Psicologia,

O caso Britney S

Memórias da cantora retratam o jeito do nosso tempo de flertar com a loucura e reagir em vez de elaborar

01fev2024

Desde os dezoito anos, quando lançou um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos por uma artista solo adolescente, Baby One More Time, em 1999, Britney Spears viu sua vida se tornar pública. Agora, a montanha-russa dos últimos 25 anos chega ao público sob outra perspectiva — a de Britney. Inevitável pensar no custo do estrelato e nas possibilidades de um objeto de desejo aspirado pelas massas ser um sujeito livre. A mulher em mim traz fragmentos de uma das histórias mais impressionantes que a cultura hipermidiática produziu no século 21, e também relatos de uma mulher solitária, tanto no topo como no fundo do poço. Parece especialmente sádico que os roteiristas da vida tenham escolhido que alguns dos maiores hits de Britney Spears sejam sobre submissão e toxicidade.


A mulher em mim, de Britney Spears, é um lembrete de como não fazemos ideia de quem ela é e muito menos do seu sofrimento

De maneira geral, as 280 páginas de memórias de Britney narram a trágica trajetória de alguém que já ocupou o lugar de “maior estrela do planeta”, título digno desta época em que somos movidos a doses cavalares de narcisismo. Os 49 capítulos descrevem uma série de experiências de extremo desamparo. E também fazem pensar no jeito do nosso tempo de flertar com a loucura. Nesse sentido, o livro também pode ser lido como uma espécie de tratado emblemático do contemporâneo, um estudo clínico que faz refletir sobre os processos de subjetivação — e adoecimento — nos anos 2020. Temos em mãos “O caso Britney S”.

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Quem escreveu esse texto

André Alves

Psicanalista, pesquisador e escritor, é coautor de Vibes em análise: psicanálise para escutar as vibrações da cultura contemporânea (Companhia Editora Nacional, 2023).