Listão, Política,

Livros para não esquecer o valor da democracia

No marco de 61 anos do golpe militar, lançamentos recentes documentam os crimes da ditadura no Brasil e reforçam a importância da redemocratização

31mar2025

Se no ano passado o Brasil relembrou os sessenta anos do golpe militar que mergulhou o país num dos períodos mais sombrios da sua história, 2025 marca os quarenta anos do retorno da democracia. Em 1985, Tancredo Neves foi eleito pelo colégio eleitoral como o primeiro presidente não militar desde o golpe, depois de uma intensa campanha em todo país por eleições diretas. O político mineiro, como se sabe, morreu antes mesmo de tomar posse e seu vice, José Sarney, assumiu a presidência, ato que simbolizou o final do longo e negociado processo de redemocratização do país.

Mesmo que a eleição tenha posto fim à ditadura que enclausurou a política brasileira em mais de duas décadas de censura, cerceamento de direitos, tortura e mortes, tentativas de golpes recentes mostram que é preciso estar vigilante. Diante da ausência de respostas sobre mortos e desaparecidos durante o regime e da falta de responsabilização de militares investigados — ontem e hoje —, a literatura é um alicerce da memória coletiva sobre a ditadura. Reunimos sete lançamentos de ficção e não ficção de 2025 que lembram que a democracia é inegociável.

Crime sem castigo: como os militares mataram Rubens Paiva. Juliana Dal Piva.
Matrix // 208 pp // R$ 58 // História

A jornalista e finalista do Prêmio Jabuti reúne uma série de documentos, relatos e páginas sobre as investigações em torno do desaparecimento do ex-deputado federal Rubens Paiva em 1971. A história também foi narrada em Ainda estou aqui, romance de Marcelo Rubens Paiva adaptado às telas por Walter Salles no longa homônimo, vencedor do Oscar de melhor filme internacional este ano. Dal Piva descreve ainda o monitoramento da ditadura ao redor daqueles que tinham interesse em desvendar o caso.

Contraideologia da mestiçagem. Eduardo de Oliveira e Oliveira. 
Zahar // 336 pp // R$ 89,90 // Ciências Sociais

O volume reúne pela primeira vez a obra do sociólogo, dramaturgo e ativista pelos direitos do povo negro Eduardo de Oliveira e Oliveira (1924-1980). Publicados durante os anos 60 e 70, os textos elucidam seu pensamento sobre política — inclusive sobre a ditadura, que o considerava perigoso para a manutenção do regime —, seu papel no movimento negro e no uso do termo “negro” para englobar pretos e pardos, medida essencial para a formação das políticas de ações afirmativas.

Sete anos e um dia. Elvira Vigna.
Posf. Alexandre Vidal Porto // Companhia das Letras // 184 pp // R$ 79,90 // Literatura brasileira

Nova edição do primeiro romance da escritora e desenhista carioca Elvira Vigna (1947-2017), no qual a vencedora dos prêmios Oceanos e APCA narra o período de sete anos da vida de um grupo de personagens arrebatado pelos obstáculos, medo e violência impostos pela ditadura. Inclui um posfácio do escritor e diplomata Alexandre Vidal Porto.

Utopia autoritária brasileira: como os militares ameaçam a democracia brasileira desde o nascimento da República até hoje. Carlos Fico.
Planeta // 448 pp // R$ 104,90 // História

Um dos pioneiros nos estudos sobre a ditadura militar, o historiador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro analisa como as Forças Armadas influenciaram a República brasileira desde a sua formação. O autor esmiúça o pensamento político dos militares e aponta o seu intervencionismo como responsável pela fragilidade da democracia brasileira. 

Caderno de ossos. Julia Codo. 
Companhia das Letras // 216 pp // R$ 79,90 // Literatura brasileira

Em seu primeiro romance, Julia Codo realiza uma jornada interior e política na descoberta de um passado que ainda assombra o país. A autora denuncia o esvaziamento da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e centra sua narrativa na vala de Perus, que escondeu os ossos das vítimas dos crimes da ditadura. 

Lady Tempestade. Sílvia Gomez.
Cobogó // 96 pp // R$ 52 // Literatura brasileira

Os manuscritos do diário da advogada pernambucana Mércia Albuquerque, que defendeu presos políticos durante a ditadura militar, inspiraram a jornalista Sílvia Gomez a trabalhar a temática da preservação da memória a partir de registros históricos. Neste livro que mescla documento e ficção, a autora fala sobre eventos que “aconteceram, acontecem, acontecerão” para discutir a importância de não se esquecer. 

Explode um novo Brasil: diário da campanha das Diretas. Ricardo Kotscho.
Senado Federal // 295 pp // R$ 25 // História

Por meio de reportagens, análises e relatos dos bastidores dos principais comícios e articulações políticas do período, o jornalista Ricardo Kotscho detalha a Diretas Já, campanha iniciada em 1984 que reivindicava a volta das eleições diretas. Publicado pela primeira vez há quatro décadas, o livro enfatiza a importância do movimento para a redemocratização e a reconquista dos direitos políticos.