Listão da Semana,
A Amazônia segundo Eliane Brum e mais 8 lançamentos
Em ‘Banzeiro òkòtó’ a jornalista conta a escalada da devastação da floresta amazônica, ameaçada após menos de cinquenta anos de atividade humana
28out2021 | Edição #50Depois de sobreviver por 50 milhões de anos a vulcanismos, glaciações, meteoros e deriva do continente, a floresta amazônica encontra-se ameaçada após menos de cinquenta anos de atividade humana. Em Banzeiro òkòtó, que chega nesta semana às livrarias, a jornalista Eliane Brum conta a escalada dessa devastação e observa que, mesmo diante de evidências tão contundentes e da gravidade da ameaça, a maioria da população segue negando a realidade que também construiu.
Completam a seleção da semana uma antologia dos grandes cronistas brasileiros, a história das damas do samba, contos inspirados nas divindades africanas, um ensaio de Fredric Jameson, uma conversa entre Barack Obama e Bruce Springsteen, sonetos de Gregorio Duvivier e o novo livro de Mauricio de Sousa.
Viva o livro brasileiro!
Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo. Eliane Brum.
Companhia das Letras • 448 pp • R$ 69,90/39,90
Mais Lidas
A jornalista gaúcha, que se mudou para Altamira (PA) em agosto de 2017, expõe a escalada de devastação da floresta, que hoje já emite mais gases do que absorve. Nessa “narrativa de massacres”, ela descreve a impressionante resistência dos povos da floresta a séculos de violência e extermínio e sustenta que é preciso escutar essas pessoas, antes chamadas de bárbaras, “não por condescendência nem por compaixão, mas por derradeiro instinto de sobrevivência”.
Trecho do livro: “Pesquisas recentes mostram que a floresta, maior sumidouro terrestre de carbono, já começa a emitir mais gases do que absorve. A Amazônia, assassinada dia após dia, leva com ela a umidade que regula o clima e passa a envenenar o ar que respiramos. Bolsonaro é só o pior de todos os governantes, mas ele serve para encobrir, pela estridência, o grupo muito mais sólido e persistente que apenas foi mudando de nome ao longo da história do Brasil-nação e que seguirá devastando a floresta com técnicas mais sutis que as de brutos do bolsonarismo”.
Leia também: Pesquisa mostra como a derrubada da floresta amazônica era glorificada pela imprensa nas décadas de 70 e 80.
Ouça também: No podcast 451 MHz, a antropóloga Aparecida Vilaça e o engenheiro florestal Tasso Azevedo falam sobre o cenário trágico da Amazônia.
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Os sabiás da crônica. Augusto Massi (org.).
Autêntica • 352 pp • R$ 74,90/52,90
Uma foto de Paulo Garcez reunindo seis grandes cronistas – Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, José Carlos (Carlinhos) Oliveira, Vinicius de Moraes, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) e Rubem Braga – inspirou a organização desse livro, que reúne quinze crônicas de cada um desses autores. Os noventa textos constroem um painel do Brasil dos anos 30 até o final do século 20. O volume contém ainda minibiografias dos escritores e um posfácio de Ruy Castro contando os bastidores da foto, tirada em 1967, na cobertura de Rubem Braga em Ipanema, quando da criação da editora Sabiá.
Leia também: “O Brasil dos cronistas é muito pequeno: não é diverso na geografia, no ponto de vista ou na raça”, escreve Paulo Roberto Pires.
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Canto de rainhas: o poder das mulheres que escreveram a história do samba. Leonardo Bruno.
Ils. Vanessa Ferreira (Preta Ilustra) • Pref. Flávia Oliveira • Agir • 416 pp • R$ 89,90
A história de cinco grandes sambistas — Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Elza Soares — é contada pelo jornalista Leonardo Bruno, que destaca as barreiras que limitam o protagonismo feminino na cultura. Ele narra as dificuldades pelas quais elas passaram, o apoio que receberam, as conquistas que tiveram e a resistência que apresentaram em um mercado machista, racista e elitista. Um capítulo robusto analisa a saga das pioneiras Chiquinha Gonzaga, Tia Ciata e Marília Batista, que também foram invisibilizadas e estigmatizadas. No final do livro, o autor apresenta outro time de cantoras dignas de nota — como Leci Brandão, Clementina de Jesus, Elizeth Cardoso, Nara Leão e Jovelina Pérola Negra — e as herdeiras contemporâneas, entre elas Teresa Cristina, Mariene de Castro, Mart’nália e Manu da Cuíca.
Leia também: Biografia narra a trajetória de Clementina de Jesus, neta de escravizados que despontou como sambista luminar aos 63 anos de idade.
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Contos de axé: 18 histórias inspiradas nos arquétipos dos orixás. Marcelo Moutinho (org.).
Malê • 224 pp • R$ 58
Dezoito escritores de diferentes regiões brasileiras escrevem contos inéditos que espelham as divindades das religiões de matriz africana. Os orixás foram escolhidos pelos próprios autores, que incluem novos talentos, como Itamar Vieira Junior, Geovani Martins e Giovana Madalosso, e escritores consagrados, como Nei Lopes e Marcelino Freire.
Além dos contos, o livro traz verbetes com informações básicas sobre cada orixá retratado e ilustrações do designer Tônio Gonzaga. Como escreve na orelha Muniz Sodré, jornalista, sociólogo e pesquisador da afrodescendência no Brasil: “Não dá para desfiar um a um os contos do volume, como se fossem contas de um rosário. Dá para anunciar o encantamento da leitura. São pequenas joias narrativas, em graus diversos de intensidade literária, que remetem a um universo de crenças e de pertencimento”.
Leia também: Nei Lopes investiga as reverberações do sistema de oráculos Ifá consequentes dos fluxos e refluxos entre África, Brasil e Cuba.
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Arqueologias do futuro: o desejo chamado Utopia e outras ficções científicas. Fredric Jameson.
Trad. Carlos Pissardo • Autêntica • 656 pp • R$ 98,90/69,90
Autor do célebre Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio (1996), o crítico literário norte-americano Fredric Jameson investiga a emergência das utopias a partir de Thomas More. Jameson mapeia os vários modelos utópicos (e distópicos) na literatura, utilizados para criar mundos alternativos, e discute o papel desses modelos em uma era pós-comunista a partir das obras de ficção científica de Philip K. Dick, Ursula Le Guin, William Gibson, Brian Aldiss e Kim Stanley Robinson.
Leia também: O sucesso da ficção distópica no mercado brasileiro mostra o interesse em sobreviver às dificuldades do presente.
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Renegados: born in the USA. Barack Obama e Bruce Springsteen.
Trad. Jorio Dauster e Berilo Vargas • Companhia das Letras • 320 pp • R$ 169,90
O ex-presidente e o músico falam de sua amizade improvável (eles se conheceram na campanha de 2008), dos problemas raciais e de gênero, das melhores canções de protesto (Bob Dylan, Public Enemy, Sex Pistols, Sam Cooke, Billie Holiday, Aretha Franklin), dos ídolos norte-americanos (Muhammad Ali, James Brown, Ray Charles, Frank Sinatra, Jackie Robinson), da vida na estrada (num Corvette clássico), do casamento e dos filhos. O livro é uma versão ampliada do podcast Renegades e inclui mais de 350 fotografias.
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Sonetos de amor e sacanagem. Gregorio Duvivier.
Companhia das Letras • 112 pp • R$ 39,90
Terceiro livro de poemas do escritor, ator e roteirista carioca, o livro utiliza a forma canônica para criar 48 poemas críticos, cômicos e satíricos, abordando temas como a pandemia, a língua portuguesa, as dificuldades dos relacionamentos amorosos e a presente crise do Brasil.
Trecho do livro:
“Repare nas pessoas conversando:
não é um bate-papo, é uma luta.
Todos querem pra si o olhar do bando.
Ninguém se entende nem sequer se escuta”
Leia também: Gregorio Duvivier resenha livro sobre o humor judaico: “A grande extinção das anedotas não parece ter afetado a piada judaica”.
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Sou um rio. Mauricio de Sousa.
Ils. Mauro Souza • Pref. Gabriela Yamaguchi • Nova Fronteira • 36 pp • R$ 59,90
O criador da Turma da Mônica abandona brevemente seus principais personagens para tratar do problema da água. Em uma narrativa poética, ele descreve o percurso de um rio desde a fonte, quando ainda é apenas um filete de água, até desaguar no mar, apontando as ameaças à natureza: o lixo urbano, a poluição química, os esgotos clandestinos e os venenos.
Leia também: Livro propõe doze missões para as crianças e os adultos que desejam diminuir seu impacto no planeta.
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Matéria publicada na edição impressa #50 em agosto de 2021.
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