Livros para desradicalizar

Os ataques golpistas aos prédios dos três Poderes no 8 de janeiro de 2023; a disseminação em massa de desinformação questionando a legitimidade do sistema eleitoral; a atuação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno das eleições de 2022. Estes são só alguns exemplos recentes — analisados em lançamentos — do processo de radicalização pelo qual o Brasil vem passando e que afeta a qualidade da nossa democracia.

Nesse contexto, o Laut (Centro de Análise da Liberdade e Autoritarismo) mapeou quatro arenas nas quais a radicalização tem sido uma constante — Força (Forças Armadas e forças de segurança pública), Justiça, Comunicação e Associação (sociedade civil, religião e educação) — e tenta entender o processo de radicalização e traçar estratégias para contê-lo.

O projeto se desdobra na série “Desradicalizar para democratizar”, publicada na Quatro Cinco Um, com textos que apontam caminhos para entender e enfrentar o crescente extremismo político no país. Na lista a seguir, os pesquisadores do projeto indicam sugestões de leituras de autores nacionais e estrangeiros sobre o tema.

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8/1: A rebelião dos manés: ou esquerda e direita nos espelhos de Brasília. Pedro Fiori Arantes, Fernando Frias, Maria Luiza Meneses. 
Hedra // 184 pp // R$ 49,90
Política // Diversas arenas

Revolucionários tomam um palácio. A cena, historicamente associada a rupturas conduzidas por movimentos de esquerda, é o ponto de partida de 8/1: A rebelião dos manés, que se propõe a pensar o Brasil contemporâneo a partir do dia em que as sedes dos três Poderes da República foram tomadas e depredadas por apoiadores da extrema direita. A partir daí, o ensaio analisa a inversão de papéis dos campos políticos nas últimas décadas para explicar a ascensão da extrema direita e o protagonismo do Supremo Tribunal Federal, temas urgentes condensados em quase duzentas páginas.

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O caminho da autocracia: estratégias atuais de erosão democrática. Adriane Sanctis, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral, Marina Slhessarenko Barreto.
Tinta da China Brasil // 176 pp // R$ 64,90
Política // Diversas arenas

Pesquisadores do Laut (Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo) analisam as táticas dos regimes autocráticos de Viktor Orbán (Hungria), Narendra Modi (Índia), Andrzej Duda (Polônia), Recep Tayyip Erdogan (Turquia) e Jair Bolsonaro (Brasil). A despeito do fracasso do bolsonarismo em consolidar o autoritarismo no Brasil, a tentativa de golpe em 8 de janeiro é uma prova de que o extremismo de direita não se dobra a derrotas eleitorais. Por isso a responsabilização pelos ataques aos Poderes e à democracia constitui uma “medida fundamental” para interromper o caminho da autocracia no país.

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Extremism: A Philosophical Analysis. Quassim Cassam.
Routledge Press // 254 pp // US$ 24,99
Filosofia // Diversas arenas

O professor de filosofia na universidade inglesa de Warwick identifica três tipos de extremismo – o ideológico, o de métodos e o psicológico – e discute questões como: Existe uma “mentalidade” extremista? Quais as diferenças entre extremismo, fanatismo e fundamentalismo? Como alguém se torna extremista e como devemos entender a desradicalização? Cassam utiliza muitos exemplos convincentes, que vão de grupos extremistas como IRA e a Al-Qaeda ao romance Pastoral americana, de Philip Roth, e programas anti-extremistas de países como o Reino Unido.

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The Wannabe Fascists: A Guide to Understand the Greatest Threat to Democracy. Federico Finchelstein.
UCLA Press // 264 pp // US$ 24,95
História // Diversas arenas

Baseado na sua experiência de três décadas como pesquisador do fascismo e do populismo, o historiador argentino radicado em Nova York descreve em linguagem clara os “quatro pilares do fascismo”: xenofobia, propaganda, violência política e, por fim, ditadura. Finchelstein explica como e por que políticos como Trump, Bolsonaro e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, diferente de populistas do passado, que buscavam se distanciar do fascismo, adotam falsas teorias antidemocráticas, racismo e métodos ilegais para destruir a democracia por dentro. 

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O púlpito: fé, poder e o Brasil dos evangélicos. Anna Virginia Balloussier.
Todavia // 208 pp // R$ 69,90
Jornalismo // Arena da associação

A repórter especial da Folha de S.Paulo, autora de Talvez ela não precise de mim: diários de uma mãe em quarentena (Todavia, 2020), relata as principais características da fé evangélica no Brasil nas últimas três décadas, desde as trajetórias dos fiéis e líderes religiosos eminentes e anônimos à expansão das igrejas e crescimento da parcela protestante no país, bem como seus fundamentos e visões de mundo e seu envolvimento histórico com a política, economia e cultura.

Leia resenha de Livia Reis Santos na Quatro Cinco Um.

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A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil do século XXI. Bruno Paes Manso.
Todavia // 304 pp // R$ 74,90
Ciências sociais // Arena da associação

Autor de A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil, o cientista político examina as mudanças no cenário urbano brasileiro, com a expansão desordenada das metrópoles, as respostas do catolicismo e das igrejas pentecostais às demandas dos fiéis, e a maneira como a violência nas periferias diminuiu pela ação conjunta do crime organizado (que impôs ordem nas regiões esquecidas pelo poder público) e pelas denominações evangélicas, que promoveram uma “guerra contra o mal”.

Leia resenha de Ana Silva Rosa e Mariana Celano de Souza Amaral na Quatro Cinco Um.

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O discreto charme da magistocracia: vícios e disfarces do judiciário brasileiro. Conrado Hübner Mendes.
Todavia // 328 pp // R$ 79,90
Direito // Arena da justiça

Coletânea de 88 artigos que o professor de direito constitucional da USP publicou na revista Época e na Folha de S.Paulo, nos quais analisa o comportamento de juízes, procuradores, promotores e advogados públicos no Brasil. Segundo Hübner Mendes, a magistocracia — neologismo que mistura o termo “magistrado” com “aristocracia”, como explica na apresentação — é autoritária, autocrática, autárquica, rentista e dinástica. Leia resenha de Guilherme Magalhães na Quatro Cinco Um.

Conrado Hübner Mendes falou mais sobre o livro no podcast 451 MHz: “Tentei criticar o Supremo sem ser confundido ou apropriado pela crítica de má-fé. É uma crítica muito menos à existência e à importância de um tribunal como o Supremo, que é fundamental e foi fundamental em tempos recentes para salvar a democracia, mas sem deixar de observar que o Supremo faz muito mal e tem responsabilidade pelos riscos que a democracia correu”. Ouça no site.

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Complicit: How We Enable the Unethical and How to Stop. Max H. Bazerman.
Princeton Press // 264 pp // US$ 27,95
Psicologia // Arena da justiça

É fácil condenar criminosos em casos de grande repercussão, mas raramente pensamos na rede de apoio em torno de casos silenciosos de corrupção – sócios, colegas de trabalho, funcionários, investidores, veículos de imprensa –, nem sobre como temos sido cúmplices de comportamentos antiéticos. Usando exemplos que vão do movimento #MeToo aos ataques ao Congresso norte-americano, o professor de Harvard mostra como reconhecer e evitar armadilhas psicológicas que nos levam a ignorar, tolerar ou apoiar ativamente esses comportamentos no dia a dia.

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O que fazer com o militar: anotações para uma nova defesa nacional. Manuel Domingos Neto.
Gabinete da Leitura // 226 pp // R$ 40 (e-book)
História // Arena da força

Qual é o papel dos militares no Brasil? O historiador, professor e ex-deputado federal pelo Piauí reflete sobre uma nova política de defesa nacional e sua relação com a sociedade, a política e o Estado. Com argumentos sólidos e linguagem acessível, o autor sintetiza cerca de cinquenta anos de pesquisas e propõe um modelo diferente ao tradicional militarismo. Este modelo é pensado juntamente com a segurança social e a econômica, ao invés de concentrar esforços exclusivamente em possíveis ameaças militares externas. Para isso acontecer, a esquerda precisa apropriar-se do tema e, principalmente, perder o medo da relação com os militares.

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Ilegais e imorais: autoritarismo, interferência política e corrupção dos militares na história do Brasil. Priscila Carlos Brandão, Bernardo Rocha Carvalho, Carla Drielly dos Santos e Igor Tadeu Camilo Rocha.
Fino Traço // 332 pp // R$ 75
História // Arena da força

Não precisa de muito para se lembrar de algum episódio envolvendo as Forças Armadas brasileiras em autoritarismo, intervenção política ou corrupção, afinal esses três ingredientes estão presentes na história do Brasil desde a Proclamação da República. Os historiadores discorrem sobre alguns desses momentos históricos em que os militares se afastaram de suas funções institucionais, resultando em violações dos direitos democráticos, e propõe que a estrutura e função do militarismo brasileiro seja repensada.

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O mundo do avesso: verdade e política na era digital. Letícia Cesarino.
Ubu // 304 pp // R$ 79,90
História // Arena da comunicação

Verdade, política e tecnologia. A partir desses três eixos, a antropóloga oferece uma análise detalhada das transformações políticas e comportamentais na era digital e reflete sobre como o boom das redes sociais alterou a dinâmica de poder e da própria noção de verdade, sobretudo na política. Como distinguir o fato da ficção em um campo cada vez mais nebuloso? O livro busca entender essas transformações na sociedade brasileira num contexto de ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo.

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Existe democracia sem verdade factual? Eugênio Bucci.
Estação das Letras e Cores // 135 pp // R$ 45
Política // Arena da comunicação

Quem pensa que o livro poderia apenas responder a essa pergunta com um “não” está enganado. Na obra, o professor de comunicação da USP analisa o impacto da desinformação no debate público, reflete sobre o papel da mídia, do jornalismo e da internet na difusão de informações, tecendo uma relação entre a verdade e a sobrevivência das democracias. Para o autor, sem o reconhecimento dos fatos, o discurso democrático se fragiliza, abrindo espaço para manipulação e disseminação de mentiras, ou seja, afetando a percepção pública e a capacidade das democracias sobreviverem. Um prato cheio na era da pós-verdade, fake news e polarização do discurso.

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Hate in Homeland: The New Global Far Right. Cynthia Idriss-Miller.
Princeton Press // 272 pp // US$ 29.95
Política // Diversas arenas

The Far Right Today. Cas Mudd.
Polity Press // 160 pp // US$ 19.95
Política // Diversas arenas

Bring the War Home: The White Power Movement and Paramilitary America. Katherine Belew.
Harvard University Press // 352 pp // US$ 21
Política // Diversas arenas

Conspiracy Theories. Quassim Cassam.
Polity Press // 140 pp // US$ 12.95
Política // Diversas arenas

White Rural Rage: The Threat to American Democracy. Tom Schaller e Paul Waldman.
Random House // 320 pp // US$ 32
Ciências sociais // Diversas arenas

Erasing History: How Fascists Rewrite the Past to Control the Future. Jason Stanley.
Atria/One Signal Publishers // 253 pp // US$ 22.50
História // Diversas arenas

Burning Down the House: How Libertarian Philosophy was Corrupted by Delusion and Greed. Andrew Koppelman.
St. Martin’s Press // 320 pp // US$ 7.23/14.99
História // Diversas arenas

Illiberal America: A History. Stephen Hahn.
W. W. Norton & Company // 464 pp // US$ 35
História // Diversas arenas

Os militares e a crise brasileira. João Roberto Martins Filho (Org.).
Alameda Editorial // 268 pp // R$ 98
História // Arena da força

O Brasil no espectro de uma guerra híbrida: militares, operações psicológicas e política em uma perspectiva etnográfica. Piero C. Leirner
Alameda Editorial // 346 pp // R$ 115
História // Arena da força

The idea of prison abolition. Tommie Shelby.
Princeton University Press // 248 pp // US$ 29,95
História // Arena da força

Religião e voto: uma fotografia das candidaturas com identidade religiosa nas eleições. Lívia Reis, Magali Cunha, Gabrielle Abreu, Matheus Pestana (Org.)
Instituto de Estudos da Religião // 454 pp // download gratuito
Não ficção // Arena da associação

Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. João Cezar de Castro Rocha. 
Caminhos // 464 pp // R$ 450
Política // Arena da associação

Making space for justice: social movements, collective imagination and political hope. Michele Moody-Adams.
Columbia University Press // 360 pp // US$ 28 
Política // Arena da associação

Biografia do abismo: como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Felipe Nunes, Thomas Traumann.
Harper Collins // 240 pp // R$ 59,90
Política // Arena da comunicação

Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. Giuliano da Empoli.
Tradução Arnaldo Bloch.
Vestígio // 192 pp // R$ 59,80
Política // Arena da comunicação

Network Propaganda: manipulation, disinformation, and radicalization in american politics. Yochai Benkler, Robert Faris e Hal Roberts.
Oxford University Press // 472 pp // US$ 160
Política / /Arena da comunicação

The dynamics of radicalization: a relational and comparative perspective. Eitan Y. Alimi, Lorenzo Bosi e Chares Demetriou.
Oxford University Press //  354 pp // US$ 180
Política // Arena da comunicação

On disinformation: how to fight for truth and protect democracy. Lee McIntyre.
MIT Press // 184 pp // US$ 14,95
Política // Arena da comunicação

Breaking the social media prism: how to make our platforms less polarizing. Chris Bail.
Princeton University Press // 240 pp // US$ 24,95
Política // Arena da Comunicação