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Luiz Gama: pensamento e resistência

Pioneiro dos direitos humanos que defendeu mais de quinhentos negros escravizados injustamente é capa da edição de agosto

01ago2020 | Edição #36 ago.2020

A capa da Quatro Cinco Um de agosto, que tem arte de Marcelo D'Salete (@marcelo.dsalete), traz um especial sobre Luiz Gama, jornalista e advogado pioneiro dos direitos humanos no Brasil. Lições de resistência, livro recém-publicado por Ligia Fonseca Ferreira, especialista na obra de Gama, revela cerca de quarenta artigos inéditos que ele publicou na imprensa de Rio e São Paulo, mostrando sua atuação em defesa de mais de quinhentos negros escravizados ilegalmente e sua atitude de resistência como estratégia de combate às injustiças.

Autor de Cumbe e Angola Janga (vencedor do Troféu HQ Mix e do Prêmio Jabuti), ambos pela editora Veneta, Marcelo D’Salete fala sobre o processo de criação da capa desta edição: “Tem muito a ver com minha forma de desenho nos últimos anos. Acabo entrando no fundo com uma cor mais escura e, depois, vou trabalhando com a tinta branca nos pontos de luz. Além do desenho do Luiz Gama em preto, quis realçar a questão da escrita, algo que ele dominava, com a pena”. Ele conta também que ao fundo é possível ver a construção da antiga Faculdade de Direito: “Embora Gama tenha sido proibido de cursá-la, ao que parece,ele chegou a ter acesso à sua biblioteca, o que foi muito importante pra sua formação como rábula e advogado.”

O escritor e ilustrador ressalta a indiscutível importância da obra de Gama para o movimento negro e fala sobre a relevância de ele ter assumido o controle de sua própria narrativa. “Sua trajetória é fantástica, e penso que ele foi um dos primeiros a escrever isso de uma forma tão rica e interessante, a se posicionar enquanto negro num contexto extremamente racista, a elaborar uma imagem da África de uma forma positiva, idílica até”, diz ele, que destaca que, no século 19, a imagem que se tinha da África era muito diferente daquela que se tem hoje. “A África era o espaço do vazio, onde não havia história, onde não havia realizações dignas de respeito, onde não havia civilização. Luiz Gama foi um dos intelectuais negros que fez um contraponto a isso.” 

Para D’Salete, que atualmente trabalha em diferentes projetos de histórias em quadrinhos — “Um deles trata do Brasil do século 19, outro do mais contemporâneo, das últimas décadas, e tenho desenvolvido esses trabalhos num estilo de desenho semelhante a esse desenho da capa da Quatro Cinco Um” —,  conta que havia tempos queria fazer um retrato de Luiz Gama: “Considerei este o momento ideal para fazer essa imagem, uma pequena homenagem a essa pessoa extraordinária”.

Também nesta edição

A revista deste mês traz ainda artigos sobre Machado De Assis descrito por seus pares, a violência policial de Parelheiros ao Alabama, a literatura Young Adult brasileira, James Baldwin e o #BlackLivesMatter, o design gráfico de Milton Glaser e aquilo que (não) aprendemos com a Gripe Espanhola.

Completam a edição de agosto textos sobre os escritores Elena Ferrante, Otto Lara Resende, Goethe, Clarice Lispector, Carolina Maria de Jesus, Neil Gaiman e Herta Müller, entre outros; além de entrevistas com a cineasta Anna Muylaert e as ganhadoras do prêmio Hans Christian Andersen, Albertine e Jacqueline Woodson.

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Matéria publicada na edição impressa #36 ago.2020 em maio de 2020.