Literatura,
Livros e dicas literárias LGBTQIA+ de 2023
Grandes colaboradores e leitores indicam livros marcantes e outras dicas literárias LGBTQIA+
01jun2023 • Atualizado em: 24jun2024 | Edição #71A Quatro Cinco Um convidou grandes autoras e autores para indicar livros que foram marcantes, leituras recentes e outras dicas literárias LGBTQIA+ imperdíveis para todos os leitores. Confira as indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.
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Os otimistas. Rebecca Makkai. Editora Asa.
Indicado pelo apresentador Thiago Coacci, do podcast Larvas incendiadas, que divulga estudos e pesquisas sobre gênero e sexualidade, no episódio 101.
“Um dos livros que mais me marcou. Tem como pano de fundo a epidemia da aids em dois tempos e perspectivas. Nos anos 80, vemos o início e o ápice da pandemia pelos olhos de Yale, um jovem gay e diretor de museu. Já em 2015, vemos as marcas, permanências e transformações pelos olhos de Fiona, uma mulher hétero amiga de Yale e irmã de um de seus amigos que morreu em decorrência do vírus”, diz Coacci. “O livro não é só sobre tragédia, mas sobre amizade, temporalidade, marcas que perduram no tempo, resiliência.”
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Meu irmão, eu mesmo. João Silvério Trevisan.
Companhia das Letras.
Indicado pelo escritor Tobias Carvalho, autor de Quarto aberto (Companhia das Letras), no episódio 100
“Trevisan segue no projeto de escrever romances autobiográficos. Ele já tinha feito isso com Pai, pai, que é um livro lindo, mas acho que Meu irmão, eu mesmo é melhor ainda”, diz Carvalho. “Esse livro conta a história do irmão do autor, que estava sempre com ele na militância, numa época em que ele teve diagnóstico de HIV enquanto o irmão teve um diagnóstico de câncer. É um documento histórico lindo, que diz muito sobre os dias de hoje.”
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As aventuras da China Iron. Gabriela Cabezón Cámara.
Tradução de Silvia Massimini Felix. Moinhos.
Indicado pela jornalista Barbara Krauss, criadora do canal literário “B de Barbárie”, no episódio 99
“Esse livro foi finalista do International Booker Prize em 2005 e traz um outro lado da história do Martín Fierro, um clássico da literatura gauchesca argentina num ponto de vista queer fenomenal, que trata de entropia, povos indígenas, relações entre mulheres, relações não convencionais. Me deixou impactada de diversas formas e me fez chorar no final.”
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Quarto aberto. Tobias Carvalho.
Companhia das Letras.
Indicado por Felipe Cabral, autor de O primeiro beijo de Romeu e O diário de Aquiles pela Galera Record, no episódio 98
“O livro traz como protagonistas quatro homens jovens gays que vivem relacionamentos abertos. Ao mesmo tempo que buscam uma liberdade sexual e afetiva, eles acabam em uma jornada de autodescoberta.”
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Bate um coração. I Acevedo.
Tradução de Paloma Vidal. Jabuticaba.
Indicado por Melvim Brito, livreiro da livraria Megafauna, no episódio 97
“Os contos do escritor e editor argentino podem ser lidos como fragmentos de um diário pessoal em que fala bastante sobre o desejo e o amor.”
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Corpos benzidos em metal pesado. Pedro Augusto Baía.
Editora Record.
Indicado por Eric Novello, autor de Ninguém nasce herói (Companhia das Letras, 2017), no episódio 96
“Vencedor do prêmio Sesc de Literatura na categoria contos de 2022, Baía é um autor queer. O foco está nos impactos negativos do capitalismo voraz sobre o meio ambiente, contaminando também os corpos humanos. As onze histórias se passam na sua totalidade na região Norte do Brasil com alguns personagens LGBTQIA+.”
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Poco hombre: escritos de uma bicha terceiro-mundista. Pedro Lemembel.
Organização de Ignacio Echevarría. Tradução de Mariana Sanchez. Companhia das Letras.
Indicado por Schneider Carpeggiani, jornalista e editor que esteve por anos à frente do Jornal Literário Pernambuco, no episódio 95
“Essa antologia de escritos do autor e ativista queer chileno, símbolo da resistência à ditadura militar e da dissidência sexual em seu país, é a primeira reunião grande de textos de Pedro Lemebel a ser publicada no Brasil. Morto em 2015, ele deixou uma extensa obra que critica tanto o machismo da direita quanto da esquerda e denuncia a herança neoliberal deixada pelas ditaduras latino-americanas.”
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Conto “Êxtase”, de Katherine Mansfield publicado em Crítica e tradução. Ana Cristina Cesar.
Tradução de Ana Cristina Cesar. Companhia das Letras.
Êxtase e outros contos. Katherine Mansfield.
Tradução de Nara Vidal. Antofágica.
Indicado por Tatiany Leite, jornalista e criadora do canal Vá ler um livro, no episódio 94
“No conto, publicado em 1918, a escritora nascida na Nova Zelândia e admirada por Virginia Woolf conta a história de Bertha Young, uma mulher casada e de trinta anos que um dia passa a sentir uma grande felicidade (ou êxtase), incluindo o desejo por outra mulher.”
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Mundo real. Brandon Taylor.
Tradução de Alexandre Porto Vidal. Fósforo.
Indicado por Mateus Rodrigues, designer gráfico, no episódio 93
“Em seu romance de estreia, o finalista do Booker Prize de 2020 narra um final de semana na vida de um homem jovem, negro e queer que saiu do Alabama para estudar no norte do país com uma prestigiosa bolsa de estudos.”
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Temporada de furacões. Fernanda Melchor.
Tradução de Antônio Xerxenesky. Mundaréu.
Indicado pela livreira Zil Pimentel, no episódio 90
“No livro, um grupo de garotos encontra um cadáver às margens de um canal, que é identificado como a Bruxa, figura icônica e temida em La Matosa, uma cidadezinha dominada pela pobreza, superstição, preconceito e violência institucional e doméstica.”
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Morangos mofados. Caio Fernando Abreu.
Companhia das Letras.
Indicado por Ariel F. Hitz, autor de Junho te trouxe aqui, no episódio 89
“Obra mais célebre do escritor gaúcho, publicada em 1982, traz dezoito contos que consolidam seu estilo confessional, mostrando como era ser uma pessoa LGBTQIA+ na ditadura.”
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Fun Home: uma tragicomédia em família. Alison Bechdel.
Tradução de André Conti. Todavia.
Indicado por Amauri Arrais, editor e criador de conteúdo, no episódio 88
“Esse marco dos quadrinhos traz as memórias da autora norte-americana lésbica, que narra a difícil relação com o pai, tratando de sexualidade, relações familiares e literatura.”
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Retrato de um viciado quando jovem. Bill Clegg.
Tradução de Julia Romeu. Companhia das Letras.
Indicado pelo jornalista Gustavo Fioratti, no episódio 87
“O livro é narrado pelo próprio autor, um dependente químico do crack, no qual conta situações extremas vividas por causa dessa dependência. Traz relatos da infância, de compulsão sexual e de sua relação com outros dependentes químicos, motoristas de táxi, traficantes, garotos de programa e com seu marido, que ficou ao seu lado durante todo esse processo.”
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O amor não é óbvio. Elayne Baeta.
Galera Record.
Indicado por Marcela Tiboni, autora de Mama: um relato de maternidade homoafetiva, publicado pela Dita Livros em 2019, no episódio 86
“Estreia da jovem escritora, que publicou o livro aos 22 anos, é um sucesso de vendas voltado para o público juvenil. O amor não é óbvio conta uma história de amor entre duas adolescentes de um jeito leve e sensível, que capta bem os sentimentos confusos dessa época da vida, ainda mais quando são os primeiros passos para uma relação amorosa.”
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Garota, mulher, outras. Bernardine Evaristo.
Tradução de Camila von Holdefer. Companhia das Letras.
Indicado por Caroline Fernandes, editora e uma das fundadoras da Pulsa, livraria itinerante focada em literatura LGBTQIA+, no episódio 85
“Vencedor do Booker Prize em 2019, segue a história de mulheres não brancas, algumas em relacionamentos homossexuais, em uma Londres dividida e hostil, logo depois da votação do Brexit.”
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A intimidade do procedimento: escrita, lesbiana, sul como práticas de si. val flores.
Greta – Grupo de Tradução Lésbica.
Indicado por Mariam Pessah, autora de Grito de mar (Taverna, 2019), no episódio 84
“val flores é uma das principais intelectuais lésbicas, feministas, ativistas e poetas da América Latina e do Caribe. Em seus textos, a poeta argentina discorre sobre o lesbianismo não como orientação sexual, mas como um termo que situa politicamente as pessoas que se identificam como lésbicas. O livro foi traduzido pelo Greta, grupo de tradução formado por vinte tradutoras lésbicas de todo o Brasil, do qual Mariam Pessah faz parte.”
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O que te pertence. Garth Greenwell.
Tradução de José Geraldo Couto. Todavia.
Indicado por Stênio Gardel, autor de A palavra que resta (Companhia das Letras, 2021), no episódio 83
“O romance segue um professor que é forçado a lidar com suas experiências formadoras de amor, a dolorosa rejeição pela família e pelos amigos e a dificuldade de crescer como gay nos Estados Unidos dos anos 90.”
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Confissões de uma máscara. Yukio Mishima.
Tradução de Jaqueline Nabeta. Companhia das Letras.
Indicado por João Silvério Trevisan, autor de Devassos no paraíso (Companhia das Letras, 2004), no episódio 82
“O romance autobiográfico do autor japonês traz o permanente conflito do protagonista com seu desejo e sua sexualidade em meio ao militarismo crescente do Japão.”
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Bom Crioulo. Adolfo Caminha.
Todavia.
Indicado por Flavio Cafiero, autor de Diga que não me conhece (Todavia, 2021), no episódio 81
“Esse romance, publicado originalmente em 1895, conta a história de Amaro, escravizado foragido que, ao ingressar na Marinha, torna-se livre. Mais tarde, ele conhece Aleixo, um homem branco com quem passa a ter uma uma relação homossexual.”
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A tradição. Jericho Brown.
Círculo de poemas.
Indicado pelo ator e escritor Sallié Oliveira, autor de Grande casa à beira da estrada (Patuá, 2022), no episódio 80
“Ganhador do prêmio Pulitzer, o livro faz pensar sobre poesia de modo abstrato, e também sobre memória, além do terror passado pelo homem negro gay nos Estados Unidos.
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Corpo desfeito. Jarid Arraes.
Alfaguara/Companhia das Letras.
Indicado pela escritora Dia Nobre, autora de No útero não existe gravidade (Editora Penalux), no episódio 78
“Jarid tem uma escrita sensível, mas intensa, que faz a gente pensar nas coisas importantes que cercam o universo das mulheres e esse é um livro que eu recomendo muito”, diz Dia Nobre.
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07 notas sobre o apocalipse ou poemas para o fim do mundo. Tatiana Nascimento.
Garupa Editora.
Indicado pela poeta e editora Aline Miranda, no episódio 77
“Forte, potente, revolucionário e inspirador” são alguns dos adjetivos que Miranda usa para descrever a obra, que contém poemas sobre o quadro político do amor em um mundo intolerante e persecutório.”
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O parque das irmãs magníficas. Camila Sosa Villada.
Tradução de Joca Reiners Terron. Tusquets/Planeta.
Indicado por Cristina Judar, autora de Elas marchavam sob o sol, que saiu pela editora Dublinense, no episódio 76
“O livro segue relatos da vida de travestis e transexuais que fazem programas em um parque de Córdoba, na Argentina, misturando elementos de realismo mágico à dura e violenta realidade vivida pelas personagens.”
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Fome azul. Viola Di Grado.
Tradução de Eduardo Krause. Dublinense.
Indicado por Natália Borges Polesso, autora de A extinção das abelhas e Amora, publicados pela Companhia das Letras, no episódio 75
“O romance traz uma história simples: uma moça italiana, com o intuito de tentar superar a morte do irmão gêmeo, resolve viajar até Xangai, onde se apaixona pela misteriosa chinesa Xu. A história segue, então, por uma cidade meio gótica, do submundo, aventurando-se por gostos e sabores que nunca havia experimentado antes.”
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Pança de burro. Andrea Abreu.
Tradução de Livia Deorsola. Companhia das Letras.
Indicado por Bianca Tavolari, professora e colunista da Quatro Cinco Um, no episódio 74
“O primeiro romance da escritora nascida na ilha de Tenerife, mostra a relação entre duas amigas de infância nas ilhas Canárias, que, à medida que vão crescendo, descobrem-se atraídas uma pela outra e acabam também sofrendo as violências em torno dessa relação não aceita em seu local de nascimento.”
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Amora. Natalia Borges Polesso.
Não Editora.
Indicado pela escritora Natalia Timerman, autora de Copo vazio (Todavia, 2021), no episódio 73
“Ganhador do Prêmio Jabuti em 2016, o livro, dividido em duas partes, traz 33 contos com personagens e narradoras lésbicas, em diferentes contextos sociais e de vida, com diferentes vivências lésbicas. A narração traz estranheza e beleza, simultaneamente.”
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A gente dá certo. Pedro Poeira.
Companhia Editora Nacional.
Indicado pelo escritor Lucas Rocha, autor de Você tem a vida inteira (Galera Record, 2020), no episódio 72
“O livro jovem adulto traz um protagonista LGBTQIA+, Caetano, e sua avó, Cecília, que sempre tiveram um relacionamento muito próximo. Depois que o avô do Caetano morre, a família resolve colocar a avó em uma comunidade de idosos. Ao encontrar uma carta guardada por sua avó, Caetano descobre que Cecília teve um caso amoroso de verão com Didi. Então, junto com seu amigo Julio, viaja para o litoral paulista para tentar achar a misteriosa Didi.”
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O quarto de Giovanni. James Baldwin.
Tradução de Paulo Henriques Britto. Companhia Editora Nacional.
Indicado pelo escritor Stefano Volp, autor de Homens pretos (não) choram e O beijo do rio (Harper Collins), no episódio 71
“Davi, um jovem estadunidense que mora em Paris, bissexual, mas que para aquela sociedade ele é mais um homem heterossexual. Na cidade, ele conhece Giovanni, um garçom italiano por quem ele se apaixona, sua relação com esse novo desejo e essa nova relação e como as pessoas têm muitas suas vidas pautadas pela repressão social.”
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Argonautas. Maggie Nelson.
Tradução de Rogério Bettoni. Autêntica.
Indicado pelo escritor Mateus Baldi, autor de Formigas no paraíso (Faria & Silva, 2022), no episódio 70
“Vencedor do National Book Critics Circle Award em 2015 e escolhido como um dos livros do ano pelo New York Times, é uma autobiografia que conta a história de amor entre ela e seu marido, Harry, um homem trans, em meio ao conservadorismo nos Estados Unidos. Ela atrela sua experiência pessoal a uma análise rigorosa de teorias sobre sexualidade, gênero, casamento e educação infantil.”
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Fi Ghurfat al-Ankabu ( “O quarto da aranha”, em tradução literal). Mohammed Abdel Nabi.
Dar al-Ayn li-l-Nashr.
O jornalista e escritor Diogo Bercito, autor de Vou sumir quando a vela se apagar (Intrínseca), que conta a história de um imigrante sírio na São Paulo dos anos 30, apaixonado pelo seu melhor amigo; indica o livro Fi Ghurfat al-Ankabu no episódio 69
“A narrativa acompanha Hani, um rapaz que é preso pela polícia egípcia por ser homossexual. Traumatizado pela prisão, ele acaba perdendo a voz e, por isso, resolve escrever sobre a sua vida, desde a infância, sua formação no Cairo e até sobre o amor da sua vida. O livro fez sucesso de crítica e foi finalista do Prêmio Internacional de Ficção Árabe de 2017.”
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A linha da beleza. Alan Hollinghurst.
Tradução de Vera Whately. Nova Fronteira.
Indicado pelo colaborador da revista dos livros, Benjamin Moser, autor de biografias de Clarice Lispector e Susan Sontag, no episódio 68
Moser destaca como esse romance abriu portas para se pensar no modo que se escreve e se fala de sexo gay, que, segundo ele, é “muito mistificado” na literatura. A partir desse livro, ele leu toda a obra do autor.
A editoria Livros e Livres, focada em títulos com temática LGBTQIA+, tem o apoio do Fundo de Direitos Humanos da Embaixada do Reino dos Países Baixos.
Matéria publicada na edição impressa #71 em maio de 2023.
Porque você leu Literatura
Viagem ao inesperado
Originalmente publicado em 1942, O louco do Cati, obra-prima de Dyonelio Machado, introduz um olhar novo e inventivo sobre as figuras marginalizadas da sociedade
JANEIRO, 2025