Listão da Semana,

A ‘Odisseia’ comentada e mais 10 lançamentos

O título que virou sinônimo de grandiosas jornadas ganha primorosa edição comentada pelo tradutor Frederico Lourenço

04abr2023 | Edição #68

Antes dos pileques homéricos cantados por Chico e da viagem kubrickiana ao espaço havia os 12 mil versos da Odisseia. O título que virou sinônimo de grandiosas jornadas, de autoria do pensador que adjetiva feitos épicos, chega nesta semana às livrarias em uma primorosa edição comentada pelo tradutor Frederico Lourenço. Leitura valiosa para amantes de literatura, história, filosofia e a cultura em todas as suas formas.

Completam a seleção da semana uma nova antologia de ensaios do pensador francês Edgar Morin, a biografia da arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, uma análise do Antropoceno segundo o pensamento científico moderno e uma reunião de textos sobre mulheres negras e ancestralidade, além de outras novidades quentinhas.

Odisseia (Edição comentada). Homero.
Companhia das Letras • Tradução, notas e comentários de Frederico Lourenço • 704 pp • R$ 139,90/49,90

Cada canto da Odisseia vem nesta edição acompanhado de comentários cuidadosamente pensados pelo helenista português Frederico Lourenço, responsável pela premiada tradução publicada originalmente em 2003 e agora inteiramente revista. Entre as notas estão reflexões sobre temas como a estrutura narrativa do poema, problemas de teor linguístico e geográfico e a inter‑relação com a Ilíada.

Trecho do prefácio, por Frederico Lourenço:
“Traduzir e comentar Homero significa participar de uma tradição milenar que já vem desde o século III a.C., quando, por um lado, os grandes estudiosos da Biblioteca de Alexandria (Zenódoto e, mais tarde, Aristarco) deram início à tarefa de escrever notas e comentários à poesia homérica e, por outro, em Roma foi feita a primeira tradução da Odisseia por Lívio Andrônico, escravo manumisso e homem de letras, que traduziu o poema para o latim”.

Ouça também: No podcast 451 MHz, a poeta Luiza Romão conversa sobre a Ilíada, inspiração para os poemas de Também guardamos pedras aqui, vencedor do Jabuti de Livro do Ano de 2022.

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O inconsciente corporativo e outros contos. Vinícius Portella. 
DBA • 216 pp  • R$ 59,90

A tecnologia é o fio condutor dos nove contos de Portella, que versam sobre as consequências de uma geração que se vê cada vez mais atraída pelos supostos benefícios do mundo digital, entre aplicativos, criptomoedas, redes sociais e inteligência artificial.

Em entrevista à Quatro Cinco Um, o autor brasiliense diz: “Não gostaria que o livro soasse antitecnologia, anti-internet. Porque a culpa não é só da tecnologia, é de uma noção de cultura, dessa disputa cruel por nossa atenção. […] Os contos lidam com essa estranheza de perceber que o virtual está engolindo o mundo real”. Leia na íntegra.

Leia também: Ian McEwan apresenta sua versão de robô inteligente e questiona a ética envolvendo essas criaturas

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Despertemos! Um chamado para o despertar das consciências. Edgar Morin. 
Bertrand Brasil • Tradução de Ivone Benedetti • 61 pp • R$ 48,90

Nessa reunião de ensaios, o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, que segue lúcido aos 101 anos, revisita as ideias reacionárias que afetaram e ainda afetam seu país. Ele também evoca a derrota intelectual da esquerda e faz um apelo para que se dê a devida atenção a temas urgentes para o planeta, como a questão ambiental — que, segundo o autor, “está como que anestesiado num sonambulismo geral”.

Leia também: Longe da extrema direita e do udenismo, a terceira via do reacionarismo só é progressista até perder prestígio ou poder

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Niéde Guidon: uma arqueóloga no sertão. Adriana Abujamra. 
Rosa dos Tempos/Record • 256 pp • R$ 54,90

A jornalista Adriana Abujamra conta a trajetória da arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, que identificou e mostrou ao mundo, nos anos 70, as pinturas rupestres no local que viria a ser o Parque Nacional da Serra da Capivara, patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. A descoberta no sul piauense gerou novas hipóteses de pesquisa sobre a ocupação humana na América do Sul. Guidon também fundou o Museu do Homem Americano e o Museu da Natureza. O livro é o primeiro volume da Coleção Brasileiras, com foco em mulheres revolucionárias das artes, das ciências, do meio ambiente e da política.

Leia também: Décadas de estudo pintam um retrato milenar de ocupação humana da floresta Amazônica

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O Antropoceno e as humanidades. José Eli da Veiga.
Editora 34 • 208 pp • R$59,00

O livro faz um balanço crítico do pensamento científico mundial a respeito do Antropoceno, época a partir da qual o ser humano passou a ser o principal vetor de mudanças na biosfera. Partindo das discussões do homem com a natureza em Darwin e Marx, o autor examina o debate atual a partir das teorias contemporâneas de nomes como David Graeber, Bruno Latour e Martin Rees.

Leia também: José Eli da Veiga amplia o debate sobre o Antropoceno e nos diz que não há resposta simples diante do colapso da civilização

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Mulher negra e ancestralidade. Marise de Santana e Josildeth Gomes Consorte (orgs.). 
Selo Negro Edições • 184 pp • R$ 84,40

Mulheres de diversas áreas refletem nesta antologia sobre a ancestralidade como base para a construção de um futuro permeado de conhecimento, arte e justiça social. Entre os temas abordados nos ensaios estão a educação nos terreiros de candomblé, a resistência aos casamentos prematuros em Moçambique, a sabedoria das costureiras e vendedoras de acarajé do Recôncavo Baiano e a luta das mulheres amazônicas de Mazagão Velho, no Amapá.

Leia mais: Coletânea de escritos de mulheres quilombolas é obra essencial para construir um país menos desigual

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

A retórica. Brunetto Latini.
Trad., apres. e notas de Emanuel França de Brito • Editora 34 • 208 pp • R$ 62

Primeira tradução para o português da versão de Latini do importante texto medieval assinado por Cícero, que aborda a importância da oratória na política.

Janelas abertas: conversas sobre arte, política e vida. Eleonora Fabião e Adriana Schneider (orgs.).
Cobogó • 336 pp • R$ 72,00/54,00

Reflexões de 42 grandes nomes da arte e da cultura contemporânea sobre cultura, sociedade e formas sustentáveis de existência.

Seleta: um mundo de brevidades. João Anzanello Carrascoza.
Record • 272 pp • R$ 54,90

Contos e trechos de romances selecionados do escritor paulista vencedor de três prêmios Jabuti.

Stella Maris. Cormac McCarthy.
Trad. Cássio de Arantes Leite • Alfaguara • 184 pp • R$ 59,90

Segundo volume do díptico iniciado com O passageiro, de autoria do autor vencedor do Pulitzer em 2007.

Triste não é ao certo a palavra. Gabriel Abreu.
Companhia das Letras • 208 pp • R$ 64,90/34,90

Livro de estreia do escritor carioca, em que aborda legado, memória e afeto na relação entre uma mãe e um filho.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Matéria publicada na edição impressa #68 em março de 2023.