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Jornalismo digital se consolida como gerador de mudança, diz presidente da Ajor

Natália Viana dirige recém-criada organização da nova mídia brasileira, que tem a Quatro Cinco Um como associada

05ago2021 | Edição #48

As organizações de mídia digital no Brasil estão em franca expansão e se consolidam como geradoras de mudanças no país. Esta é a avaliação de Natália Viana, diretora da Agência Pública, repórter premiada e agora presidente da recém-criada Ajor, a Associação de Jornalismo Digital, à qual a Quatro Cinco Um acaba de se associar.

Numa breve entrevista, reproduzida abaixo, Natália expõe sua visão sobre o ecossistema do novo jornalismo brasileiro, que vive um crescimento "exponencial", segundo ela, tanto no número de veículos de jornalismo digital (já são mais de 4 mil) como no consumo de notícias pelos brasileiros. A criação da Ajor é um sinal do ritmo acelerado desse desenvolvimento e oxigena o tradicional ambiente das associações patronais da imprensa brasileira, concebidas no modelo do jornalismo do século 20.

A Quatro Cinco Um se associou à Ajor no final de julho, juntando-se a quarenta outros projetos de jornalismo digital e independente no Brasil. A associação foi gestada ao longo de 2020, com o objetivo de fortalecer o jornalismo brasileiro, por meio da defesa de um ambiente livre e democrático para a atuação da imprensa e do apoio para a sustentabilidade dos associados.

A entrada da Quatro Cinco Um e de outras dez organizações foi anunciada em nota pela Ajor. "São iniciativas com perfis de cobertura e modelos de negócio diversos, que se somam à Ajor para compartilhar suas experiências e aprendizados e contribuir para o fortalecimento do jornalismo digital brasileiro", diz o texto. 

Entre as associadas há projetos de jornalismo investigativo, ambiental, comunitário, cultural, de checagem de fatos, de direitos humanos e de notícias. Os formatos produzidos também são variados: há jornais, revistas, newsletters, podcasts e produtores de conteúdo para redes sociais. A redação de maior porte é a do portal Metrópoles. 

A Ajor tem como vice-presidente o jornalista Guilherme Alpendre, da Rádio Novelo, que foi diretor da Abraji — Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, entidade que reúne jornalistas e não organizações jornalísticas. A criação da nova associação recebeu recursos do Google por meio do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. Natália Viana respondeu a algumas perguntas enviadas pelo diretor de redação da Quatro Cinco Um, Paulo Werneck, sobre os primeiros desafios da Ajor. A entidade promove lives mensais, abertas ao público, com diretores das associadas — a próxima é nesta quinta (5), sobre jornalismo antirracista.
 

A Ajor reúne 41 organizações. O que se pode dizer que há em comum entre elas?
Primeiro, todas as organizações associadas fazem jornalismo digital de qualidade, ético e profissional. Além disso, são organizações empreendedoras, a maioria fundadas por jornalistas, e que por isso mesmo estão liderando a inovação no jornalismo brasileiro.

O Brasil segue como um dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo. Como a Ajor deve atuar para mudar essa situação?
A Ajor leva a sério os ataques ao jornalismo, à imprensa e ao seu papel basilar na democracia brasileira. Por isso, acompanhamos decisões que afetam o exercício do jornalismo profissional, estamos implementando medidas de segurança jurídica e digital para nossos membros. A Ajor é mais uma voz que nasce no Brasil para se articular àquelas que defendem a liberdade de expressão e de imprensa, o direito à informação e à transparência.

Quais foram os primeiros passos até agora?
Nos primeiros meses nos focamos em expandir para novas associadas e implementar um diálogo constante entre elas com foco em troca de experiências e estratégias de sustentabilidade. Além de encontros quase semanais entre as associadas para discutir os mais variados temas, temos uma live mensal, a "conversa aberta", na qual destacamos uma iniciativa de sucesso que pode ser celebrada e pode ser replicada. A próxima será sobre projetos de jornalismo antirracista [hoje, 5/8, às 19h — os vídeos ficam disponíveis no canal da Ajor no YouTube].

E o que vem pela frente, no curto e no médio prazo?
A Ajor agora é quem vai tocar o Festival 3i de jornalismo inovador, inspirador e independente, que em duas edições nacionais e três edições regionais teve mais de 1.300 profissionais e estudantes de público. O festival 2022 será super especial, em março, e a partir daí esse festival de jornalismo que olha para o futuro passa a ser anual.

Qual a diferença da Ajor para outras entidades que reúnem veículos de comunicação como a Aner ou a ANJ?
A principal diferença é que a Ajor foi fundada por veículos digitais. Portanto, ela representa a visão desses veículos e vai trabalhar pelos seus interesses e pela defesa do jornalismo de maneira mais ampla. Mas associações como a Aner e ANJ são reconhecidas e parceiras naturais nessa missão.

Qual é a situação do jornalismo digital no Brasil hoje?
O ecossistema do jornalismo digital brasileiro está em constante e exponencial ampliação. De acordo com o Atlas da Notícia de 2020, veículos online já são a segunda principal fonte de informação da população, atrás somente do rádio. Entre 2019 e 2020, a mesma pesquisa identificou um aumento de mais de mil veículos digitais (de 3.051 para 4.221) e, na edição deste ano, eles devem ultrapassar o rádio como principal fonte de informação dos brasileiros.

Apesar desse crescimento ter se iniciado na Região Sudeste, hoje é possível acompanhar em tempo real essa ampliação na Região Nordeste, por exemplo, com diversas novas iniciativas sendo lançadas. São as organizações de mídia digital, também, que estão transformando a maneira como o jornalismo é conduzido e consumido no Brasil e na América Latina. Elas não estão apenas produzindo notícias e desenvolvendo formas inovadoras de apresentá-las, para ampliar seu impacto e engajamento, mas também se consolidando como geradoras de mudança, defendendo os direitos humanos, expondo a desinformação, a corrupção e denunciando abusos de poder.

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Matéria publicada na edição impressa #48 em junho de 2021.