
451, Literatura, Livros e Livres,
Livros e dicas literárias LGBTQIA+ de 2025
Grandes colaboradores e leitores indicam livros marcantes sobre diversidade sexual e de gênero no podcast 451 MHz
15jan2025 • Atualizado em: 30jun2025A Quatro Cinco Um convida grandes autoras e autores para indicar livros que foram marcantes, leituras recentes e outras dicas literárias LGBTQIA+ imperdíveis para todos os leitores. Confira as indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.
Santo de casa. Stefano Volpi.
Record (2025).
Indicado por Airton Souza, no episódio “Tenho horror de escrever”. Souza é autor de Outono de carne estranha (Record, 2023), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2023.
“O livro debate uma série de problemáticas que atravessam a história desse país, sobretudo ligada ao tema das identidades, do racismo, da LGBTfobia, das diferenças sociais, a partir de um mundo que é o da casa.”
João. Ronie Rodrigues.
Telaranha (2024).
Indicado por Wagner Schwartz, no episódio “Asma, boca e cova profunda”. Schwartz é autor de A nudez da cópia imperfeita (Nós, 2023), inspirado num episódio de ódio sofrido pelo autor após fazer uma performance no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, em 2017.
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“Em João, Ronie apaga o contexto de Harmada, de João Gilberto Noll, um de seus autores preferidos. Retira dele as palavras que só cabem no seu corpo. O livro de Noll não perdeu páginas, perdeu o narrador. Quando leio João, escuto a voz de Ronie.”
Eu sou o monstro que vos fala. Paul B. Preciado.
Zahar (2022).
Indicado por Milly Lacombe, no episódio “Asma, boca e cova profunda”. Lacombe é autora de sete livros, entre eles o romance O ano em que morri em Nova York (Planeta, 2017) e o ensaio Feminismo para não feministas: como o machismo machuca todo mundo (Planeta, 2024), em coautoria com Paola Lins de Oliveira.
“Preciado escreveu esse livro depois de uma fracassada palestra que ele foi dar em 2019 para 3.500 psicanalistas franceses. A palestra se chamava ‘Mulher na psicanálise’. Ele começou a palestra perguntando quantos ali na audiência eram homossexuais ou pessoas trans e o rebuliço começou. Muitos levantaram e foram embora. Só que resultou nesse livro delicioso, que é, no fim das contas, a palestra completa que ele não conseguiu dar e fala a respeito das pessoas que, como o Paul Preciado coloca, são dissidentes do regime binário da diferença sexual.”
Sarah é isso. Pauline Delabroy-Allard.
Nós (2021).
Indicado por Ana Lima Cecilio, no episódio “Uma cronista em Hollywood“. A curadora da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) fala do romance de estreia da francesa Pauline Delabroy-Allard, publicado em 2021 pela editora Nós, em tradução de Raquel Camargo.
“Esse livro é uma história de amor arrebatada, como poucas vezes a gente vê na história da literatura, entre duas mulheres. A narradora é uma mulher que tem um namorado, tem uma filhinha e leva a vida de um jeito meio entediado, até que passa esse vendaval da paixão por essa mulher chamada Sarah e ela fica completamente enlouquecida.”
Orlando. Virginia Woolf.
Penguin-Companhia (2014).
Indicado pela escritora e psicanalista Vera Iaconelli, no episódio “Virginia Woolf por inteiro”. Ela é autora de Felicidade ordinária (Zahar, 2024) e Manifesto antimaternalista: Psicanálise e políticas da reprodução (Zahar, 2023).
“É um livro lançado em 1928 que causou burburinho, fascinação, certo escândalo, porque a personagem ou o personagem que dá nome à trama, ela vive séculos e no meio da trama muda de gênero. É um clássico extremamente ousado para a época e que traz questões que valem ser revisitadas.”
Como ser as duas coisas. Ali Smith.
Companhia das Letras (2016).
Indicado por Caetano W. Galindo, no episódio “Palavras, palavras, palavras”. Ele é escritor, tradutor e professor da Universidade Federal do Paraná. Galindo é autor do recém-lançado Na ponta da língua: o nosso português da cabeça aos pés e de Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português (2023).
“É um romance que trata de questões de mudança de gênero. Um romance trans através da história da arte e através da história de duas pessoas em momentos diferentes do mundo, em lugares diferentes do mundo, e que, além de tudo, representa essa bagunça de gêneros pelo fato de que cada uma dessas histórias é contada independentemente.”
Ética bicha: proclamações libertárias para uma militância LGBTQ. Paco Vidarte.
N-1 Edições (2019).
Indicado pela escritora, ativista indígena e psicóloga Geni Núñez, no episódio “Paulo Leminski na Flip 2025”. Ela é autora de Felizes por enquanto: escritos sobre outros mundos possíveis (Planeta, 2024) e Descolonizando afetos: experimentações sobre outras formas de amar (Paidós, 2023).
“Esse é um livro que eu gosto muito porque ele não tem uma estética higienizada de falar sobre questões de gênero e sexualidade. É, de certa forma, um manifesto, um convite, uma dança.”
De Quatro. Miranda July.
Amancord (2024).
Indicado pela antropóloga e escritora Aparecida Vilaça, no episódio “A terra dá, a terra quer”. Aparecida é colaboradora da Quatro Cinco Um e autora, com Geoffrey Lloyd, do recém-lançado Onças e borboletas: diálogos entre antropologia e filosofia (Todavia).
“Embora o livro De quatro, de Miranda July, tenha sido apontado em críticas como tendo a perimenopausa como eixo narrativo, eu o li como um livro tremendamente sexy, em que o tesão e a abertura para a experimentação sexual dão a tônica das reflexões e ações da protagonista.”
As lágrimas amargas de Petra von Kant. Rainer Werner Fassbinder.
Cobogó (2024).
Sugestão da escritora Aline Bei, autora de O peso do pássaro morto (Nós) e de Pequena coreografia do adeus (Companhia das Letras), no episódio “A boba da corte”.
“As lágrimas amargas de Petra von Kant conta a história de Petra, uma estilista famosa, conceituada, culta, que está passando por um período de pós-divórcio, e ela conhece uma mulher misteriosa, pela qual ela se apaixona perdidamente, amargamente, a Karen.”
Sodomita. Alexandre Vidal Porto.
Companhia das Letras (2023).
Indicado pelo livreiro Rui Campos, fundador da Livraria da Travessa, rede criada nos anos 80 no Rio de Janeiro e que hoje tem filiais em São Paulo, Brasília e Lisboa, no episódio “Devorando Oswald de Andrade“.
“Cheio de ironia e com português arcaico inventado, super criativo, Alexandre nos leva a passear pelas aventuras de um personagem que, graças ao seu talento em criar estilo próprio em que nunca sabemos o que é invenção ou realidade, refletimos sobre temas de total atualidade: homossexualidade, Brasil, Portugal, Estado, tirania, liberdade, escravidão, entre tantas outras coisas. Isso tudo com muito humor e seriedade ao mesmo tempo.”
Haverá festa com o que restar. Francisco Mallmann.
Urutau (2018).
Indicado pela cantora e atriz Letrux, que é também autora de Zaralha: abri minha pasta (Guarda-Chuva, 2015) e Tudo que já nadei: ressaca, quebra-mar e marolinhas (Planeta, 2021), no episódio “Matemática para quem é de humanas”.
“Acho a poesia do Francisco muito específica, muito genuína, muito curiosa. Francisco me faz rir, me faz chorar, e eu acho isso muito importante. Quando qualquer ação artística, eu quero um passeio completo das sensações, sabe? Não quero só rir, nem quero só chorar. Eu quero ser perturbada, incomodada, acariciada, machucada, e acho que esse livro me causa tudo isso.”
Mrs. Dalloway. Virginia Woolf.
Autêntica (2025).
Indicado pela cantora e compositora Alice Caymmi, que explora na música questões da sexualidade e da diversidade de gêneros que por muito tempo foram tabu na MPB, no episódio “Poesia do cotidiano”.
“Eu acho Mrs. Dalloway um livro que traz uma sensação corporal parecida com o que acontece na nossa comunidade, com todos nós. Quando a gente vem ao mundo e tenta ser como a gente é. Tenta ser quem nós somos. Então, para mim, Mrs. Dalloway é não só um dos livros mais importantes da minha vida, como se encaixa nesse rol também para mim de literatura LGBTQIA+.”
Neca. Amara Moira.
Companhia das Letras (2024).
Indicado pelo Renan Quinalha, professor de direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autor de Movimento LGBTI+: uma breve história do século 19 aos nossos dias (Autêntica, 2022), no episódio “Formas de afeto”.
“O livro é todo baseado num relato, numa narrativa bastante frenética, numa oralidade muito marcada na linguagem de uma travesti mais velha que reencontra um amor do passado, que é uma travesti mais jovem”, descreve Quinalha. “E ela vai relatando a sua vida, suas viagens, suas experiências sexuais, os fetiches, enfim, numa linguagem toda muito provocativa, com muitas passagens engraçadas também, com um humor muito afiado.”
Lord Lyllian – Missas Negras. Jacques d’Adelswärd-Fersen
Ercolano (2024).
Indicado pelo editor e tradutor Régis Mikail, no episódio “De quatro com Miranda July”.
“O romance narra como eles se conhecem, como o Harold Skilde desperta o amor pela literatura nesse jovem rapaz e conta também uma história de abuso bastante delicada. Apesar disso tudo, tem muita comédia e muitas representações e descrições do que era a cena LGBTQIA+ na França daquela época”.
Santíssimo. Rafael Amorim.
Urutau (2023).
Indicado pelo poeta Leo Nunes, autor de Está na hora de me tornar um homem sério (Minimalismo, 2023), finalista do Prêmio Jabuti em 2024, no episódio “São Paulo é uma festa”.
“É um livro de poesia em que o Rafael trabalha com uma construção de memórias desde uma infância, em constante tensão com a sexualidade, até a vida adulta e o corpo não normativo que caminha pelo espaço geográfico da cidade“, diz Nunes. “O Rafael, a meu ver, faz parte de um grupo de autores atuais que está interessado em produzir e escrever a partir de sua realidade e existência. Mas o que mais me interessa no livro é como esse recorte não se limita apenas a um questionamento sobre a sexualidade, mas transborda ao colocar também em xeque uma questão de classe.”
Dedo no Cu y Gritaria. Mercedes Sonsa.
Uruatu (2022).
Indicado pela escritora Amara Moira, autora de Neca: romance em bajubá (Companhia das Letras, 2024), no episódio “O poeta no divã”.
“Essa coletânea mergulha a fundo na sordidez, desfilando corpas transviadas que não se contentam com prazeres simples: os buracos que temos e as mil maneiras de penetrá-los, nossos fluidos, o papel da dor e da humilhação, tesão pelos ocós mais lixos e também o tchaca-tchaca gostosinho com boycetas. Agora imagina isso tudo numa linguagem babadeira, macunaímica, gozosa pencas!”
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