Repertório 451 MHz,
A poesia de Victor Heringer
Alice Sant’Anna e Ricardo Domeneck conversam sobre a vida e a obra do escritor carioca
22nov2024 • Atualizado em: 21nov2024Ouça mais Episódios
Romancista, cronista e poeta premiado, Victor Heringer foi também um artista que gostava de experimentar diferentes linguagens, além de um observador dos pequenos e grandes detalhes da vida cotidiana. Neste 124º episódio do 451 MHz, a poeta e editora Alice Sant’Anna e o também poeta Ricardo Domeneck falam sobre o jovem escritor cuja obra continua a ser descoberta e reconhecida seis anos após sua morte precoce, aos 29 anos. O episódio foi realizado com apoio da Lei de Incentivo à Cultura.
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Alice Sant’Anna é poeta e editora. Ela é autora de Pé do ouvido, de 2016, e do recém-lançado Acrobata — ambos publicados pela Companhia das Letras. Atualmente, trabalha como editora na Companhia das Letras e foi uma das grandes responsáveis pela publicação póstuma da coletânea Não sou poeta, organizada pelo irmão do autor, Eduardo Heringer.
Ricardo Domeneck também é poeta, além de artista visual e colaborador da Quatro Cinco Um. No ano passado, publicou pela Editora 34 a coletânea de poemas Cabeça de galinha no chão de cimento. Ele também editou por muitos anos, ao lado de Angélica Freitas, Fabiano Calixto e Marília Garcia, a revista literária ‘Modos de Usar & Co.’. Ele é autor do texto “Entre o maiúsculo e o minúsculo”, sobre a poesia de Heringer, presente na recém-lançada edição da Companhia das Letras.
Os dois falam sobre a vida e morte do escritor, suas incursões poéticas e também sobre como continuar seu legado.
Não sou poeta
“Muita gente não sabe que o escritor Victor Heringer começou como poeta”, conta Domeneck já no começo do episódio.
Antes de publicar os romances Glória (7Letras, 2012) e O amor dos homens avulsos (Companhia das Letras, 2016), Heringer estreou na poesia em 2011 com a coletânea Automatógrafo, editada pela 7Letras. O escritor mantinha um canal no YouTube, de mesmo nome, no qual publicava vídeo-poemas narrados por ele mesmo.
Heringer gostava de experimentar com a linguagem, misturava fotografia com poesia, vídeo e desenho. “Victor me parece ser um escritor muito completo. Ele fazia romance, crônica, poesia, vídeo, desenho, coisas só para a internet”, conta Alice Sant’Anna. “Ele viveu pouco, morreu antes de completar 30 anos, e ainda assim conseguiu construir uma obra sobre a qual a gente ainda vai ter muito o que falar”, diz Alice Sant’Anna
Para Domeneck, o texto de Heringer é um texto que respira: “parece um pulmão que infla”. “Ele fala de coisas cosmogônicas, a imagem do astronauta, o universo, mas sempre voltando para o corriqueiro, o pequeno. Ele tem o interesse nesses dois aspectos, entre o maiúsculo e o minúsculo.”
Elegância simples
“Não tem como não falar da tristeza que é trabalhar editando os livros dele sem poder estar com ele presente entre nós”, diz Sant’Anna ao relembrar do suicídio do escritor em 2018. “Victor era essa pessoa gentil, muito elegante e atenciosa. Uma curiosidade verdadeira.”
“Para mim, é muito difícil não ver certas simbologias: Heringer é um poeta que nasceu em 1988, junto com a Constituição. Ele nasce, se educa e se forma na Nova República, além de ter morrido em 2018, ano que tem certa carga para nós”, completa Domeneck.
A morte, afirma Sant’Anna, era um tema recorrente para o jovem escritor. “Victor falava da morte com uma inteligência muito própria. Não era medo, era quase brincando com ela. Tratando ela como se estivesse ali sentada no sofá, como se fosse uma companhia, uma constante.”
A poeta diz que reler os poemas após a morte do autor desperta nela novas chaves de leitura. “A morte precoce traz uma atmosfera muito sedutora. A gente tem interesse em ler o que a pessoa escreveu, além de ficar se perguntando: ‘Por que ela escreveu aquilo?’ O que aconteceu?’.”
“Uma das coisas que eu sinto no que ele escreveu é o elogio da elegância simples”, conta Domeneck. “Talvez seja uma das únicas coisas que nos resta no Brasil, a elegância do menor, do não megalomaníaco.”
Voz do autor
Além da entrevista com Sant’Anna e Domeneck, este episódio do 451 MHz conta com a leitura de poemas de Heringer na voz do próprio escritor.
Os áudios são de um vídeo publicado em 2011, no canal da revista literária Modo de Usar & Co. No programa, ele lê os poemas ‘Intervalo comercial entre duas comédias’, ‘Posições desconfortáveis’ e ‘Trailer’.
Mais na Quatro Cinco Um
Alice Sant’Anna foi fotografada pelo colunista Renato Parada para a coluna Folha de Rosto, na edição de setembro da Quatro Cinco Um.
Em 2022, para a edição #58 da revista dos livros, Iara Biderman entrevistou Ricardo Domeneck, na seção Fichamento. “Meu tema são as relações humanas e, por minha lírica amorosa ser abertamente homoerótica, não tenho de me preocupar tanto com o engajamento: uma lírica homoerótica num país como o Brasil acaba tendo uma dimensão política.”
O melhor da literatura LGBTQIA+
O episódio traz uma sugestão de Mauricio Abbade, produtor-assistente do 451 MHz e também diretor e roteirista de curta-metragens. Fã do autor tema desse episódio, ele indica O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer, publicado em 2016 pela Companhia das Letras.
“Victor tem um quê de informalidade formalista. Ou, formalidade informal. Ele está sempre brincando e misturando as linguagens. É um livro sobre um homem relembrando uma amizade que teve com outro menino na adolescência. Uma amizade que não era somente uma amizade, era muito mais”, conta Abbade. “Um amor avulso, impossibilitado, em um subúrbio carioca quente, úmido e longe do mar. É um livro que fala sobre crescer, olhar para o passado e as coisas que tocam a gente.”
Confira a lista completa de indicações do podcast 451 MHz no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.
Para obter um apoio emocional, o Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), atende ligações gratuitas por meio do número 188, que podem ser feitas de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
CRÉDITOS
O 451 MHz é uma produção da Associação Quatro Cinco Um.
Apresentação: Paulo Werneck
Produção: Mariana Shiraiwa e Mauricio Abbade
Edição e mixagem: Igor Yamawaki
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Para falar com a equipe: [email protected]
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