Repertório 451 MHz,
Você já foi à Bahia?
No novo episódio do 451 MHz, Eliana Alves Cruz e Jorge Augusto falam da busca pela própria ancestralidade e a importância de festivais literários fora do circuito Rio-São Paulo
29set2023Ouça mais Episódios
Está no ar o 96º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. A escritora Eliana Alves Cruz e o poeta Jorge Augusto falam da busca pela própria ancestralidade por meio da literatura e a importância de festivais literários fora do circuito Rio-São Paulo, como a Flica, a Festa Literária Internacional de Cachoeira, na Bahia, que apoia este episódio.
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Em busca das raízes
Convidados do programa, a escritora Eliana Alves Cruz e o poeta baiano Jorge Augusto conversam dos seus livros, da importância de se recuperar a história negra e de se olhar para outros espaços de produção literária no Brasil.
A escritora Eliana Alves Cruz e o poeta Jorge Augusto [Divulgação]
Eliana Alves Cruz é uma das escritoras brasileiras mais respeitadas da atualidade. Ela já publicou os romances Água de barrela (Malê, 2018), O crime do cais do Valongo (Malê, 2018), Nada digo de ti, que em ti não veja (Pallas, 2020) e Solitária (Companhia das Letras, 2022).
Solitária conta a história de uma empregada doméstica e sua filha, que moram num quarto dos fundos de uma luxuosa cobertura, e sua luta por romper com padrões de submissão. O romance foi votado um dos melhores livros do ano passado pelos colaboradores da Quatro Cinco Um e foi resenhado na edição 64 por Munah Malek, que escreveu: “Das muitas temáticas apresentadas no romance — pandemia, ascensão do governo Bolsonaro, aborto, direitos trabalhistas —, o fio condutor é, antes de tudo, a reflexão sobre as infâncias negadas às crianças negras trancafiadas em quartinhos de despejo”.
Na época do lançamento, Alves Cruz concedeu uma entrevista para a Quatro Cinco Um: “O título veio do sentimento de solidão, de não pertencimento dessas pessoas, que não moram no prédio nem na casa delas. Também quis fazer essa conexão com a prisão, onde a solitária é um lugar para a pessoa ser completamente apartada da sociedade, porque, sim, a gente vive num apartheid”.
Publicado no ano anterior, o romance histórico Nada digo de ti, que em ti não veja tem como cenário o Rio de Janeiro do século 18 e foi resenhado pelo historiador Luiz Antonio Simas na edição 36: “Cerzindo os fios da trama, amalgamando com engenhosidade os suspenses e reviravoltas em uma cidade que crescia de forma desordenada e um tanto caótica, como os sentimentos que então afloram entre os personagens, Eliana consegue prender a atenção a partir de um talento imenso para contar boas histórias, a ponto de deixar o resenhista tentado a revelar segredos que vão se avolumando”.
Alves Cruz também ganhou o prêmio Jabuti por A vestida: contos (Malê, 2022) e é autora do livro infantil O desenho do mundo (Bom de Ler, 2022), com ilustrações de Estevão Ribeiro, além de ter participado de várias antologias. Ela também escreveu um texto para a Quatro Cinco Um sobre Paulina Chiziane, depois que a autora moçambicana ganhou o Prêmio Camões.
Jorge Augusto é professor, poeta e editor baiano. Ele acaba de lançar O mapa de casa, que saiu pelo Círculo de Poemas, em que revisita a cidade de Salvador por meio de seus poemas. Ele também organizou o livro Contemporaneidades periféricas pela editora Segundo Selo.
Ele também edita a revista Organismo, que já conta com doze números impressos. Com diferentes organizadores convidados para cada volume, procura dar um panorama da literatura produzida hoje no Brasil, com dois poetas de linhagens estéticas diferentes. As revistas podem ser adquiridas no site da Segundo Selo.
A Segundo Selo foi finalista do Jabuti no ano passado com Palavra preta, de Tatiana Nascimento, e neste ano é semifinalista do prêmio Oceanos com Diário da encruza, de Ricardo Aleixo, em coedição com o LIRA, Laboratório Interartes Ricardo Aleixo.
Um novo circuito
Tanto Eliana Alves Cruz quanto Jorge Augusto vão participar da Flica, Festa Literária Internacional de Cachoeira na Bahia, que acontece de 26 até 29 de outubro, com entrada gratuita e patrocínio do Governo do Estado da Bahia. A Quatro Cinco Um também vai estar lá, fazendo a cobertura do festival e distribuindo um Almanaque da Revista dos Livros que traz destaques da programação.
A escritora carioca tem uma relação bastante próxima com a cidade — a trama do seu livro Água de barrela se passa lá. No romance, ela tenta contar de forma ficcionalizada a trajetória de parte de sua família que veio de Cachoeira. Os laços são tão fortes que ela está fazendo um documentário baseado na sua estreia literária. Ela também pretende, durante a Flica, organizar, com sua irmã e Luciana Brito (uma das curadoras do festival), um circuito “Água de barrela”, com uma roda de palco e apresentação de um teaser do documentário, e oferecer pratos locais.
Ao longo da conversa, Jorge Augusto sublinhou que não é por acaso que a Flica, que chega à sua 11ª edição com o tema "poéticas afro-indígenas no bicentenário da Independência do Brasil na Bahia", é sede de um dos mais importantes festivais literários do país. É um lugar com uma produção intelectual vibrante, com pesquisadores como Luciana Brito, Osmundo Pinho, ngela Figueiredo, Paulo Fraga, entre outros. A partir desse evento, várias outras feiras literárias passaram a ser organizadas na Bahia na última década, dando oportunidade para editoras pequenas e para autores locais.
O melhor da literatura LGBTQIA+
Eric Novello, autor de Ninguém nasce herói (Companhia das Letras, 2017), recomenda o livro Corpos benzidos em metal pesado, de Pedro Augusto Baía, publicado em 2022 pela Editora Record.
Vencedor do prêmio Sesc de Literatura na categoria contos de 2022, Baía é um autor queer. O foco está nos impactos negativos do capitalismo voraz sobre o meio ambiente, contaminando também os corpos humanos. As onze histórias se passam na sua totalidade na região Norte do Brasil com alguns personagens LGBTQIA+.
Confira a lista completa de indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.
O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação Quatro Cinco Um.
Apresentação: Paulo Werneck
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Ashiley Calvo
Edição: Luiza Silvestrini
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace e Luis Rodrigues, da Pipoca Sound
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Bia Ribeiro
Para falar com a equipe: [email protected]
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