‘Não há alimentação saudável na família sem divisão de tarefas’, diz Rita Lobo

A cozinheira Rita Lobo, autora do projeto editorial Panelinha, que vem resgatando o valor da comida saudável e saborosa na mesa dos brasileiros, afirmou neste domingo (30), no debate “À mesa com Rita Lobo”, que falar em “comida com afeto” é uma abordagem machista.

Com mediação da jornalista especializada em vinhos Isabelle Moreira Lima, ela reforçou n’A Feira do Livro que não acredita em uma alimentação familiar saudável se não houver divisão de tarefas.

“Fazer comida tem a ver com afeto, você querer alimentar o outro, mas eu não gosto dessa abordagem de ‘comida afetiva’ porque ninguém questionaria se um homem não ama seu filho porque não cozinha para ele. Cozinhar é sim uma forma de cuidar do outro, mas, primeiramente, é uma maneira de cuidar de si”, disse a cozinheira.

“Para muitas mulheres, a cozinha é como seu reino, algo como ‘pelo amor de Deus, me deixa aqui em paz e não mexa nas minhas panelas’. Mas, olhando para a frente, acredito que esse afeto tem que ser familiar”, completou.

Cozinheira, apresentadora de TV e escritora, Lobo é autora de vários livros de culinária, entre eles, o clássico Panelinha: receitas que funcionam, originalmente publicado em 2010 e que ganhou nova edição pela Senac São Paulo em 2023. Panelinha é também o nome do site que ela criou no ano 2000 e que explica as receitas em tom de conversa, sugerindo ingredientes de fácil acesso e sem ultraprocessados. Ao longo de duas décadas, o projeto se desdobrou em uma editora de livros, produtora de TV, canal no YouTube e uma escola.

“Há trinta anos, quero o mesmo: fazer todo mundo cozinhar. Acredito que cozinhar é libertador por inúmeros motivos”, afirmou Lobo. Conversando com os pais, que estavam sentados na primeira fila da plateia, ela relembrou um hábito familiar que, quando pequena, achava uma chatice.

“Quando eu era pequena, tinha hora para sentar à mesa, não podia atrasar e não podia sair enquanto o último não terminasse de comer. Hoje, percebo que a hora do jantar é importante, é quando aprendemos a ouvir e trocar. Acredito que, para as famílias, o momento de troca tem que estar na cozinha. É uma maneira de criar a habilidade para cozinhar.”

Sem ultraprocessados

Questionada pela plateia sobre o que fazer com alguém cuja base da alimentação são ultraprocessados – alimentos que passam por inúmeros processos industriais e que geralmente têm muita gordura, açúcares e sódio – Lobo contou uma história.

“Uma amiga jurou que não comia alimentos ultraprocessados. Mas certo dia, em um café da manhã na casa dela, tinha pão de forma, suco de caixinha e cereais matinais. Pedi para ela ler os rótulos e a surpresa foi grande: ‘Puts, não acredito que estou comendo isso, não sabia’”, contou.

A autora emendou falando sobre a alimentação das crianças, e citou o livro Comida de bebê: uma introdução à comida de verdade (Sesc/Panelinha). “Criança come o que tem em casa. Então, não compre. Não adianta você estar com a latinha de refrigerante na mão e falar pro filho que não pode tomar refrigerante”, disse.

“Comida de bebê não é papinha, é ‘PFinho’. São hortaliças, legumes e verduras, leguminosas, feijão, grão-de-bico ou lentilha, cereais, tubérculos e raízes.”

Comida de verdade no Guia Alimentar 

A cozinheira é uma defensora ativa das diretrizes apresentadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, elaborado pelo Ministério da Saúde. Panelinha: receitas que funcionam foi citado no guia, que é uma referência importante para promover a alimentação saudável e sustentável no Brasil.“Foi uma honra ter meu livro no guia, o único livro brasileiro indicado no documento oficial do país. Apesar de ser para a própria população brasileira, o guia é pensado para orientar políticas públicas, profissionais da saúde. Quando eu li o guia facilitou demais minha compreensão sobre alimentação. E é isso que também faço com o Panelinha, só que de uma maneira prática para o indivíduo”, acredita.

A Feira do Livro 2024

29 jun.—7 jul.
Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização da Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos voltada para a difusão do livro no Brasil, e da Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais. O patrocínio é do Grupo CCR, do Itaú Unibanco e Rede, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, da TV Brasil e da Rádio Nacional de São Paulo.