Festival literário,

Festival literário do Museu Judaico de São Paulo discute guerra em Gaza e outras crises urgentes

Terceira edição do FliMUJ reúne autores e pensadores do Brasil e do mundo sob o tema 'Como reparar o mundo?', de 18 a 21 de setembro

17set2024
Ilana Feldman, Iddo Gefen e Christian Dunker no FliMUJ em 2023 (Maressa Andrioli/Divulgação)

Entre quarta, 18, e sábado, 21, acontece a terceira edição do FliMUJ (Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo), com o tema “Como reparar o mundo?”. Mais de trinta autores e pensadores se reúnem no Museu Judaico, em São Paulo, em dez debates para discutir saídas para problemas contemporâneos. 

Além de escritores nacionais, como Carla Madeira, Fernanda Mena, João Paulo Charleaux, Ligia Gonçalves Diniz, Pedro Pacífico, Vladimir Safatle e Ilko Minev, búlgaro radicado em Manaus, o festival traz autores do Azerbaijão, Argentina, Cuba, Estados Unidos e Israel, entre outros países.

O tema desta edição é inspirado no conceito Tikun Olam, que em hebraico significa literalmente “reparar o mundo”, e se baseia em valores como justiça, compaixão e paz. Segundo o curador do evento, Daniel Douek, a questão ainda reforça outra crença judaica, que reconhece a força das palavras e diz que o mundo foi criado a partir delas. 

“É também por meio da palavra, matéria-prima da literatura, que o mundo pode ser reparado, ou recriado. Livros são capazes de nos levar a lugares distantes, onde encontros inesperados acontecem, ou de proporcionar mergulhos profundos dentro de nós mesmos”, diz Douek.

“Livros podem denunciar processos violentos, oriundos de desigualdades históricas, ou celebrar certa convivência entre grupos que formam alianças inusitadas diante de desafios comuns. Podem produzir acordos ou estimular controvérsias. Atenuar dissensos ou implodir consensos.”

Guerra

Em meio a tantas guerras, a crise climática e chegando à marca de um ano do início do conflito armado entre Israel e o Hamas, o diálogo sobre como imaginar novas formas de existir individual e coletivamente nunca se fez tão urgente. “O fato é que um mundo renovado, antes de se tornar realidade, é imaginado. Por isso, neste momento decisivo, apostamos nessa potência criadora da palavra”, afirma Douek.

Para isso, as dez conversas — gratuitas e abertas ao público — giram em torno de relações humanas, identidades, guerras e liberdades. Na abertura da programação, o ativista israelense Gershon Baskin, responsável por conduzir a negociação secreta entre o governo de Israel e o Hamas na troca do soldado israelense Gilad Shalit por 1027 prisioneiros palestinos, em 2011, reflete sobre como terminar uma guerra, em conversa com a jornalista Thais Bilenky, na quarta-feira (18), às 19h. Autor de diversos livros, entre eles Israel e Palestina: um ativista em busca da paz (Ayllon, 2021), Baskin vive em Jerusalém e dirige o Holy Land Bond, um fundo de investimento voltado à reconciliação entre Israel e Palestina.

No sábado, 21, às 15h, os jornalistas Fernanda Mena e João Paulo Charleaux conversam sobre a cobertura da mídia da guerra em Gaza e seus impactos na opinião pública. A mediação é da também jornalista Anita Efraim, coordenadora de comunicação do Instituto Brasil-Israel.

Liberdade e escrita

Na sexta-feira (20), às 17h, os autores Avraham Milgram, que nasceu em Buenos Aires e mora em Israel, e Leonardo Padura, romancista cubano autor de Hereges (Boitempo, 2015), discutem igualdade e liberdade. 

A escritora argentina Ariana Harwicz, que lança Perder o juízo, publicado no Brasil pela Instante, fala com o roteirista e autor brasileiro Antonio Prata sobre a escrita  em tempos de polarização ideológica, crise de imaginação, profusão de clichês e cancelamentos, na quinta-feira (19), às 19h. 

Já a escritora Olga Grjasnowa, nascida no Azerbaijão, radicada em Viena e autora do best-seller City Of Jasmin, conversa com Daniel Galera no sábado (21), às 11h, sobre como escrever ficção pode ajudar a entender a si mesmo e a imaginar o lugar do outro.

Algoritmos da literatura

Despertar o interesse pela literatura na era das redes sociais não é uma tarefa fácil. Para discutir esse problema, no sábado, 21, às 19h, o influenciador digital de livros Pedro Pacífico conversa com a também influenciadora digital Courtney Henning Novak, cujas reações após ler Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, viralizaram nas redes sociais. Outra mesa que também questiona o humor como estratégia crítica de transformação social acontece no sábado, 21, às 17h, com os atores Ilana Kaplan e Marcelo Laham.

O Museu Judaico de São Paulo é a maior instituição de arte judaica da América Latina e que tem o maior acervo no Brasil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil títulos para consultas e um café que serve comidas judaicas. A entrada será gratuita durante o festival. Nos dias comuns, funciona de terça a domingo e o valor do ingresso inteira é de R$ 20 — e gratuito aos sábados. 

Programação FliMUJ 2024

Mesa 1 | 18 de setembro, quarta-feira, às 19h

Como terminar uma guerra?
Com Gershon Baskin
Mediação: Thais Bilenky 

Mesa 2 | 19 de setembro, quinta-feira, às 17h

Que Brasil é esse?
Com Carla Madeira e Ilko Minev
Mediação: Adriana Ferreira Silva

Mesa 3 | 19 de setembro, quinta-feira, às 19h

Você quer que eu te conforte ou que eu te confronte?
Com Antonio Prata e Ariana Harwicz
Mediação: Rita Palmeira 

Mesa 4 | 20 de setembro, sexta-feira, às 11h

O que fazer quando tudo está em crise?
Com Ligia Gonçalves Diniz e Vladimir Safatle
Mediação: Daniel Douek 

Mesa 5 | 20 de setembro, sexta-feira, às 15h

Qual é a cor do seu inconsciente?
Com Isildinha Baptista Nogueira e Lia Vainer Schucman
Mediação: Ilana Katz 

Mesa 6 | 20 de setembro, sexta-feira, às 17h

Você também se tornou um herege?
Com Avraham Milgram e Leonardo Padura
Mediação: Micheline Alves

Mesa 7 | 21 de setembro, sábado, às 11h

Ser ou não ser judeu?
Com Daniel Galera e Olga Grjasnowa
Mediação: Antônio Xerxenesky

Mesa 8 | 21.09, sábado, às 15h

Quem se importa com os fatos quando estamos em guerra?
Com Fernanda Mena e João Paulo Charleaux
Mediação: Anita Efraim 

Mesa 9 | 21 de setembro, sábado, às 17h

Rir agora é de bom tom?
Com Ilana Kaplan e Marcelo Laham
Mediação: Rosana Hermann

Mesa 10 | 21 de setembro, sábado, às 19h

Por que não me avisaram que esse é o melhor livro já escrito?
Com Courtney Henning Novak e Pedro Pacífico
Mediação: Marília Neustein

Serviço:

FliMUJ (Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo)

Data: 18 a 21 de setembro
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Ingresso: Entrada gratuita durante o festival
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida

Quem escreveu esse texto

João de Mari

É jornalista e editor assistente da Quatro Cinco Um.