Ilustrações de jesadaphorn. (Imagens: Divulgação)

Listão, Literatura em língua francesa,

A boa safra francófona de 2024

Uma seleção de 45 lançamentos de literatura em língua francesa publicados no Brasil ao longo do ano

17dez2024 • Atualizado em: 20dez2024

O interesse dos leitores brasileiros por livros de autores de língua francesa impulsiona há mais de dois séculos as trocas culturais entre o Brasil e o mundo francófono. Em 2024, a publicação de dezenas de novas traduções nas mais diversas áreas renovou esse apetite por histórias, experiências, perspectivas e reflexões de escritoras e escritores da língua de Flaubert. De Édouard Louis a Louis-Ferdinand Céline, de Annie Ernaux a Simone de Beauvoir, de Marie NDiaye a Camus, a produção francófona segue em alta em nosso país.      

Num fluxo contínuo, todos os meses casas editoriais de pequeno, médio e grande porte vêm lançando títulos variados, desde grandes nomes da literatura contemporânea e ganhadores de prêmios, como o prestigiado Goncourt, até a nova geração que está revigorando a cena literária — sem esquecer de autores renomados que tiveram livros menos conhecidos finalmente editados no Brasil. 

A lista a seguir traz uma mostra do que a literatura francesa e de outros países francófonos ofereceu aos leitores do português brasileiro em 2024. Selecionamos 45 lançamentos do ano em ficção, não ficção, literatura infantojuvenil, quadrinhos e poesia escritos originalmente em francês. Aproveite!

Ficção

Velar por ela. Jean-Baptiste Andrea.
Trad. Julia da Rosa Simões • Vestígio • 416 pp • R$ 79,80
Romance 

Vencedor do prêmio Goncourt de 2023, este romance do escritor e cineasta francês, autor de O pianista da estação (Vestígio, 2022) explora a relação amorosa entre dois jovens nascidos em condições sociais opostas. Ambientada na Itália durante a ascensão do fascismo, a história acompanha a jornada de Mimo enquanto se torna um artista de prestígio e a tentativa de Viola de ser uma mulher independente — e os encontros turbulentos que os cercam ao longo dos anos.

Dois acontecimentos quase simultâneos, lançados ao acaso no caldeirão do outono de 1921, fizeram minha vida explodir novamente. Em 7 de novembro, dia de meu aniversário de dezessete anos, Mussolini criou o Partido Nacional Fascista, destinado a federar os ras, pequenos chefes que espalhavam o terror por todo o país. Neri deve ter visto uma mensagem nisso, pois minhas ferramentas voltaram a desaparecer, voltei a receber cotoveladas quando alguém passava atrás de mim no refeitório, e até mijaram em minha cama. Um dia, Maurizio flagrou Uno caminhando atrás de mim, imitando meu balanço, enquanto todos seguravam o riso. Ele o pegou pelos cabelos e o arrastou até o ateliê de corte, onde o nocauteou e colocou na frente da serra circular, dizendo que da próxima vez ele não teria a mesma sorte. Metti reuniu a todos, furioso, e nos cobriu de perdigotos. Na próxima vez, ele responderia com severidade. Eu não tinha dinheiro – gastava quase tudo nas nossas saídas noturnas – e nenhum lugar para ir. Tive que me calar, e Neri continuou sua campanha, intocável que era. Apenas Uno se manteve na linha e não falava com mais ninguém. Fiquei grato a Maurizio, mas também um pouco ressentido. Sua intervenção dava a impressão de que eu não era capaz de me defender.

Então a carta chegou. Uma manhã, sem fazer alarde, em um sopro de inverno com cheiro de carvão. Meu nome e meu endereço em tinta verde, uma cor de hortelã que só uma pessoa no mundo usava – Viola fazia a própria tinta, uma paixão que lhe restara da fase “química”. Eu a mantive a manhã inteira sob o casaco, e subi correndo na hora do almoço para lê-la em meu quarto, depois de trancar a porta com chave.

Trecho de Jean-Baptiste Andrea “Velar por ela”

Saiba mais sobre o livro

A patroa. Hannelore Cayre.
Trad. Diego Grando • Dublinense • 192 pp • R$ 69,90
Romance • Thriller • Suspense

Da escritora e advogada francesa, este romance vencedor do Prix du Polar Européen e do Grand Prix de Littérature Policière, prêmios franceses focados no gênero policial, explora os conflitos de uma especialista em língua árabe que presta serviços à justiça francesa. Em meio a diversos problemas pessoais e incidentes, ela entra para o mundo do crime com o codinome de “Patroa”.

Guerra. Louis-Ferdinand Céline.
Trad. Rosa Freire d’Aguiar • Intr. François Gibault • Companhia das Letras • 160 pp • R$ 74,90
Romance • Romance histórico

Romance inédito do célebre escritor francês, lançado pela primeira vez em 2022 e escrito cerca de dois anos depois da publicação de Viagem ao fim da noite (1932). A edição inclui imagens dos manuscritos originais e notas explicativas do editor Pascal Fouché. A obra acompanha um soldado ferido durante a Primeira Guerra, do momento em que acorda entre os cadáveres de seus companheiros à fuga para Londres, sempre lidando com os impactos físicos e mentais do conflito.

Claudine na escola. Sidonie-Gabrielle Colette.
Trad. Juçara Valentino • Meia Azul • 282 pp • R$ 79
Romance • Romance biográfico

Originalmente publicado em 1900, é o primeiro volume da série semiautobiográfica da escritora francesa, conhecida por retratar desejos sexuais femininos e a bissexualidade. A personagem-título, uma adolescente de quinze anos, se esquiva dos primeiros cortejos dos homens e inicia uma paixão pela nova professora na escola só para garotas que frequenta.

Querido babaca. Virginie Despentes.
Trad. Marcela Vieira • Fósforo • 280 pp • R$ 89,90
Romance 

A escritora francesa, vencedora do prêmio Honoré de Balzac pela trilogia A vida de Vernon Subutex (v. 1, Companhia das Letras, 2019), faz uma espécie de releitura contemporânea de As relações perigosas, de Pierre Choderlos de Laclos. O romance epistolar da atualidade é criado pela correspondência por e-mail entre uma atriz e um escritor que, entre comentários ácidos e insultos, refletem sobre o movimento #MeToo, assédio sexual, feminismo, masculinidade frágil, envelhecimento e o cotidiano embalado pelas redes sociais.

O visconde de Bragelonne: vol. 1. Alexandre Dumas.
Trad. e intr. Jorge Bastos  • Clássicos Zahar  • 600 pp • R$ 129,90
Romance • Romance histórico • Clássicos

Pela primeira vez traduzido no Brasil, a obra é o primeiro volume da edição comentada do clássico do escritor francês, que narra o final da saga dos mosqueteiros Aramis, D’Artagnan, Porthos e Athos.

Lord Lyllian: missas negras. Jacques Fersen.
Trad. e apres. Régis Mikail • Posf. Jean de Palacio • Ercolano • 296 pp • R$ 116
Romance • LGBTQIA+ 

O romancista e poeta francês, autor de O beijo de narciso, narra a trajetória de um lorde escocês capaz de atrair homens e mulheres, em meio aos julgamentos sobre pessoas LGBTQIA+ no século 19. Inspirado nas experiências íntimas de Fersen, ele próprio envolto em polêmicas por seus relacionamentos com outros homens, o romance reflete sobre as consequências da proliferação de histórias infundadas e fofocas.

A dissociação. Nadia Yala Kisukidi.
Trad. Raquel Camargo e Mirella Botano • Bazar do Tempo • 288 pp • R$ 86 
Romance • Realismo mágico

Primeiro romance da filósofa e escritora francesa, narra a jornada de uma menina negra que inesperadamente para de crescer e começa a dissociar da realidade na tentativa de encontrar algo que se assemelhe a um lar. Longe dos olhos dos familiares e da dura realidade na periferia do norte da França, a jovem entrelaça a fantasia à busca por direitos e a sensação de pertencimento.

Fui recolhida por minha avó. Quando tinha dois anos. Numa casa de tijolos de um bairro operário. Céus baixos e brancos. Uma névoa contínua durante todo o mês de novembro. Ainda me lembro dos silêncios. O luto que desaba. Minha avó era assombrada pela lembrança de sua única filha. As datas de aniversários floriam como túmulos.

A Segunda Guerra Mundial havia despedaçado aquela mulher. O desaparecimento de sua filha, anos mais tarde, a destruíra por completo. Nos primeiros meses do conflito mundial, um tiro de canhão ceifou seu marido. Pouco antes do armistício — um belo azar. Quando a paz dos covardes foi proclamada, começaram a gritar por toda parte que era preciso renovar o país.

A alma da nação fora estragada pelo socialismo e pelo judaísmo. Era preciso encontrar valores essenciais. Capitular, um mal necessário. A avó levava no pescoço um medalhão de Santa Rita — santa do Impossível. Ela nunca parou de rezar. Apesar da desolação, a vida se desenvolvia em seu ventre. Uma vida que batia com o pé e desafiava o barulho das bombas e dos canhões. Minha mãe nasceu no meio da guerra. Sem pai. Em um mundo que só sonhava com ruínas. Ela se tornou o objeto de todas as dedicações, de todas as atenções. Um nascimento é uma bênção.

Trecho de Nadia Yala Kisukidi “A dissociação”

Saiba mais sobre o livro

Mudar: método. Édouard Louis.
Trad. Marília Scalzo • Todavia • 240 pp • R$ 74,90
Romance • Romance autobiográfico • LGBTQIA+

Em uma espécie de ensaio, o autor francês narra de forma crua as dificuldades enfrentadas durante sua infância e sua adolescência (pobreza material, violência, homofobia) e a maneira como se distanciou de sua família e de seus amigos, agarrando-se aos estudos para se libertar da condição de operário fabril. Ele lê sem parar, janta com aristocratas e passa as noites com milionários para se tornar uma outra pessoa e erradicar de vez um passado que abomina.

Será que preciso contar para você o começo da história mais uma vez? Cresci num mundo que rejeitava tudo o que eu era, e vivi isso como uma injustiça porque — é o que repetia para mim centenas de vezes por dia, até cansar —, vivi o mundo como uma injustiça porque eu não tinha escolhido ser o que era.

Já contei, mas devo retomar tudo na ordem, prometi a mim mesmo que faria isso, desde os primeiros anos da minha vida o problema foi diagnosticado: quando comecei a me expressar, a aprender a falar, a me mover no mundo, ouvi as interrogações se multiplicarem à minha volta. Por que o Eddy fala assim, igual a uma menina, mesmo sendo menino? Por que ele anda igual a uma menina? Por que vira as mãos quando fala? Por que olha desse jeito para os outros meninos? Será que ele não é meio viado?

Eu não tinha escolhido andar daquele modo, falar daquele modo, não entendia por que tinha aqueles trejeitos — é o que as pessoas da cidade diziam, Os trejeitos do Eddy, o Eddy fala cheio de trejeitos —, não entendia por que esses trejeitos haviam sido impostos a mim, ao meu corpo. Não sabia por que era pelos corpos de outros meninos que eu era atraído e não pelos das meninas como era esperado de mim. Eu era prisioneiro de mim mesmo. À noite, sonhava em mudar, em me tornar outra pessoa, e talvez tenha sido nesses primeiros anos da minha vida que a ideia da mudança se tornou tão importante para mim.

Trecho de Édouard Louis “Mudar: método”

Saiba mais sobre o livro

Vermelha imperatriz. Léonora Miano.
Trad. Carolina Selvatici e Emilie Audigier • Pallas • 96 pp • R$ 118
Romance • Ficção especulativa 

Vencedora dos prêmios Goncourt, Femina e Grand Prix du Roman Métis, a escritora franco-camaronesa ficcionaliza um novo continente africano nos anos 2100, desenvolvido, autônomo e quase unificado. Nesse futuro, onde a situação se inverteu e os moradores da antiga Europa buscam abrigo na África, um enlace amoroso proibido nasce e pode se tornar um perigo para o Estado.

Kibogo subiu ao céu. Scholastique Mukasonga.
Trad. Larissa Esperança • Nós • 168 pp • R$ 75
Romance • Romance histórico

Finalista do National Book Awards de 2022 na categoria Literatura Traduzida, este romance da escritora franco-ruandesa, vencedora do prêmio Renaudot, retrata um povo que vive o conflito entre as antigas crenças de Ruanda e a determinação de missionários para substituí-las pelo cristianismo europeu.  

Coração apertado. Marie NDiaye.
Voz de Alice Carvalho • Trad. Paulo Neves • Dir. Daniela Thomas • Supersônica Edições • Versão impressa: Cosac Naify (fora de catálogo) • Tempo de escuta: 7hr56min • R$ 53
Romance

Audiolivro do romance da escritora francesa, vencedora dos prêmios Goncourt em 2009 e Marguerite Yourcenar em 2020 pelo conjunto da obra, é narrado pela atriz, dramaturga e roteirista potiguar Alice Carvalho e dirigido pela cineasta Daniela Thomas. O material foi adaptado a partir da tradução de Paulo Novaes para a edição impressa da Cosac Naify, lançada em 2010, e descreve o estranho cotidiano de um casal de professores de uma escola primária em Bordeaux, no sudoeste da França, após serem confrontados com a inesperada hostilidade dos amigos, vizinhos, alunos, colegas de trabalho e da comunidade em geral.

Os meninos adormecidos. Anthony Passeron.
Trad. Camila Boldrini • Fósforo • 208 pp • R$ 79,90
Romance • Romance biográfico 

Romance de estreia do professor de literatura francês vencedor do prêmio Wepler-Fondation La Poste, baseia-se em pesquisa sociológica e na vida de sua família na década de 80, quando os primeiros casos de aids foram diagnosticados. Inspirado e elogiado por Annie Ernaux, o autor traça a ascensão social da família, os primeiros sintomas da doença, as pesquisas médicas que corriam contra o tempo e o trauma causado pelo preconceito e pela desinformação.

Em resenha na Quatro Cinco Um, Fred Linardi escreve: “A dor é evidente em todos os familiares, em especial o pai de Anthony, irmão mais novo de Désiré. É também silenciosa. Todas as vezes em que perguntava sobre o passado do tio, o narrador colhia do pai traços ressentidos e nada muito além de mandíbulas crispadas. Pudera: Désiré era o primogênito, numa época em que o favoritismo do primeiro filho era senso comum. Designado a seguir os passos e as duras conquistas dos ascendentes, no entanto, o filho com o futuro traçado resolveu se desgarrar”. Leia na íntegra.

Senhor Vênus. Rachilde.
Trad. Flávia Lago • Apres. Helena Vieira • Pref. Maurice Barrès • Ercolano • 212 pp • R$ 99,80
Romance • Romance histórico

Escrito na segunda metade do século 19, é o romance mais famoso da escritora francesa Rachilde (pseudônimo de Marguerite Vallette-Eymery), figura do movimento literário do decadentismo e uma das diretoras da revista literária Mercure de France. No livro, que teve suas cópias recolhidas em Paris, Rachilde aborda convenções e identidade de gênero, sexualidade e desejos sexuais ao construir uma personagem similar a si mesma: uma nobre da alta sociedade parisiense que veste roupas e pratica esportes masculinos, e rompe com as normas conservadoras e tradicionais da época.

«Arte». Yasmina Reza.
Trad. Pedro Fonseca • Âyiné • 120 pp • R$ 79,90
Teatro • Comédia 

Autora de O deus da carnificina (Âyiné, 2021) e vencedora do Prêmio Moliére, a dramaturga e escritora francesa narra uma comédia ácida sobre a precificação e os sentidos da arte por meio da amizade entre três pessoas que pouco a pouco revelam traços mais desagradáveis das próprias personalidades.

O primeiro sonho do mundo. Anne Sibran.
Trad. Adriana Lisboa • Relicário • 184 pp • R$ 65,90
Romance • Comédia

Primeiro romance da escritora francesa lançado no Brasil, narra o encontro ficcional entre Paul Cézanne e o oftalmologista Barthélemy Racine. Sofrendo de catarata, o pintor pós-impressionista recorre ao tratamento proposto pelo médico, inventor de uma máquina que retira o cristalino do olho opaco. O contato com a esposa de Racine, uma indiana cega de nascença que vê aquilo que não pode ser visto a olho nu, revela a Cézanne as belezas de um mundo misterioso. 

Quando Paul Cézanne acorda nessa noite, não reconhece mais seu quarto. O velho armário, a cadeira recém-reempalhada onde põe as roupas: tudo se afoga nessa grande escuridão, uma escuridão densa e sem nuances que engole também a cama.

Puxando o travesseiro, ele ergue os ombros, encosta-se na cabeceira. Sob suas mãos, a lã áspera de uma colcha. Ele sente o cheiro de seu cachimbo frio, pousado na mesa de cabeceira. Mas, voltando-se para a cômoda, não encontra mais o grande espelho, com o reflexo da lamparina a gás, plantado lá embaixo na rua.

Só então entende que seus olhos não enxergam mais.

Estavam vermelhos. Fazia dois dias que lacrimejavam. Ontem, a criada os aliviou aplicando nas pálpebras compressas de água de centáurea. Ele foi se deitar sentindo-se quase bem. Em todo caso, enxergava melhor.

O que aconteceu enquanto dormia? Ele coloca as mãos sobre os olhos. Desde que começou a pintar, sabe interrogar com a ponta dos dedos um lacrimejamento, prever o cansaço. Mas desta vez o problema não vem de seus olhos. É outra coisa. Uma sensação que o desconcerta e enlouquece: a impressão de que suas pupilas batem febrilmente no vazio… sem encontrar aonde se agarrar.

 

Trecho de Anne Sibran “O primeiro sonho do mundo”

Saiba mais sobre o livro

O país dos outros. Leïla Slimani.
Trad. Dorothée de Bruchard • Intrínseca • 320 pp • R$ 69,90
Romance • Romance histórico

Primeiro livro de uma trilogia inspirada na história familiar da própria escritora franco-marroquina, vencedora do Goncourt por Canção de ninar (Tusquets, 2018), conta a saga de uma jovem francesa e um soldado marroquino que se apaixonam durante a Segunda Guerra Mundial e ,depois do conflito, ao se instalarem no Marrocos ocupado pela França, precisam lidar com o colonialismo, o racismo e outros obstáculos, sobretudo para as mulheres. 

A decisão. Karine Tuil.
Trad. Lucília Teixeira • Paris de Histórias • 256 pp • R$ 79,90
Romance • Thriller • Suspense

Vencedora do prêmio Goncourt pelo romance Coisas humanas (Paris de Histórias, 2023), a escritora francesa tece uma trama a partir de uma juíza de instrução em meio a julgamentos na França, resultados de processos contra terroristas e atentados reinvidicados pelo Estado Islâmico. Entre a vida pessoal e o trabalho, ela se questiona acerca dos limites entre inocência e culpa e das consequências dos traumas do passado dos acusados.

Não ficção

Uma vaga de sonhos. Louis Aragon.
Trad. e posf. Flávia Falleiros • 100/cabeças • 128 pp • R$ 52
Crítica literária 

O poeta e romancista francês, um dos autores que inauguraram o movimento artístico e literário surrealista ao lado de André Breton, descreve a formação do surrealismo como uma resposta libertadora diante do período pós-Primeira Guerra e suas características exploratórias e coloniais.

O conflito: a mulher e a mãe. Elisabeth Badinter.
Trad. Véra Lucia dos Reis • Rosa dos Tempos • 224 pp • R$ 79,90
Ciências sociais • Filosofia • Feminismo

A filósofa francesa compila argumentos sobre maternidade e autonomia das mulheres, escolha por métodos anticoncepcionais, posição no mercado de trabalho e o propósito de ser mãe — que, segundo ela, idealiza obrigações e dilemas que impedem outras possibilidades de maternidade.

Escreva muito e sem medo: uma história de amor em cartas (1944-1959). Albert Camus e Maria Casarès.
Trad. Clóvis Marques • Record • 1288 pp • R$ 299
Biografia 

Reúne cartas trocadas pelo pensador franco-argelino com a atriz franco-espanhola. Eles se conheceram em março de 1944. Em junho, ela protagoniza a peça O mal-entendido, de Camus, e se torna sua amante. Rompem o relacionamento em seguida, mas o retomam em 1948 e ele se estende até a morte de Camus num acidente automobilístico. Nos textos, ambos falam de seus trabalhos (ela frequentemente estava em turnê) e seus sentimentos.

O livro foi resenhado por Caio Liudvik na revista dos livros: “‘Não me deixe’, apela Camus a Maria, ‘não posso imaginar nada pior que te perder. Que poderia eu fazer agora sem esse rosto em que tudo me comove tão profundamente, essa voz e também esse corpo contra mim?’. Apesar de tentar convencer Maria de que Francine era para ele como ‘uma irmã’, essa ‘irmã’ engravida de gêmeos (Catherine e Jean), e a atriz decide se afastar.

O acaso os reunirá quatro anos depois. Reencontram-se num bulevar em 1948 e reatam o romance tórrido, que dessa vez resistirá a todos os dissabores, como o anseio frustrado dela, que vez ou outra aflora nas cartas, de se casar e ter filhos com ele. Ou como as crises de depressão e de bloqueio criativo que o acometem quando subjugado pelos sintomas da tuberculose que descobrira aos dezessete anos e que lhe fechara as portas desde então para prazeres como o futebol e desejos como seguir carreira universitária. Em carta de fevereiro de 1950, desabafa para ela: ‘Essa doença contraria muitas coisas em mim, meu gosto pela energia, meu amor ao sol, ao que é leve, etéreo, equilibrado, e também minha enorme sensualidade’”. Leia na íntegra.

V13: o julgamento dos atentados de Paris. Emmanuel Carrère.
Trad. Mariana Delfini • Companhia das Letras • 224 pp R$ 89,90
Jornalismo

O escritor ganhador do prêmio Princesa de Astúrias narra o julgamento dos atentados terroristas ocorridos em Paris em 2015, quando um amigo foi morto no ataque ao jornal Charlie Hebdo, assunto que já tinha tratado em Ioga (Companhia das Letras, 2023). O relato foi construído após Carrère testemunhar durante alguns meses de 2022, em uma sala de audiência, o que aconteceria com os orquestradores dos ataques à casa de shows Bataclan, aos arredores do Stade de France e às esplanadas a leste de Paris, reunindo informações sobre as trajetórias das vítimas e réus do que ficou conhecido como V13, a sexta-feira (vendredi) de 13 de novembro.

Em resenha na Quatro CInco Um, Eduardo Muylaert escreve: “Com V13, Emmanuel Carrère transforma seu relato em outro documento histórico — sobre o mais mortífero atentado na França desde a Segunda Guerra. O estilo de Carrère — o mais instigante escritor vivo, segundo Karl Ove Knausgård — é rotulado ‘romance de não ficção’. Seu livro O adversário, de 2000, é considerado uma espécie de A sangue frio francês, uma referência àquele que é considerado o primeiro romance de não ficção, um pioneiro do novo jornalismo americano, publicado por Truman Capote em 1966.

Carrère escreve a partir da vida pessoal e de fatos e reportagens, sempre com referências políticas e filosóficas. Suas obras, ele define em entrevista à Paris Review, ‘são construções novelísticas nas quais utilizo todos os tipos de artifícios romanescos, com os quais me esforço para manter constantemente o interesse do leitor, para criar medo, pena, identificação, suspense, e o desejo de continuar virando as páginas. Então, tudo que você tenta fazer num romance, eu tento também, com a única diferença de que não é ficção. […] Agora, muda alguma coisa o fato de o que estou escrevendo ser verdade? Sim, tenho certeza que sim’”. Leia na íntegra.

A nostalgia: quando, afinal, estamos em casa?. Barbara Cassin.
Trad. e posf. Cláudio Oliveira • Quina • 144 pp • R$ 58
Ciências sociais • Filosofia

Agraciada pela Academia Francesa com o Grand Prix de Filosofia pelo conjunto da obra, a filósofa e filóloga francesa reflete sobre a nostalgia e sua relação com o tempo, morte, eternidade, língua materna e a ideia de pátria a partir de análise da obra de Homero, Virgílio e Hannah Arendt.

Mapas e ficções: séculos XVI a XVIII. Roger Chartier.
Trad. Pedro Paulo Pimenta • Editora Unesp • 198 pp • R$ 69
História • Crítica literária

O francês especialista em história do livro aborda as origens e os usos de mapas na literatura, analisando clássicos como Dom Quixote, As viagens de Gulliver e Utopia.

Mitologia dos índios Chulupi. Pierre Clastres.
Org. Michel Cartry e Hélène Clastres • Trad. Ian Packer • Posf. Beatriz Perrone-Moisés • Editora 34 • 200 pp • R$ 74
Ciências sociais • Antropologia

A obra descreve o trabalho de campo do antropólogo e etnógrafo francês Pierre Clastres (1934-1977) empreendido entre 1966-68 no Chaco paraguaio. Entre outros aspectos, apresenta o conjunto de 73 mitos encontrados por Clastres e inclui uma descrição geográfica do local.

Picasso, o estrangeiro. Annie Cohen-Solal.
Trad. Alberto Flaksman • Record • 630 pp • R$ 139,90
Biografia • Arte

Conhecida principalmente pela biografia escrita sobre o filósofo francês Jean Paul-Sartre, Annie Cohen-Solal agora escreve sobre o pintor cubista Pablo Picasso. No livro, a autora francesa fala da vanguarda de Picasso e destrincha principalmente a luta política do artista contra o fascismo. 

O verão de 80. Marguerite Duras.
Trad. Adriana Lisboa • Pref. Anne Brancsy • Relicário • 120 pp • R$ 62,90
Crônica 

Reedição da coletânea de dez crônicas sobre o verão de 1980, publicadas originalmente no jornal Libération e escritas pela romancista e diretora de cinema francesa enquanto via pela sua janela a praia de Trouville-sur-Mer, na Normandia. Em meio a memórias e reflexões pessoais, a vencedora do prêmio Goncourt tece críticas à França e ao mundo na década de 80.

Então, aqui estou, escrevendo para o Libération. Não tenho um tema para este artigo. Mas talvez isso não seja necessário. Acho que vou escrever sobre a chuva. Está chovendo. Chove desde o dia quinze de junho. Deveríamos escrever para um jornal como se estivéssemos andando na rua. Andamos, escrevemos, atravessamos a cidade, ela é atravessada, termina, a caminhada continua, da mesma forma atravessamos o tempo, uma data, um dia, e depois ele é atravessado, termina. Chove sobre o mar. Sobre as florestas, a praia vazia. Não há os guarda-sóis do verão, nem mesmo fechados. O único movimento nos hectares de areia, as colônias de férias. Este ano eles são muito pequenos, parece-me. De vez em quando os monitores os soltam na praia, de modo a não enlouquecerem. Eles chegam gritando, atravessam a chuva, correm junto ao mar, berram de alegria, travam batalhas com a areia molhada. Ao cabo de uma hora, estão inutilizáveis, então os levam para dentro, fazem-nos cantar Les lauriers sont coupés [Os louros estão cortados]. Exceto um deles, que observa. Você não quer correr? Ele diz não. Bom. Observa os outros cantarem. Perguntam-lhe: você não quer cantar? Ele diz não. Depois se cala. Chora. Perguntam-lhe: por que você está chorando? Ele diz que se dissesse não entenderiam o que diria, que não adianta dizer.

Trecho de Marguerite Duras “O verão de 80”

Saiba mais sobre o livro

Olhe as luzes, meu amor. Annie Ernaux.
Trad. Mariana Delfini • Fósforo • 80 pp • R$ 64,90
Biografia • Sociologia

A francesa ganhadora do Nobel escreve um tipo de diário-meditação — próximo do formato que costumeiramente faz uso, a autossociobiografia — sobre a influência dos grandes supermercados na sociedade moderna e seu domínio perante a figura da mulher. De maneira analítica e crítica, Ernaux reflete sobre consumo, classes sociais, desejo e a relação complexa entre capitalismo e tempo.

Uma mulher. Annie Ernaux.
Trad. Marília Garcia • Fósforo • 64 pp • R$ 64,90
Biografia

Escrito anos após O lugar, em que conta sobre o pai, narra o momento em que a autora recebeu a notícia da morte da mãe e reconstitui suas memórias da figura materna, mas também da mulher de classe operária que sempre buscou independência. Com episódios de sua própria infância, juventude e vida adulta, Ernaux descreve a viuvez da mãe, a distância entre as duas após a ascensão social da filha e seus momentos finais, quando foi morar numa casa de repouso em decorrência do Alzheimer.

Louis Hostalier: retratos – Senegal, c.1900. Daniela Moreau.
WMF Martins Fontes • 136 pp • R$ 98
História • Fotografia

A historiadora, cientista social e diretora da instituição de pesquisa e exposição Acervo África seleciona algumas das obras do fotógrafo francês Louis Hostalier (1862-1924), que por volta do ano 1900 fez centenas de retratos e perfis ricos em detalhes durante viagens entre a França e a África Ocidental, principalmente no Senegal.

Leonardo, Frida e outros artistas: oito séculos narrados em mais de cem obras de arte. Camille Jouneaux.
Trad. Heci Regina Candiani • Senac São Paulo • 719 pp • R$ 170
História • Arte

A escritora e colunista de cultura francesa faz um recorte da história da pintura a partir de oito séculos de obras, oferecendo fundamentos para a análise da arte e do contexto histórico dos artistas — que vão desde Giotto, Da Vinci e Frida até Banksy.

A nostalgia do sagrado: o retorno do religioso nas sociedades pós-modernas. Michel Maffesoli.
Trad. Eduardo Portanova Barros • PUCPRESS • 298 pp • R$ 65,90
Ciências sociais • Religião

O professor emérito da Sorbonne e sociólogo francês, vencedor do Grand Prix de Ciências Humanas da Academia Francesa, continua a investigação aberta em A palavra do silêncio (Palas Athena Editora, 2022), em que analisa o ressurgimento de símbolos sacros na cultura contemporânea.

O prazer censurado: clitóris e pensamento. Catherine Malabou.
Trad. Célia Euvaldo • Ubu • 128 pp • R$ 59,90
Ciências sociais • Filosofia • Feminismo

A filósofa francesa apresenta um estudo do clitóris e seu apagamento na ciência, arte e história ocidentais. Além de refletir sobre o enigma acerca do órgão, do binarismo e de ondas anteriores do feminismo, a autora teoriza o clitóris não somente como um órgão de prazer, mas também de pensamento.

Em resenha na Quatro Cinco Um, Ligia G. Diniz escreve: “Ao longo dos capítulos, Malabou se dedica a tentar nos convencer de que a distância anatômica e psicomorfológica do clitóris em relação aos outros órgãos sexuais é índice de uma autonomia também social e política — ele não penetra nem é penetrado e se esquiva de qualquer exigência de funcionalidade reprodutiva. Esse distanciamento tem que ser mantido, esclarece Malabou, como imperativo de independência e como abertura simbólica a um novo pensar filosófico, que ela associa ao feminino e que escapa às dinâmicas de poder”. Leia na íntegra.

A outra língua das mulheres. Léonora Miano.
Trad. Carolina Selvatici e Emilie Audigier Pallas 184 pp R$ 75
Ciências sociais • Feminismo

A romancista, dramaturga e ensaísta franco-camaronesa, vencedora dos prêmios Goncourt, Femina e Grand Prix du Roman Métis, traça um ensaio sobre a postura firme e potente das mulheres da África Subsaariana a partir de sua espiritualidade, história e mitos, e da ideia de uma língua comum que emerge entre mulheres quando repelem imposições externas.

Somos animais poéticos: a arte, os livros e a beleza em tempos de crise. Michèle Petit.
Trad. Raquel Camargo • Editora 34 • 192 pp • R$ 65
Ciências sociaisAntropologia

A antropóloga e pesquisadora francesa, coordenadora de programas que analisam as práticas de leitura em situações de crise e guerra, retoma a importância da literatura oral e escrita para a conexão do ser humano com o mundo ao redor. Por meio da reunião de relatos de artistas consagrados e anônimos, a autora de Ler o mundo: experiências de transmissão cultural nos dias de hoje (2019), reflete os papéis da arte como propulsora de vida.

O perfume das flores à noite. Leïla Slimani.
Trad. Francesca Angiolillo • HarperCollins • 128 pp • R$ 54,90
Biografia Ensaio autobiográfico

Em 2019, a escritora franco-marroquina ganhadora do Goncourt com Canção de ninar (Tusquets, 2018) aceitou um convite para passar uma madrugada no museu Punta della Dogana, em Veneza, contemplar as obras de arte em meio ao aroma das damas-da-noite e partir pela manhã. Nesse espaço solene, do novo e do antigo, ela rememora sua vida e os eventos que a definiram como mulher, escritora e filha.

Vida de Henry Brulard. Stendhal.
Trad. Júlio Castañon Guimarães • Autêntica • 432 pp • R$ 101,90
Biografia

Autobiografia do grande escritor francês, que se estende dos primeiros anos em Grenoble à descoberta da Itália, acontecimento que marcaria a vida do autor de O vermelho e o negro. Nessa trajetória, Stendhal relembra em detalhes episódios e personagens dignos de seus melhores romances, como a morte da mãe quando ele tinha sete anos, o pai preocupado apenas com suas ambições sociais e a tia que parecia dedicada apenas a crueldades.

Albert Camus: uma vida. Olivier Todd.
Trad. Monica Stahel • Record • 882 pp • R$ 169,90
Biografia

O jornalista e escritor francês se norteia pelas correspondências pessoais do autor franco-argelino, além de gravações inéditas e entrevistas com familiares e amigos do Nobel de Literatura. Com paralelos a períodos históricos marcantes, como a ocupação da França em países norte-africanos e o nascimento da amizade entre Camus, Sartre e Simone de Beauvoir, Todd descreve o sucesso, a revolta, os relacionamentos conturbados e a firme posição política que o autor de O estrangeiro manteve até o fim da vida.

Infantojuvenil

Você quer brincar comigo?. Claire Dé.
Amelì Editora • 28 pp • R$ 60

O fotolivro da autora francesa reúne uma série de composições fotográficas e ilustradas sobre a infância de crianças unidas por brincadeiras em um dia de sol.

O discurso da pantera. Jérémie Moreau.
Trad. Maria Clara Carneiro • Veneta/Oh! Outra História! • 108 pp • R$ 99,90

Vencedora do prêmio Bologna Ragazzi 2021, a graphic novel do quadrinista francês reúne seis histórias que refletem sobre amizade, memórias, morte e o significado de estar vivo, a partir da narrativa de um búfalo tentando salvar a própria ilha de colidir com um cometa.

Quadrinhos

Céleste e Proust. Chloé Cruchaudet.
Trad. Renata Silveira • Nemo • 256 pp • R$ 119,80
Biografia

Autora de Degenerado (Nemo, 2020), a quadrinista francesa premiada no Festival de Angoulême e ganhadora do Grande Prêmio da Crítica/ACBD retrata a conexão entre Marcel Proust e sua governanta e colaboradora, que exerceu influência no processo de escrita de sua obra-prima Em busca do tempo perdido.

Thelonious Monk! Uma revolução musical na alma. Youssef Daoudi.
Trad. Leo Moretti • Darkside • 352 pp • R$ 99,90
Biografia

O quadrinista marroquino traça a biografia do pianista e compositor de jazz Thelonious Monk (1917-1982), considerado o “Sumo Sacerdote do Bop”, entre os anos 40 e 60. Vencedora do prêmio de Melhor Livro da Academia do Jazz francesa, a HQ narra as primeiras apresentações de rua, o cotidiano com uma doença mental e as amizades que o ajudaram a revolucionar o gênero. 

Odile e os crocodilos. Chantal Montellier.
Trad. Fernando Paz • Comix Zone • 80 pp • R$ 79,90
Aventura Suspense

Autora de Bruxas: minhas irmãs (Veneta, 2023), a quadrinista francesa narra os limites da lei e da justiça feita com as próprias mãos a partir de um ataque a uma atriz, refletindo sobre episódios de violência que costumam penalizar as próprias vítimas — sobretudo as mulheres.

Chumbo. Matthias Lehmann.
Trad. Bruno Ferreira Castro e Fernando Scheibe • Nemo • 368 pp • R$ 119,80
Biografia

Inspirada na história dos familiares do quadrinista franco-brasileiro Matthias Lehmann, a HQ narra a vida de uma família mineira transpassada pela Era Vargas e a ditadura militar. Ambientado numa cidade interiorana de Minas Gerais, o enredo acompanha as diferenças entre os irmãos Severino e Ramires. O primeiro, um militante da esquerda; o segundo, um apoiador dos militares e da ditadura.

Em resenha na revista dos livros, Clara Rellstab escreve: “A decadência de uma família burguesa ao longo de um século é retratada de maneira crua e, por vezes, devastadora ao longo dos quadrinhos. Lehmann não mede esforços ou grafismos para exibir o mais decadente que pode acontecer a seres humanos em situações extremas e também a forma mais bolorenta que a fraqueza de caráter e espírito podem engendrar em alguém. As diferenças de classe destacadas são implacáveis, o racismo está por toda parte e a pobreza é corrosiva. A luta política, entretanto, é onipresente”. Leia na íntegra.

Poesia

Zona e outros poemas. Guillaume Apollinaire.
Trad. Rodrigo Garcia Lopes • Penguin-Companhia • 560 pp • R$ 109,90

Edição bilíngue que reúne poemas dos livros Álcoois e Caligramas, o volume contempla diferentes fases da carreira do artista francês de origem polonesa morto em 1918, que estabeleceu diálogos com as artes plásticas e inspirou os concretistas brasileiros com seus poemas de “escrita-imagem”. 

CLAIR DE LUNE

Lune mellifluente aux lèvres des déments
Les vergers et les bourgs cette nuit sont gourmands
Les astres assez bien figurent les abeilles
De ce miel lumineux qui dégoutte des treilles
Car voici que tout doux et leur tombant du ciel
Chaque rayon de lune est un rayon de miel
Or caché je conçois la très douce aventure
J’ai peur du dard de feu de cette abeille Arcture
Qui posa dans mes mains des rayons décevants
Et prit son miel lunaire à la rose des ventsLua melíflua sobre os lábios dos dementes
Vergéis e burgos estão glutões novamente
Estrelas são abelhas são mesmo delícias
De luminoso mel que pinga das treliças
E eis que docemente elas descem desse céu
Cada raio de luar é um raio de mel
Escondido concebo essa doce aventura
Temo o dardo de fogo dessa abelha Arctura
Que pousa em minhas mãos seus raios fraudulentos
E rouba seu mel lunar da rosa dos ventos

Trecho de Guillaume Apollinaire “Zona e outros poemas”

Saiba mais sobre o livro

Projeto especial com apoio da Embaixada da França no Brasil

Essa seleção de leituras de literatura em língua francesa foi realizada com o apoio da Embaixada da França no Brasil.