Literatura brasileira, Poesia,
Poesia escrita com o corpo
Paulo Leminski, que completaria 80 anos, revolucionou o gênero literário com uma linguagem que desafiava as convenções; veja oito livros para conhecer o poeta
23ago2024No judô, quando os pés dos atletas tocam o tatame, o tempo parece desacelerar e os corpos, mesmo rígidos, precisam se render à suavidade. Cada movimento é como um verso fluido, calculado, mas imprevisível. Assim como na arte marcial, Paulo Leminski encontrou o equilíbrio entre corpo e mente para compor sua obra poética.
Nascido em Curitiba, em 1944, a relação do poeta, escritor, tradutor e compositor com o judô começou na adolescência, quando ainda morava na capital paranaense (morou depois em São Paulo e no Rio de Janeiro). Em diversas entrevistas, ele, que foi faixa-preta no esporte, mencionava o impacto da arte marcial em sua vida, comparando a leveza dos movimentos com a busca pela simplicidade e precisão na poesia.
Já na literatura, o autor de diversos livros como Catatau (Edições do Autor, 1975), uma prosa experimental, e a coletânea de poemas Distraídos venceremos (Brasiliense, 1987) é conhecido por misturar elementos do haicai japonês — tipo de poema que mescla a concisão à reflexão sobre a passagem do tempo e a relação com a natureza —, referências eruditas, MPB e até jargão publicitário, o que mantém sua poesia popular até hoje.
Leminski morreu em 1989, em decorrência de uma cirrose hepática. Ele completaria 80 anos no dia 24 de agosto e, para homenageá-lo, o Festival Paulo Leminski 80 Anos reunirá nomes da cultura brasileira no dia de seu aniversário na pedreira que leva seu nome, em Curitiba, cidade que foi centro de sua produção literária e cultural. Haverá apresentações de músicas e conversas literárias.
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Seja pelo farto bigode, a escrita sem letras maiúsculas, sem pontuações ou palavras que precisam de um dicionário para entender, Leminski se tornou uma espécie de poeta pop entre as gerações mais jovens de leitores e escritores. Mesmo quem não gosta de poesia já deve ter se deparado com algum de seus textos.
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Se você ainda não o leu, a Quatro Cinco Um reuniu oito livros para descobrir o autor. Confira a seguir.
A lua no cinema
Um dos poemas mais conhecidos do autor, publicado no livro Distraídos venceremos, foi editado pela Ficções e acaba de ser lançado em uma edição infantojuvenil para comemorar os 80 anos de nascimento do poeta. As ilustrações são de Marcio Levyman.
Toda poesia
Publicado em 2013 pela Companhia das Letras, é uma antologia que reúne toda a obra poética de Paulo Leminski. A coletânea é dividida em seções que correspondem a diferentes livros de poesia do autor, como Caprichos & relaxos e Distraídos venceremos, além de reunir outros poemas inéditos.
Caprichos & relaxos
Publicado originalmente em 1983 e reeditado pela Companhia das Letras em 2016, é uma das mais conhecidas obras do autor. A coletânea de poemas exemplifica a habilidade única de Leminski de unir leveza e profundidade, humor e lirismo, abordando temas como amor, solidão, tempo e morte.
Distraídos venceremos
A coletânea reúne uma série de poemas curtos, nos quais o curitibano explora temas como o cotidiano e a própria criação poética. Publicado pela primeira vez em 1987, foi reeditado pela Companhia das Letras em 2017.
Catatau
Publicado originalmente em 1975, o romance experimental ganhou nova edição em 2010, pela Iluminuras. No enredo, o filósofo francês René Descartes, em vez de ter permanecido na Europa durante o século 17, teria vindo para o Brasil em meio às invasões holandesas. Ele, então, vive uma espécie de delírio tropical, onde suas reflexões entram em confronto com a exuberância da paisagem brasileira.
La vie en close
Publicado postumamente em 1991, é uma coletânea de poemas que reflete a maturidade poética do autor. O título é um trocadilho com a canção francesa “La Vie en Rose”, ou “a vida em cor de rosa”, algo como estar apaixonado e ver o mundo mais bonito, mas os poemas de Leminski sugerem uma visão da vida mais introspectiva e realista. Foi reeditado pela Companhia das Letras em 2024.
Agora é que são elas
Mesclando humor e ironia, a coleção de poemas lançada em 1984 e reeditada pela Iluminuras em 2014, explora as relações humanas. Apesar de serem repletos de nuances, os poemas mantêm a linguagem simples e acessível.
Ensaios e anseios crípticos
Publicado em 1986, é uma coletânea de textos selecionados pelo próprio autor que exploram profundamente os temas recorrentes em sua obra, como criação, cultura, arte, poesia e linguagem. Em 2012, a Editora da Unicamp os reuniu e relançou o livro em três volumes.