Infantojuvenil,
Os piores pirralhos e suas proezas
Debochado e agressivo na medida, livro conta histórias de crianças porcalhonas, arrogantes, superativas e preguiçosas
13nov2018 | Edição #6 out.2017É complicado falar de livros infantis. Este crítico acredita piamente que eles podem gerar obras de arte tão geniais quanto qualquer romance, mas uma enxurrada de títulos de péssima qualidade jorra das gráficas todo ano. Como eles podem ser mais curtos, com desenhos mais livres, atraem toda sorte de arrivistas, ansiosos pelas promessas de sucesso fácil. Mas isso pode acontecer em qualquer ramo da cultura. Para cada Graciliano Ramos, um maremoto de literatura cretina ameaça enterrar os alfabetizados. Sabendo disso, mãos à obra.
Os piores pirralhos do mundo de David Walliams é um bom livro, com algumas partes realmente engraçadas. O ilustrador não é o gênio anunciado na capa, mas é um colorista competente, e os desenhos não comprometem o texto. A obra acompanha uma vertente da última década: livros infantis com conteúdo algo agressivo, debochado e escatológico — um revival das antigas histórias para crianças, repletas de sangue e ameaças à vida dos infantes, como Chapeuzinho vermelho.
Também faz parte dessa vertente uma maior liberdade narrativa, que pode desandar ou não para a violência, com exageros e descomedimentos capazes de levar não só a criança, mas o adulto ao riso. Um pouco da concorrência dos novos desenhos animados, que são alguns dos melhores produtos da cultura contemporânea, pode ter ajudado a gerar essa literatura infantil. Alguns desses livros, apesar de não chegarem ao grau de plenitude monumental de desenhos animados como Steven Universe ou Gumble, são pequenas obras-primas.
O livro conta histórias de crianças porcalhonas, arrogantes, superativas e preguiçosas. Cada capítulo dedicado a um defeito moral adquire status de tragédia global durante a narrativa, como uma meleca de nariz que acaba ficando do tamanho da Lua, engolindo tudo pelo qual ela rolou por cima, como o Palácio de Westminster.
Eu me diverti, mas o livro não passou pelo crivo de meu filho, de seis anos, que o achou “chato”. O problema é que estava passando Teen Titans Go! na TV, o que é uma competição injusta, até mesmo para um bom artista como David Walliams.
Especial Infantojuvenil: oferecimento Itaú Social
Matéria publicada na edição impressa #6 out.2017 em junho de 2018.
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