouvindo e lendo o que você escreve me dá sempre a impressão de que você olha para o passado porque você confia no futuro”, diz Sofia Nestrovski sobre a produção do historiador.

Olhando para o passado sem se deixar levar pela nostalgia, Rui Tavares acredita que um futuro melhor existirá se começarmos a abandonar o pessimismo e encarar as situações que vivemos com seriedade. “Na esquerda, demitimos nossa função básica, a de imaginar o futuro”, diz Tavares, que teve o podcast transformado em livro, publicado agora deste lado do Atlântico pela Tinta-da-China Brasil.

“A filosofia é uma das maneiras de atingirmos a felicidade enquanto a democracia é a maneira de conseguirmos distribuir o poder de uma maneira em que todos mandam um pouquinho e, portanto, ninguém manda uns nos outros”, afirma o historiador, que completa dizendo que assim criamos “uma sociedade melhor para as pessoas que vivem nela”.

Durante a criação de seu podcast, Tavares seguiu duas regras fundamentais. A primeira era escrever apenas sobre aquilo que realmente o interessava. A segunda era garantir que seu texto fosse acessível a qualquer leitor, independentemente do tema abordado. “Um bom exercício para escritores é escrever sempre para a pessoa que estiver menos interessada no tema que você escreve”, afirma. “Pensem em uma vizinha do seu prédio, da sua rua. Escreva para ela.”

Esquerda e direita sem extremos

Em Esquerda e direita: guia histórico para o século XXI, que está sendo reimpresso pela Tinta-da-China Brasil, Rui Tavares discute os novos desafios da democracia e traz uma pesquisa arqueológica sobre as definições de esquerda e direita, tema sobre o qual conversou com Sergio Fausto e Camila Rocha em 29 de junho, n’A Feira do Livro.

De acordo com o escritor, o livro tenta “explicar de forma tão justa quanto possível por que é que a esquerda é de esquerda, por que é que a direita é de direita” usando exemplos históricos formativos, como a queda da monarquia durante a Revolução Francesa. Ele comenta ainda como as definições de esquerda e direita evoluíram desde os girondinos e jacobinos do século 18 até os dias atuais e como o embate característico entre esquerda e direita, fundamental para a saúde da democracia, se diluiu. 

Diante desse cenário, Sergio Fausto questiona: “Como podemos recuperar essa dupla dinâmica que, com muitos altos e baixos, possibilitou enormes avanços ao longo dos últimos três séculos?”. O futuro é um tema-chave na política, de acordo com o cientista político. 

“Talvez nós não tenhamos vivido, pelo menos na história da modernidade, um momento de uma incerteza tão radical em relação ao futuro”, afirma Fausto, ao diagnosticar a perda de capacidade contemporânea de apontar um futuro. Em um contraponto otimista, Rui Tavares diz que “tudo que uma sociedade precisa para se reinventar é decidir reinventar-se”. 

Mais na Quatro Cinco Um

Em 2022, na época do lançamento d’O pequeno livro do Grande Terremoto, a Quatro Cinco Um publicou uma resenha, por Pedro Paulo Pimenta, e um trecho do livro em que Rui Tavares descreve os impactos do Terremoto de 1755, em Lisboa, em Portugal e no mundo. 

No final do ano passado, Sergio Fausto escreveu na revista dos livros sobre o pré e o pós-junho de 2013: livros de fôlego sobre as manifestações que mobilizaram o país trazem ricas análises dos conflitos que culminaram nos protestos e suas consequências, dez anos depois.

Colaboradora frequente da revista, Sofia Nestrovski resenhou em 2023 o livro Contos de fantasia chineses (Moinhos), de Pu Songling. Ela também resenhou em 2022 a coletânea de textos Direito à vagabundagem: as viagens de Isabelle Eberhardt (Fósforo, 2022), organizada pela jornalista e historiadora Paula Carvalho. 

Colunista da revista dos livros, Paulo Roberto Pires cita Menos Marx, mais Mises: o liberalismo e a nova direita no Brasil (Todavia, 2021), livro da cientista política Camila Rocha sobre a nova direita brasileira, em sua coluna “A coragem dos covardes”.

O melhor da literatura LGBTQIA+

Neste episódio, o poeta Fabrício Corsaletti, autor de Engenheiro Fantasma (Companhia das Letras), vencedor do Prêmio Jabuti de Livro do Ano em 2023, indica a coletânea de poemas Veludo rouco, de Bruna Beber, publicado pela mesma editora também no ano passado. 

“Os poemas tratam da infância de Bruna Beber na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e também no bairro onde ela mora em São Paulo, a Barra Funda. O que mais me interessa no livro é acompanhar sua imaginação, plasmando numa linguagem própria, muito lírica e ao mesmo tempo cheia de humor, usando um vocabulário quase rasteiro, mas dando a ele um sentido solene”, conta Corsaletti.

Veludo Rouco foi resenhado pelo jornalista e escritor Carlos Marcelo na edição #77 da Quatro Cinco Um. 

Confira a lista completa de indicações do podcast 451 MHz no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+. 

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