Arte,
O tarô de Dalí
Editora alemã lança edição de luxo do célebre baralho criado pelo pintor surrealista
27set2019Salvador Dalí posa como o mágico e sua mulher, Gala, como a imperatriz no extraordinário baralho de tarô criado pelo pintor espanhol nos anos 1980. As cartas são um pastiche de iconografia cristã e escultura greco-romana com tempero kitsch e, é claro, uma boa dose de surrealismo. Ao longo dos anos, o baralho se tornou um clássico, com apelo sobretudo para historiadores, colecionadores e admiradores de arte e misticismo.
Agora, a editora alemã Taschen, conhecida por suas edições magistrais de livros de arte — como os tomos sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e o artista italiano Leonardo da Vinci, que estão entre seus bestsellers no Brasil —, lança uma versão de luxo do tarô, contendo todas as 78 cartas em tamanho grande e borda dourada e um livro de 184 páginas com o making of, uma biografia do artista e instruções práticas de utilização, tudo embalado numa vistosa caixa de veludo púrpura com detalhes dourados.
O lançamento, que custa US$ 60 (e, por enquanto, não está disponível para compra na versão brasileira do site da Taschen), é uma releitura da edição limitada publicada na Espanha em 1984 que se esgotou rapidamente. Uma versão da história diz que o baralho teria sido encomendado a Dalí pelo produtor cinematográfico Albert Broccoli para o filme 007 —Viva e deixe morrer (1973), baseado no romance do britânico Ian Fleming em que James Bond seduz uma taróloga, e, quando o acordo contratual não se firmou, o pintor continuou trabalhando nele por conta própria.
Escritos pela sorte
Além de figurar na trama do agente secreto, o tarô faz inúmeras outras aparições em obras literárias, como em O castelo dos destinos cruzados (1973), do italiano Italo Calvino, A terra devastada (1922), do norte-americano T.S. Eliot, e A cartomante (1884), de Machado de Assis, para nomear apenas algumas. Acredita-se também que diversos escritores usaram os jogos de sorte para determinar o rumo de suas obras. A norte-americana Sylvia Plath teria usado o tarô para compor pelo menos os três primeiros poemas da compilação Ariel (1965), e seu conterrâneo Philip K. Dick teria escrito O homem do castelo alto (1962) de acordo com os resultados obtidos no I-Ching, jogo chinês baseado no lançamento de moedas.
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Outro escritor fortemente influenciado pelos jogos de sorte foi o argentino Jorge Luís Borges, que, inclusive, escreveu o poema “Para uma versão do I-Ching”, em A moeda de ferro (1976), iniciado pelos seguintes versos: “Nosso futuro é tão irrevogável/ Quanto o rígido ontem. Não há nada/ Que não seja uma letra calada/ Da eterna escritura indecifrável/ Cujo livro é o tempo”.
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