Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: outubro de 2017
Em parceria com o Itaú Social, publicamos resenhas de livros escolhidos por jovens
30set2020 | Edição #6 out.2017Anna Clara, 12
Carrasco, Walcyr. Irmão negro
ILUS. Herrero & Victor Tavares
Moderna • 80 pp • R$ 50
Um menino branco, chamado Léo, sempre quis um irmão, até que descobre que sua mãe não pode mais ter filhos. Um dia, Léo chega da escola e vê que sua mãe recebeu uma carta que dizia que a irmã dela tinha morrido. Ele não sabia que sua mãe tinha irmã, e então ela explicou que essa irmã, Edna, tinha um filho chamado Sérgio. Depois que Edna morreu, Sérgio passou um tempo na casa da vizinha. A vizinha lembrou que Edna tinha uma irmã em São Paulo, achou o endereço e mandou a carta. A mãe de Léo foi para a Bahia, e voltou para casa com Sérgio. Léo ficou surpreso por seu novo irmão ser negro, mas guardou aquilo dentro de si. No decorrer da história, Sérgio sofreu racismo. Um dia, Léo questionou seu pai:
— Por que o senhor não me disse que ele era negro?
O pai disse que, quando falam dele, não precisam dizer que ele é branco. Também explicou sobre os negros e sobre o racismo.
Um dia o pai de Sérgio veio buscar ele para morar com ele na África, explicou porque havia sumido há tanto tempo e deixou a critério de Sérgio escolher, e ele disse: “Eu não posso ir, pai, não posso deixar o meu irmão!”. E Léo ficou surpreso e sorridente.
Como vencer o racismo
O livro fala de como podemos vencer o racismo, enfrentando ele, não se escondendo, mesmo que seja difícil. Léo perdeu muitos amigos e nem por isso abandonou seu primo/irmão. Ele enfrentou aquela situação como gente grande. Eu mesma sempre quis um irmão e, como sou negra, se meu irmão fosse branco, eu não seria julgada, porque irmão branco pode. Agora, se eu fosse branca e meu irmão negro, aí sim eu seria julgada. Em minha opinião, isso é muito errado, pois o que importa mesmo é quem você é por dentro, e não sua cor de pele. Adorei a forma simples que o livro Irmão negro abordou esse assunto tão sério.
Mais Lidas
Os assuntos citados foram muito bem elaborados, e também é uma forma boa de muitas pessoas se ligarem no que está acontecendo no mundo. Este livro me fez pensar que o amor de irmãos pode ajudar a vencer qualquer obstáculo da vida, pois juntos conseguiram enfrentar o racismo.
Lavínia, 11
Pirillo, Marilia. Bagunça e arrumação
Prumo • 24 pp • R$ 23,90
O livro conta sobre duas meninas que se chamavam Bagunça e Arrumação. Bagunça é uma menina superdesorganizada, já Arrumação prefere tudo organizado, ajeitadinho, em seu devido lugar.
Bagunça sempre perdia suas roupas, ela gostava de inventar moda, mas Arrumação não entendia como Bagunça era daquele jeito. Arrumação gostava de tudo certo, sem desorganização. No quarto de Bagunça, os brinquedos sempre se perdiam em lugares inesperados, mas no de Arrumação, tudo era perfeitamente arrumado, os brinquedos eram guardados em caixas e gavetas, tudo bem feito.
Os desenhos foram muito bem feitos. Marília fez muito bem a sua arte. As meninas foram muito bem desenhadas — eu mal consigo desenhar assim.
Eu achei que o livro é muito divertido. Ele é a minha cara, porque às vezes eu sou bagunceira e às vezes eu sou arrumada, mas, apesar das diferenças, as pessoas estão sempre juntas. Não importa se a pessoa é bagunceira e a outra é arrumada, elas sempre podem conviver juntas.
Lina, 11
Lispector, Clarice. A mulher que matou os peixes
ILUS. Mariana Valente
Rocco • 48 pp • R$ 44,50
Nesta encantadora obra, Clarice narra de um jeito simples, porém cativante, histórias de sua convivência com animais. As descrições são focadas nas personalidades dos bichos, deixando o livro interessante para todos os públicos que gostam (ou não) de animais.
As histórias encantam. Seu jeito de contar é alegre, mas sempre contém uma pontada de tristeza. Outra coisa é o fato de a autora conversar com o leitor, o que deixa a leitura hipnotizante e divertida. A edição e as ilustrações, junto com as histórias,
tornam o livro ótimo.
Pedro Davi, 14
Ramos, Anna Claudia Enfim, atleta!
ILUS. Rogério Coelho
Paulinas • 40 pp • R$ 28,50
Este livro foi uma obra que me surpreendeu muito. De narrativa e história fáceis de se entender, ele nos cativa pelo fator simplicidade, explícito em cada página do livro.
Nascida no interior de Minas, numa cidadezinha tão pequena que nem se encontrava no mapa, Antônia sempre teve um sonho: ser tenista. Esse sonho nasceu nem ela sabe de onde, só sabe que desde pequena tinha isso em seu coração. Antônia morava com seus avós, que a amavam muito e a ajudavam como podiam.
Quando ela tinha uns quatro ou cinco anos, sua avó a ajudou a fazer uma raquete de papelão, e a bola foi feita com meia misturada com fios de lã que sobraram da costura da avó, que era bordadeira profissional. Aquela raquete não era lá grande coisa, mas Antônia achou o máximo.
Quando sua avó morreu, o mundo de Antônia caiu. Ela chorou muito e pensou que seu mundo tinha acabado. Foi aí que apareceu seu tio Jessé, que morava em São Paulo e convenceu o avô, mesmo a contragosto de Antônia, a ir para São Paulo.
Após chegarem à cidade, Antônia ficou muito triste, já que lá não tinha mais muitas outras coisas que tinham na sua cidade. Até que um dia seu tio Jessé chegou em casa e mostrou um panfleto de um projeto social que ensinava tênis para crianças que não tinham condições para pagar. Foi nesse dia que percebeu que sua vida em São Paulo poderia não ser tão ruim assim.
O resto do livro vai contar sobre os esforços de Antônia para realizar seus sonhos e seus belos e deliciosos momentos de alegria e realização, que, para quem tem um coração de manteiga (e até quem não tem), pode arrancar várias lágrimas, como a cena em que Antônia entra pela primeira vez em uma quadra de tênis.
O mais legal neste livro é que a grande pergunta que fazemos não é “será que ela chegou lá?”, mas “como ela chegou lá e até onde ela irá?”.
O livro é escrito de forma que nos deixa ver que Antônia não conquistou seus sonhos todos, mas que está batalhando por eles. Tal livro, com seu jeito simples, nos faz pensar em como nossos sonhos são expressamente possíveis, e que não devemos deixar que ninguém nos fale que não podemos ir a algum lugar ou nos coloque barreiras. A mensagem explícita neste livro é: os sonhos são possíveis, só basta acreditar neles o suficiente!
Pedro Henrique, 9
Furtado, Maria Cristina. A grande campeã.
ILUS. Fabiana Salomão
Editora do Brasil • 32 pp • R$ 47,30
O livro conta a história de Lelê, Vavá e Belinha, três gaivotas que participam das Olímpiadas de Voos Acrobáticos para descobrir qual voa melhor. No meio da competição, elas mudam a altura do voo, e uma passa mal. Lelê estava perto de vencer, mas trocou o primeiro lugar para ajudar Belinha, que desmaiou.
A torcida não percebeu o perigo, a ajuda não apareceu, e Vavá recebeu o primeiro lugar. No dia seguinte, Lelê teve a sua atitude reconhecida e recebeu uma faixa com os dizeres “a grande campeã”. Moral: o importante não é ganhar, e sim competir.
Violeta, 12
Travers, P.L. Mary Poppins
TRAD. Joca Reiners Terron; ILUS. Mary Shepard
Zahar • 192 pp • R$ 54,90
Esta nova edição do livro é uma tradução do conto original de Mary Poppins lançado em 1934. Ele fez um sucesso tão grande que a autora iniciou uma série de contos da mesma personagem após o lançamento. Antes desse sucesso, a personagem já fora introduzida pela autora em seu livro Mary Poppins and the Match-Man.
No prefácio da nova edição, descobrimos vários aspectos sobre a vida dura de P.L. Travers e sua carreira como escritora, e algumas conexões entre a vida da autora e a personagem Mary Poppins. Eu achei a edição excelente, o texto do prefácio informativo e as ilustrações belas e originais vindas da primeira edição.
A autora nos conta, em uma de suas palestras que se encontra no posfácio do livro, “Como não escrever para crianças”, uma peculiaridade muito grande do tipo de escritora que costuma ter crianças como público.
A autora diz que seu foco não é a literatura infantil ou a literatura adulta, mas que foca sua escrita no que ela, como escritora, deseja fabular. Acaba que essas suas invenções atingem o interesse de crianças, principalmente.
Diferenças entre livro e filme
Quando eu era menor, conhecia muito bem a figura de Mary Poppins, graças ao filme da Disney. Ela era uma personagem doce e alegre e, além disso, trazia consigo muitas situações fantasiosas e divertidas. Já a personagem do livro é amarga, guardada, antipática e rígida, ela representa uma imagem de autoridade.
Além dessa personalidade, ela representa uma imagem feminista dos anos 1930. Mary Poppins deseja ser bem paga e respeitada por sua empregadora, e que seus dias de folga sejam de horários definidos por ela.
Uma característica única desse romance é a maneira como as realidades das vidas são explicadas, especialmente para crianças. O momento que achei particularmente emocionante foi quando Mary Poppins se encontra no quarto dos bebês Banks conversando com eles e com um passarinho com a maior naturalidade.
O passarinho conta aos pequeninos que, em algum tempo, eles já não conseguirão se conectar com a natureza e com o mundo dessa forma — ninguém consegue ao crescer, com exceção de Mary Poppins.
Eles desatam a chorar, afinal, crescer gera certa angústia. Me pergunto, será que quando a gente cresce, perdemos uma versão do mundo, ou ganhamos novas? É certo que quando crescemos adquirimos uma cultura mas perdemos nossa visão
única do mundo?
Mas e Mary Poppins, essa grande exceção espetacular, não nos traz outra angústia que é o não saber porque ela é diferente, o porquê e de onde veio? Como ela foi parar nessa casa da Cherry Tree Lane?
Será que é realmente necessário sabermos de sua vida, ou será que o que realmente importa é o que aconteceu lá, e não o porquê? Às vezes só basta imaginar. Mas por que isso é tão difícil de aceitar?
Especial Infantojuvenil: oferecimento Itaú Social
Matéria publicada na edição impressa #6 out.2017 em junho de 2018.
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