Filosofia,
A gramática do pensar de Condillac
Obra reúne textos do filósofo francês que analisou o papel decisivo dos signos e da linguagem no indivíduo
08nov2018 | Edição #2 jun.2017“Estou convencido de que uma obra executada de acordo com o plano de uma gramática racional pode se provar não apenas o melhor sistema de gramática, mas o melhor sistema de lógica em qualquer língua, assim como a melhor história do progresso natural do espírito humano a respeito da formação das mais importantes abstrações das quais todo raciocínio depende.”
O autor dessa frase, o filósofo e economista Adam Smith, a exemplo de inúmeros de seus contemporâneos como Diderot, d’Alembert e Rousseau, era leitor assíduo de Étienne Bonnot, abade de Condillac (1714-80). E mesmo que ela não se refira explicitamente à filosofia do abade, é impossível não ver nela sua inspiração. É o que se desprende facilmente da leitura de Lógica e outros escritos. Os textos ali reunidos, a tradução completa da Lógica ou os primeiros desenvolvimentos da arte de pensar (1780) à frente, são todos da fase final da produção de Condillac, que se inicia com os cursos dirigidos ao príncipe de Parma (1775) e termina com a publicação póstuma da Língua dos cálculos (1798). Neles encontramos a consolidação de seu projeto filosófico, iniciado com o Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos (1746) e maturado com o Tratado das sensações (1754), a saber, o estudo da gênese das faculdades humanas a partir de um enfoque empirista. Partindo das percepções e guiado unicamente pela análise e pela analogia, Condillac demonstra não só a origem das ideias (como Locke), mas a gênese das próprias faculdades superiores da alma.
Para tanto é-lhe indispensável mostrar o papel decisivo dos signos e da linguagem nesse longo processo de desenvolvimento que vai da sensação ao entendimento e da observação às ciências. Nos textos tardios, finalmente disponíveis em excelentes traduções ao português, encontramo-nos diante da exposição clara e precisa da unidade de fundo desse sistema, onde toda língua é um método analítico (Gramática) e todo método analítico é uma língua (Lógica).
Matéria publicada na edição impressa #2 jun.2017 em junho de 2018.