Laut,

Vigilantismo digital e autoritarismo tecnológico

No podcast Revoar, Caio Machado e Mariana Valente discutem cibervigilantismo e tecnoautoritarismo

12ago2021

Um relatório publicado pelas agências ‘We are Social’ e ‘Hootsuite’ contabilizou que 4,66 bilhões de pessoas usam a internet, quase 60% da população mundial. Em um contexto onde o vigilantismo digital está constantemente presente, os dados produzidos por esses usuários se tornam um prato cheio para pessoas, grupos e empresas com interesses diversos. Existem desde ferramentas digitais para denúncias anônimas de crimes até corporações capitalistas de vigilância, que usam tecnologia para extrair dados pessoais e transformá-los em produtos nos mercados de comportamentos futuros (uma economia que negocia informações sobre nossas preferências). 

Há pessoas e grupos que praticam o vigilantismo nas redes sociais para atacar e incentivar ações violentas contra os mais vulneráveis, como mulheres, pessoas negras e pessoas LGBT. Por outro lado, movimentos sociais também podem utilizar a internet para  realizar denúncias e mobilizar, reproduzindo, em alguns casos, práticas vigilantistas. Além disso, essas tecnologias também são utilizadas para a modulação de comportamentos, incluindo na política. Recentemente, influenciaram na escolha de um presidente da república nos EUA – o escândalo da Cambridge Analytica – e contribuíram para propagação de ideias antidemocráticas e contrárias às instituições no Brasil. 

Nesse contexto, destaca-se a ideia do tecnoautoritarismo, que, de maneira simplificada, representa o autoritarismo praticado por meios digitais – e também serve para explicar os processos de expansão desproporcional do poder estatal por meio do uso de tecnologias. 

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, essa manipulação da opinião pública por meio das redes sociais é uma perigosa ameaça à democracia. Segundo o estudo, as redes sociais se mostram meios extremamente atrativos para a propaganda política e social, e, em muitos países, campanhas por meios desses canais de comunicação já aumentaram tensões étnicas, ressuscitaram movimentos nacionalistas, intensificaram e até resultaram em crises políticas.

Mas o que fazer diante desse cenário cheio de ambiguidades e contradições? É possível chegar em um equilíbrio e garantir direitos básicos como a privacidade? Para refletir sobre essas questões, Anna Venturini e Felipe de Paula conversam com Caio Machado, advogado, especialista em desinformação, pesquisador do LAUT e diretor do Instituto Vero; e com Mariana Valente, doutora em Direito e diretora do InternetLab, sobre vigilantismo digital e como ele está relacionado ao monitoramento constante das nossas ações nos ambientes virtuais.

A conversa aborda as práticas de cibervigilantismo e tecnoautoritarismo. Ressalta a necessidade de determinar caminhos éticos em um mundo cada vez mais datificado e tecnológico. Indica como essencial a conscientização coletiva sobre a importância da privacidade e outros direitos fundamentais, em um processo que envolve o Estado e os indivíduos. Aponta como desafio garantir que a tecnologia continue contribuindo com nossas vidas e nossa segurança, ao mesmo tempo em que os direitos e dados dos cidadãos sejam protegidos.

O podcast é uma produção da Rádio Novelo para o LAUT  
Apresentação: Anna Venturini e Felipe de Paula
Coordenação geral: Clara Rellstab
Roteiro: Anna Venturini, Felipe de Paula, Luisa Plastino e Pedro Ansel
Tratamento de roteiro: Clara Rellstab
Pesquisa: Pedro Ansel e Luisa Plastino
Edição e montagem: Claudia Holanda e Julia Matos
Finalização e mixagem: João Jabace
Engenheiro de som: Gabriel Nascimbeni (Estúdio Trampolim)
Música original: Mari Romano
Identidade visual: Sergio Berkenbrock dos Santos
Coordenação digital: Iara Crepaldi e Bia Ribeiro  
Redes sociais: Andressa Maciel e Iara Crepaldi

Editoria especial em parceria com o Laut

LAUT – Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo realiza desde 2020, em parceria com a Quatro Cinco Um, uma cobertura especial de livros sobre ameaças à democracia e aos direitos humanos.