Quatro Cinco Um,

Repertório 451 MHz #1: Especial Flip

Listas, links, sugestões de leitura e informações sobre os entrevistados do episódio de estreia do nosso podcast

09jul2019

Está no ar o primeiro episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Dedicamos esta edição à Festa Literária Internacional de Paraty. 

Nossos convidados neste episódio são a curadora do festival, Fernanda Diamant, que também é editora de divulgação científica da revista; Paulo Roberto Pires, colunista da Quatro Cinco Um; dois jovens autores convidados para a programação principal — a cearense Jarid Arraes e o carioca Miguel Del Castillo —, a poeta, pesquisadora e slammer Roberta Estrela D’Alva e dois colaboradores da revista que resenharam o mesmo livro, Cat Person e outros contos (Companhia das Letras), de Kristen Roupenian: Xico Sá e Tati Bernardi.

A cada episódio, a página Repertório 451 MHz reunirá links para os livros citados, além de listas, sugestões de leitura e outras indicações para se aprofundar nos temas discutidos. A íntegra das entrevistas está disponível no site da revista, com acesso para assinantes. 

O podcast 451 MHz está disponível gratuitamente no site da revista e também nos principais tocadores de podcasts. Ele será publicado na primeira e na terceira sexta-feira de cada mês — a primeira edição foi antecipada para antes da Flip. 

A apresentação é do editor da revista, Paulo Werneck, e a direção é de Paula Scarpin, da Rádio Novelo, start-up de podcasts que produz o 451 MHz para a Quatro Cinco Um.

Introdução 
Paulo Werneck: Bem-vindos ao 451 MHz— quem somos e por que estamos aqui

A revista Quatro Cinco Um circula há dois anos e tem como objetivo pôr em circulação as informações sobre os livros lançados no Brasil e levar o livro para o centro das discussões do país. 

O nome é inspirado em Fahrenheit 451, romance de Ray Bradbury que se tornou cult ao ser filmado por François Truffaut nos anos 1960. Na escala Fahrenheit, a temperatura em que o papel entra em combustão é 451 graus (ou 232 na escala Celsius). 

Na primeira edição da revista, de maio de 2017, Sérgio Augusto explicou num pequeno ensaio por que essa história se tornou um símbolo da luta contra o obscurantismo. Em 2018, o canal HBO produziu uma nova adaptação do clássico — nós publicamos um texto do diretor Ramin Bahrani.

Bloco 1 
Fernanda Diamant: “A Flip tem uma relação com o público leitor”

A curadora da Flip 2019 comenta a programação, a escolha de Euclides da Cunha como autor homenageado e a história do festival, que tem início na quarta-feira (10) e vai até domingo (14), em Paraty (RJ).

Como ocorre em todos os anos, a homenagem da Flip a Euclides da Cunha suscitou a publicação de diversos livros do autor: Os sertões ganhou novas edições, foram publicadas coletâneas de ensaios de sua autoria, estudos de sua obra e até mesmo uma adaptação para os quadrinhos. 

A programação da Flip 2019 investe na articulação entre manifestações artísticas — como o cinema, o teatro, a canção, a fotografia, a arquitetura e literatura — e jornalismo, história, ciências, meio ambiente e direitos humanos. A Quatro Cinco Um publicou uma página especial com os lançamentos da Festa de Paraty.

Cofundadora e editora de divulgação científica da Quatro Cinco Um, em projeto que tem apoio do Instituto Serrapilheira, Fernanda Diamant resenhou, no Especial Flip 2017, Peste e cólera, o livro de Patrick Deville sobre Alexandre Yersin, o descobridor do agente causador da peste. Na Flip 2018, Fernanda co-organizou a Minimaratona Philip Roth, programação realizada pela Quatro Cinco Um em Paraty.

Bloco 2 
Jarid Arraes: "Eu queria escrever cordéis sobre histórias que eu não tinha lido em cordel ainda”

Nesta conversa, Jarid Arraes conta como o pai e o avô, ambos cordelistas, a influenciaram na decisão de ser escritora — e como ela subverteu o machismo e os clichês do cordel. Jarid conta ainda sobre a experiência de publicar por uma grande editora após editar e divulgar a própria obra de maneira artesanal.

A autora cearense, nascida em Juazeiro do Norte, em 1991, se tornou conhecida ao se apropriar da linguagem tradicional do cordel com temáticas transgressivas como o feminismo, a literatura negra e as discussões sobre gênero. 

As lendas de Dandara, livro de 2015, é um exemplo dessa pegada: narra a história de Dandara dos Palmares, guerreira e companheira de Zumbi no quilombo mais famoso de nossa história.

Lançado pela editora Pólen em 2016, Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis projetou nacionalmente o nome de Jarid Arraes. 

Em 2018, Jarid publicou os poemas de Um buraco com meu nome, primeiro lançamento do selo Ferina, voltado à descoberta de autores brasileiros. 

Na Flip, ela lança seu primeiro livro por uma grande editora, Redemoinho em dia quente (Alfaguara/Grupo Companhia das Letras). Ela conversa no sábado com a americana Carmen Maria-Machado, autora de O corpo dela e outras farras, publicado pela Planeta. A mediação da mesa, intitulada Vila Nova da Rainha, é de Adriana Couto, apresentadora do Metrópolis, na TV Cultura. 

Jarid Arraes é colaboradora frequente da Quatro Cinco Um: já publicou uma resenha de Úrsula, o romance que a autora negra Maria Firmina dos Reis publicou pioneiramente em 1859. Recentemente redescoberto, o livro ganhou quatro diferentes edições em 2018: pela Companhia das Letras, pela PUC Minas, pela Taverna e pela Zouk. 

Jarid também escreveu sobre livros infantis de temática africana — Na aldeia dos crocodilos, de Silvia Dunduro, e O caçador de ossos, de Emanuel Lipanga, ambos da editora Kapulana, e Nuang: caminhos da liberdade, de Luciana Nabuco, da editora Piraporiando. Em novembro de 2018, a resenha que Jarid escreveu de Deus ajude essa criança, romance de Toni Morrison, foi um dos textos da capa da Quatro Cinco Um.

Bloco 2 
Miguel Del Castillo

Nesta conversa, Miguel Del Castillo fala do livro que lança na Flip, o romance Cancún, publicado pela Companhia das Letras.

No podcast, ele comenta aspectos da história, um romance de formação que discute questões afetivas, ligadas à paternidade, e também culturais — a adolescência do personagem, um garoto evangélico de classe média alta, se passa na Barra da Tijuca.

O romance é o desenvolvimento de um dos contos de seu elogiado primeiro livro, Restinga: dez contos e uma novela, lançado em 2015 pela Companhia das Letras.

Miguel Del Castillo reflete sobre a carreira literária — em 2011, ele foi uma das revelações selecionadas pela revista literária Granta na edição "Os melhores jovens escritores brasileiros" —, sobre a sua presença na Flip e sobre o ofício de editor e tradutor. 

De origem uruguaia, Del Castillo traduziu livros de autores latino-americanos como Alejandro Zambra (Múltipla escolha e A vida secreta das árvores, Tusquets/Planeta), David Trueba (Blitz, Tusquets/Planeta) e Julián Herbert (Cantiga de findar, Rocco). 

Bloco 3 
Paulo Roberto Pires: "Esta Flip discute ostensivamente o Brasil. Eu não poderia esperar outra coisa"

Jornalista, crítico, editor e escritor, Paulo Roberto Pires fez parte do núcleo que criou a Flip no início dos anos 2000, tendo trabalhado com o então curador Flávio Pinheiro na elaboração da primeira programação do festival. Nesta entrevista ele comenta a história do festival, sua importância para a literatura brasileira e os pontos altos da programação deste ano.

Desde então, esteve no festival nas mais diferentes posições: como editor, levou autores convidados; em quase todas as edições, atuou como mediador e como programador das atividades da Casa do IMS em Paraty, em especial as entrevistas da Rádio Batuta.  Em 2019, ele vai entrevistar a antropóloga Aparecida Vilaça, autora de Paletó e eu (Todavia) e vai conduzir atividades na Casa do IMS. 

Todo ano, Pires publica uma edição especial da revista de ensaios Serrote, do Instituto Moreira Salles. A “serrotinho” tem circulação exclusiva em Paraty e traz materiais sobre os autores homenageados, textos de autores convidados e outros conteúdos relacionados à festa — neste ano, ele publica cartas trocadas entre Euclides da Cunha e Vicente de Carvalho. 

Dedicada ao ensaísmo e às artes visuais — o design e a curadoria visual são de Daniel Trench, um dos autores do projeto da Quatro Cinco Um —, a Serrote está na edição 32, que trata do fascismo. Em 2018, ele organizou a antologia Doze ensaios sobre o ensaio — Antologia Serrote, publicada pelo Instituto Moreira Salles. O livro foi resenhado na Quatro Cinco Um por Marcelo Coelho.

Em 2017, Paulo Roberto Pires publicou A marca do Z: A vida e os tempos, do editor Jorge Zahar, livro que foi resenhado na Quatro Cinco Um por Luiz Schwarcz. Pires é autor ainda de um romance, Se um de nós dois morrer (Alfaguara), e do perfil Hélio Pellegrino: A paixão indignada (1998).

Tendo publicado na primeira edição da revista um texto sobre Os brilhos todos, livro do ensaísta Alexandre Eulalio, em 2019 Paulo Roberto Pires se tornou colunista da revista dos livros, publicando duas vezes por mês: na primeira e na terceira quinta-feira de cada mês. Na edição de julho, ele resenhou Sobre lutas e lágrimas: uma biografia de 2018, de Mário Magalhães.

Bloco 4 
Xico Sá: "A gente não está acostumado a uma porrada dessas"

A observação de “modos de macho” e “modinhas de fêmea”, expressões que o autor cearense usou no título de um de seus primeiros livros, é um dos pilares da escrita de Xico Sá. Poucos, como ele, se dedicaram a descrever em crônicas os rituais de sedução, de convívio e fatalmente de separação entre homens e mulheres. 

Por isso a Quatro Cinco Um o convidou a resenhar, para a edição Especial Flip (julho), a coletânea de contos Cat Person, de Kristen Roupenian. O conto que dá nome ao livro viralizou por descrever a relação que mal nasce e já acaba mal entre uma jovem de 20 anos e um cara de 34. Publicado na revista The New Yorker, o conto viralizou, repercutiu até no Brasil e se tornou o símbolo do amor nos tempos do emoticon.

Neste episódio do 451 MHz, Xico faz uma autocrítica: "Vendo minhas crônicas do começo dos anos 90 para o último livro de crônicas, há uma evolução tremenda". O feminismo o levou a olhar de outra maneira para sua própria trajetória como autor e como homem: "Vendo hoje o repertório de absurdos que eu mesmo cometi". 

Não podemos dizer que ele não entende do assunto. Sobre o tema, ela publicou Os machões dançaram: Crônicas de amor e sexo em tempos de homens vacilões (Record). Modos de macho e modinhas de fêmea: A educação sexual de um homem é de 2003. 

Em 2014, saiu pela Três Estrelas O livro das mulheres extraordinárias, em que Xico Sá mostra sua “devoção escancarada” a mais de cem mulheres centrais na história e na cultura brasileira. 

O seu romance Big jato, da Companhia das Letras, traz as memórias de infância no Crato, Ceará. O livro foi adaptado para o cinema por Cláudio Assis, com Mateus Nachtergaele como protagonista.

A conversa de Xico Sá com Tati Bernardi está disponível aqui, para assinantes da Quatro Cinco Um.

Bloco 4 
Tati Bernardi: “Com Bolsonaro, é impossível não ser feminista”

A comédia sempre foi o filtro utilizado pela escritora e roteirista Tati Bernardi ao retratar os relacionamentos em seus textos. Depois de ter tido uma filha, depois da eleição de Bolsonaro — e depois de ler Cat Person, entre outras obras feministas que fizeram sua cabeça nos últimos tempos —, ela passou a questionar o humor como ferramenta única para enfrentar o machismo.

Tati é roteirista da TV Globo, colunista da Folha de S.Paulo e autora de oito livros e cinco filmes. Nesta conversa, ela fala sobre Cat Person, livro que resenhou para a Quatro Cinco Um

Escrito pela norte-americana Kristen Roupenian, autora convidada da programação principal da Flip 2019, leva o mesmo título de seu conto publicado na revista New Yorker, que viralizou na internet e narra o encontro mal-sucedido entre uma garota de 20 anos e um homem de 34.

Tati conta como ficou abalada com a história por se identificar com a dificuldade de sair de uma situação em que o ato sexual iminente está subentendido, falando sobre a noção de "estupro consentido" e lembrando da recente polêmica envolvendo o jogador Neymar. 

Convidada da 14ª edição da Flip, em 2016, Tati é autora de Depois a louca sou eu (Companhia das Letras, 2016), em que fala de ansiedade em crônicas que versam sobre amor, pânico e remédios tarja-preta, e Meu passado me condena (Paralela, 2015), que nasceu como série de TV, virou filme — com mais de 3,5 milhões de espectadores —, peça de teatro e, finalmente, livro. 

Em 2018, lançou Homem-Objeto e Outras Coisas Sobre Ser Mulher (Companhia das Letras), que reúne suas melhores crônicas e traz também a inédita "Meu marido joga videogame", sobre a experiência de ser mulher no mundo contemporâneo. Estreou na literatura em 2006 também com uma coletânea de contos, A Mulher que Não Prestava (Panda Books).

Bloco 5 
Roberta Estrela D’Alva: “O processo de descolonização não vai ser harmônico”

A atriz, poeta, apresentadora e pesquisadora Roberta Estrela D’Alva falou sobre seu trabalho na curadoria da apresentação do slam (batalha de poesias faladas) na Flip deste ano, sua pesquisa acadêmica voltada para o corpo e a voz e como não é possível fugir do conflito na hora das minorias ocuparem espaços consagrados a grupos dominantes. Com isso, afirmou que “processo de descolonização” não vai ser “harmônico” por ser violento.

A atriz ainda comentou do seu próximo trabalho no teatro, Terror e Miséria no Terceiro Milênio — Improvisando Utopias, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Livremente inspirado em Terror e Miséria no Terceiro Reich, de Bertolt Brecht, a peça está em cartaz até dia 28 de julho no Sesc Bom Retiro, em São Paulo.

Seis obras para “descolonizar” a mente na visão de Estrela D’Alva:

  • Angela Davis, Mulheres, raça e classe (Boitempo)
  • Achille Mbembe, Crítica da razão negra e Necropolítica (n-1 Edições)
  • Frantz Fanon, Condenados da terra (Editora UFJR); Peles Negras, Máscaras Brancas (Edufba)
  • Audrey Lorde, “Os usos da raiva: mulheres respondem ao racismo”, que está no livro Irmã outsider (Autêntica)

Quatro livros de Paul Zumthor, recomendados pela autora de Teatro hip-hop: a performance poética do ator MC (Perspectiva, 2014), que reúne em livro sua pesquisa acadêmica, voltada para o corpo e voz, orientada por Jerusa Pires Ferreira:

  • A letra e a voz (Companhia das Letras)
  • Introdução à poesia oral (Editora UFMG)
  • Escritura e nomadismo (Ateliê)
  • Performance, recepção e leitura (Ubu)

Cinco slammers que você precisa conhecer:

  • Mel Duarte, Fragmentos dispersos; Negra Nua Crua (Ijumaa); Querem nos calar: Poemas para serem lidos em voz alta (Planeta), com organização da poeta
  • Lucas Afonso, A última folha do caderno (Selo do Burro)
  • Emerson Alcalde, Diário bolivarianista (Autonomia Literária)
  • Victor Rodrigues, Deuses fazendo bolo, Sinceros insultos (Maloqueristas), Praga de poeta — poesia maloquerista e a coletânea Para quem gosta de poesia (Autografia) 
  • Samuel Borges, que publica poesias na sua página do Facebook, “Vivendo em versos”.

A entrevista para o podcast está disponível na íntegra para os assinantes da revista.

Ficha técnica:
O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo para a Quatro Cinco Um
Apresentação: Paulo Werneck
Direção: Paula Scarpin
Edição: Mari Romano e Paula Scarpin
Produção: Aline Scudeller
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi 
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Kellen Moraes
Gravado no estúdio Tyranosom
Para falar com a equipe: [email protected]