Black is beautiful

Está no ar o 55º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. Neste episódio, Paula Carvalho, editora da Quatro Cinco Um, recebe a escritora de livros infantojuvenis que tratam de racismo e direitos humanos, Kiusam de Oliveira, que lançou neste ano Tayó em quadrinhos (Companhia das Letrinhas) e Com qual penteado eu vou? (Melhoramentos), resenhado na edição 50 da revista dos livros. A conversa foi enriquecida com a presença da historiadora e professora Giovana Xavier, autora de História social da beleza negra (Rosa dos Tempos/Record), lançado entrrecentemente. A conversa gira em torno do processo de empoderamento e construção da autoestima de pessoas negras, em especial, das mulheres.

O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! O podcast tem ainda apoio do do banco digital brasileiro C6 Bank, do podcast Rádio Companhia, da Companhia das Letras, do Grupo Editorial Record e da Editora Fósforo.

Beleza Ancestral 

Atualmente, o racismo é visto como um fato social abominável para grande parte da população. Mas quando o assunto é beleza, um conceito vinculado a hierarquias sociais, as primeiras figuras que se formam no imaginário coletivo ainda são de pessoas brancas, magras e de origem europeia. Quantas pessoas já ouvimos dizer que preferem se relacionar afetiva e romanticamente com pessoas brancas? É ingênuo acreditar que o enaltecimento estético de pessoas brancas é apenas uma questão de gosto. Os estereótipos pejorativos formados nos processos colonizatórios não são tão facilmente desconstruídos.
 

A autora Kiusam de Oliveira [Alex Pires/Divulgação]

Infelizmente, quando pensamos no conceito de negritude, muitas vezes ainda o associamos às dores ocasionadas pelo racismo, como se apenas as situações de violência definissem a existência de pessoas negras. Por essa razão, o empoderamento estético negro não é algo superficial. A autoestima negra, e também dos demais grupos étnico-raciais não brancos, é atravessada por questões políticas. Não é a toa que um dos bordões do movimento negro americano da década de 1960 era “Black is Beautiful” (Negro é lindo).

 

 

A ressignificação da concepção de beleza é o principal tema da pesquisa de doutorado feita em 2012 por Giovana Xavier, que resultou no livro História social da beleza negra, trazendo  uma perspectiva que visa romper com padrões hegemônicos. Não é a proximidade com a branquitude que define a beleza de pessoas negras. Inclusive, uma das principais questões que a autora traz são os limites entre autocuidado e o cruel processo de embranquecimento. Por meio de uma análise documental sobre tratamentos de beleza criados por empresas de cosméticos lideradas por mulheres negras nos Estados Unidos no início do século 20, Xavier mostra como a beleza também foi instrumentalizada para a ascensão social e financeira de mulheres como Madam C.J. Walker e Anita Patti Brown (que visitou o Brasil). 

Cabelos crespos, cacheados, lábios grossos, tranças, dreads. As estéticas negras são autônomas e plurais, contam histórias de povos e comunidades diferentes. Com livros que trazem protagonistas negras, Kiusam de Oliveira é fundamental para fortalecer o pensamento de que a ancestralidade é uma possibilidade de cura psíquica através da literatura infantojuvenil. Ela critica o preconceito que esse tipo de literatura enfrenta, por se achar que “é fácil” escrever para crianças, e destaca a sua trajetória acadêmica e de experiência em sala de aula, além do aval da espiritualidade, para compor suas histórias.

Mais na Quatro Cinco Um

Kiusam de Oliveira foi entrevistada na ocaisão do lançamento de O black power de Akin, além de ter sido retratada por Renato Parada na coluna Folha de Rosto na edição 35 da revista dos livros. A relação entre cabelo e o empoderamento de crianças negras foi abordada na edição 34, na resenha escrita por Stephanie Borges sobre o livro Amor de cabelo.

Na edição 29 da Quatro Cinco Um, a voz e escrita de mulheres negras foi ressaltada na resenha de Isabela Reis sobre o livro Memórias da plantação — Episódios de racismo cotidiano da autora Grada Kilomba. A releitura dos diários de Carolina Maria Jesus por Stephanie Borges, presente na edição 48, discute os espaços de liberdade e de expressão da subjetividade e sensibilidade das mulheres negras. No episódio 51 do 451 MHz, a bailarina Ingrid Silva compartilhou suas vivências enquanto bailarina negra e sua relação com a maternidade.

Narradores do Brasil

Na coleção de episódios roteirizados Narradores do Brasil, o 451 MHz faz breves incursões no formato narrativo para explorar a vida e a obra de nossos grandes autores. Ouça o último episódio sobre o casal Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop. Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, Nelson Rodrigues, Paulo Freire e Caio Fernando Abreu foram os outros autores contemplados nessa coleção.

O melhor da literatura LGBTI+

No quadro, que tem apoio do C6 Bank, a escritora Paula Fábrio recomenda o livro Nossos ossos (2013), de Marcelino Freire, publicado pela editora Record, e ganhador do Prêmio Machado de Assis de melhor romance pela Biblioteca Nacional. Através de uma prosa poética, leve e divertida, o livro traz Heleno, um dramaturgo que se depara com um michê morto em um necrotério e decide levá-lo para o interior de Pernambuco, e rememora sua trajetória ao longo da viagem.

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação 451.
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Coordenação Geral: Paula Scarpin e Vitor Hugo Brandalise
Produção: Gabriela Varella
Edição: Claudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger
Gravado com apoio técnico da Confraria de Sons & Charutos (SP).
Para falar com a equipe: [email protected]