Narradores do Brasil, Repertório 451 MHz,
A liberdade segundo Caio Fernando Abreu
Episódio especial apresenta o espírito livre do pop-star da literatura que retratou o cenário underground paulistano da década de 80
29out2021Ouça mais Episódios
Está no ar o quinto episódio da coleção Narradores do Brasil, do 451 MHz, o podcast da revista dos livros!
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A liberdade segundo Caio Fernando Abreu é o quinto episódio em formato narrativo publicado pelo podcast. Os programas perfilam grandes autores e autoras da literatura brasileira, procurando mostrar como a ficção espelha questões centrais da vida do país. Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, Nelson Rodrigues e Paulo Freire foram os outros autores a receber a homenagem.
A liberdade segundo Caio Fernando Abreu
O mundo literário que Caio escolheu criar se distancia de narrativas glamourosas. Ao contrário, suas obras nos apresentam o dia a dia mundano, cheio de banalidades e realidades desagradáveis. Era abertamente homossexual e sua escrita refletia não apenas os seus próprios medos e anseios, como também os da sua geração: a repressão militar, a luta pela liberdade sexual e a epidemia da aids nos anos 80.
O episódio nos apresenta o espírito livre e o olhar hippie de Caio Fernando Abreu, um pop-star da literatura que através de uma escrita mística-astrológica retratou como ninguém o cenário underground paulistano da década de 80. Talvez seja por isso que, ainda hoje, suas obras e frases de efeito sigam cativando jovens em busca de liberdade.
Uma obra libertária
Toda obra literária é atravessada pelo seu contexto histórico, mas as narrativas de Caio Fernando Abreu funcionam quase como uma fotografia e nos inserem no cotidiano de sua época: filmes, músicas, propagandas, jargões. Dois acontecimentos-chave para entendermos a obra do escritor gaúcho são a ascensão do regime militar e a epidemia da Aids.
Com a promulgação do AI-5 em 1968 e por conta da repressão, Caio passou a morar na Casa do Sol com a amiga e também escritora Hilda Hilst. A casa era um ambiente criativo, repleta do esoterismo presente na obra de Caio Fernando Abreu. Caio, então, foi preso por porte de drogas e, logo após o episódio, ele resolveu partir para o autoexílio na Europa.
Já na década de 80, quando lançou Morangos mofados, que saiu pela coleção Cantadas Literárias da editora Brasiliense), o Brasil passava por um processo de redemocratização, e liberdade era a palavra que movia a literatura pop da época. Com contos curtos, despudorados e confessionais, Morangos mofados foi um grande sucesso. Desde seu primeiro lançamento, o título foi publicado por quatro editoras e chegou a ser um dos livros mais vendidos da editora Nova Fronteira. A última edição é a de 2019, pela Companhia das Letras, que hoje publica a obra do Caio.
Em Triângulo das águas, livro lançado em 1983, o misticismo já presente em seus livros ganhou mais destaque. Caio aprofundou temáticas como astrologia e taoísmo, explorando ao máximo uma visão holística do mundo. A obra foi bem recebida pela crítica especializada e, no ano de 1984, ganhou o Jabuti na categoria de contos.
Em 1987, lançou Os dragões não conhecem o paraíso em que referencia pela primeira vez um dos temas mais delicados da década de 80 — a Aids — no conto “Linda, uma história terrível”, em que o protagonista visita a mãe idosa, doente, e ele, homossexual, está doente também. A casa da mãe aparece velha, cheia de manchas nas paredes, ruindo aos poucos, anunciando o começo de um fim. Caio foi vítima da doença, escreveu contos, crônicas e cartas sobre a aids. Antes mesmo do seu diagnóstico, já tratava a doença como algo próximo, seja pela morte de amigos ou pelo medo do que o vírus evocava.
Vozes
O episódio tem a participação do ator e astrólogo Marcos Breda; a escritora, jornalista e amiga do Caio, Paula Dip; o professor de Direito da Unifesp Renan Quinalha; a escritora e roteirista Claudia Lage; o ensaísta e professor da UERJ Ítalo Moriconi; e o Rico Vasconcelos, médico infectologista e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP.
Marcos Breda [Acervo pessoal]
O ator e astrólogo Marcos Breda morou com o Caio por dois anos nessa época da chegada dele a São Paulo. O Marcos acompanhou as primeiras reações a esse choque e chegou a encenar peças escritas pelo próprio Caio.
Paula Dip [Acervo pessoal]
A escritora Paula Dip era uma das maiores amigas do Caio, e é a autora de “Para sempre teu, Caio F.”, uma biografia-testemunho da longa amizade deles. A Paula viveu junto com ele muitos momentos extremos e compartilhou lembranças do amigo no podcast.
Claudia Lage [Flavia Lage]
A escritora Claudia Lage é uma grande leitora do Caio. A Claudia ganhou em 2020 o Prêmio São Paulo de Literatura com o romance “O corpo interminável”. No livro, a autora percorre a história de mulheres guerrilheiras desaparecidas na ditadura militar.
Ítalo Moriconi [Acervo pessoal]
Em 2002, o crítico literário Ítalo Moriconi publicou “Cartas”, um compêndio da correspondência de Caio Fernando Abreu. No livro, ele construiu uma cronologia da vida e da obra do Caio por meio dos textos, que vão de 1965 a 1995, um ano antes da morte do escritor. Ao optar por não organizar as cartas por destinatários, Moriconi afirma que as cartas são elementos fundamentais para compreender a obra literária do autor.
Renan Quinalha [Fabio Audi]
O professor Renan Quinalha trabalhou na Comissão Nacional da Verdade e é autor do livro “Contra a moral e os bons costumes”, lançado recentemente, que trata da perseguição a grupos LGBTI+ na ditadura. Ele faz uma contextualização histórica do período em que o Caio Fernando Abreu viveu.
Maria Emilia Bender [Acervo pessoal]
A editora Maria Emilia Bender trabalhou na Brasiliense, editora que deu vida a uma série de livros que falavam de contracultura, juventude, drogas, música, amor, poesia e vanguarda. Ela falou sobre o trabalho na editora e a relação que desenvolveu com Caio Fernando Abreu naquele tempo.
Reinaldo Moraes [Acervo pessoal]
O escritor Reinaldo Moraes, cuja obra também foi parte da coleção Cantadas Literárias, da Editora Brasiliense, contou sobre os eventos literários que frequentou com Caio e sobre os livros que lançaram juntos em Porto Alegre.
Rico Vasconcelos [Acervo pessoal]
A gente conversou com o Rico Vasconcelos, Médico Infectologista e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP, pra entender como se construiu essa narrativa preconceituosa que ainda persiste.
Thedy Corrêa [Rogério Fernandes]
Trechos das obras do Caio são lidos pelo vocalista da banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa. O episódio tem roteiro de Guto Alves e apresentação de Paula Carvalho, editora da Quatro Cinco Um.
#desafiocaiof
O #desafiocaiof, lançado ao final do episódio, faz uma pergunta relacionada a Caio Fernando Abreu. Quem der a resposta mais criativa, na opinião da equipe da revista, ganha os livros Morangos mofados e Contos completos, publicados pela editora Companhia das Letras. Para participar, publique a sua resposta nas redes sociais, Facebook, Twitter e Instagram, com a hashtag #desafiopaulofreire e marque o perfil da revista (@quatrocincoum) até o dia 16 de novembro. No dia 26 de novembro, o ganhador será anunciado nas redes da Quatro Cinco Um. As respostas poderão ser divulgadas no site, na newsletter e nas redes da revista. Ouça o episódio para saber mais.
O episódio especial A liberdade segundo Caio Fernando Abreu foi feito com o apoio do C6 Bank.
O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também!
O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação 451.
Direção geral: Paulo Werneck
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Participação especial: Thedy Corrêa
Coordenação geral: Vitor Hugo Brandalise
Roteiro: Guto Alves
Tratamento de roteiro: Vitor Hugo Brandalise e Paula Carvalho
Produção: Ashiley Calvo
Montagem: Claudia Holanda
Direção de locução: Vitor Hugo Brandalise
Sonorização: Júlia Matos
Música tema: Guilherme Granado e Mario Cappi
Trilha adicional: Daniel Limaverde
Finalização e mixagem: João Jabace
Ilustração: Rafa Campos Rocha
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger
Gravado com apoio técnico dos estúdios Tyranossom e Confraria de Sons e Charutos.
Neste episódio, foram lidos os trechos: Contos Luz e Sombra e Sargento Garcia ("Morangos Mofados", Companhia das Letras); Carta a Hilda Hilst, de 8 de março de 1971 ("Caio Fernando Abreu: Cartas", de Ítalo Moriconi, editora e-galáxia); Conto "A quem interessar possa" ("O Inventário do Ir-remediável", Sulina); Conto "O dia em que Urano entrou em Escorpião”, também do livro Morangos Mofados; Trechos do romance "Onde andará Dulce Veiga?" (Nova Fronteira); trechos de “Cartas para Além dos Muros”, extraído do livro Pequenas Epifanias, da editora Agir, e originalmente publicadas no jornal O Estado de São Paulo em 21 de agosto, 4 de setembro e 18 de setembro de 1994.
Com os áudios: Programete: Escritores Gaúchos (Rede RBS, do Rio Grande do Sul); Roda Viva com Rachel de Queiroz, 1991 – TV Cultura/Fundação Padre Anchieta; "Caio Fernando Abreu falando sobre a vida", "Caio Fernando Abreu fala sobre Signo e Astrologia" e "Cláudia de Abreu Cabral – Caio Irmão", todos do canal "Muitos Caios", no YouTube, um projeto de alunos da PUC Campinas.
Para falar com a equipe: [email protected]. br
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