Infantojuvenil,

Volta ao mundo em doze mapas

Livro adaptado para crianças e jovens explica a topografia, a história e a política dos dias de hoje

01abr2020 | Edição #32 abr.2020

Os antigos atlas de geografia ficaram para a história. Hoje nas livrarias encontramos os mais lindos livros de mapas ilustrados na seção infantil. Não é de agora que a cartografia fascina, mas a proliferação de títulos sobre o tema é recente. Tem os grandes livros que não cabem na prateleira, os que mapeiam curiosidades sobre lugares, os com mapas afetivos — cartografias diversas à disposição de uma geração que se beneficia de obras que ajudam a tecer relações entre dados e informações para construir conhecimento.

Prisioneiros da geografia para jovens leitores — nosso mundo explicado em 12 mapas é um desses livros. O autor, Tim Marshall, é jornalista especializado na cobertura de conflitos internacionais, com passagem pela Sky News e, antes disso, pela bbc e pela rádio London Broadcasting Company/Independent Radio News. Da experiência de explicar os intrincados problemas mundiais com a propriedade de quem já esteve em quase setenta países e acompanhou de perto os acontecimentos, nasceu Prisioneiros da geografia — o mundo explicado em dez mapas (Zahar, 2018). Depoimentos de jovens que, lendo o livro, decidiram fazer faculdade de geografia ou relações internacionais inspiraram Tim a embarcar nessa adaptação para os mais novos.

O resultado é um livro que trata de como condicionantes geográficos — topografia, hidrografia, recursos minerais, clima etc. — moldaram  (e moldam) a história e a política do mundo como o conhecemos. Tudo de um jeito único, com textos simples, claros e informativos, permeados de belas imagens criadas com técnicas de pintura digital pelas ilustradoras Grace Easton e Jessica Smith, que mostram, em conjunto, um retrato da situação global. Em entrevista ao jornal The Sunday Post em 2019, Marshall contou que a equipe levou um ano só na checagem dos fatos, mas para a pesquisa foram quase trinta anos, ou seja, toda a carreira do autor.

Geopolítica atual

Os doze mapas que abrem os capítulos abordam Ártico, Canadá, EUA, América Latina, Europa, Oriente Médio, África, Índia e Paquistão, Coreia e Japão, China, Rússia e Austrália, seguidos de um epílogo, que chama a atenção para a importância de uma aliança planetária no enfrentamento de adversidades relativas aos recursos naturais. A maioria dos capítulos apresenta uma sequência de até quatro páginas duplas, com uma estrutura básica de organização da informação: um grande mapa da região, uma seção sobre como a geografia ajuda ou atrapalha, outra com a formação histórica resumida em tópicos e, por fim, uma análise da situação geopolítica atual. 

Com isso, os leitores ficam sabendo, por exemplo, por que os Estados Unidos são uma superpotência e o que falta para a China superá-los. Que o território do continente africano é maior que os de eua, Índia, China, Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Itália, Japão e Reino Unido juntos e que, apesar dos problemas históricos, hoje a maioria dos países africanos controla seus recursos naturais e tem uma perspectiva positiva para o futuro, com o uso da tecnologia para superar dificuldades geográficas. Que a tensão crescente dos conflitos por posse de terras no Ártico pode levar a uma nova Guerra Fria. Que o Brasil, assim como toda a América Latina, sofre com a falta de interligação da costa com o interior por conta de obstáculos naturais, mas também com a permissão do governo para a derrubada de áreas da floresta amazônica pela agropecuária e a devastação do cerrado para a produção de soja.

Marshall declarou também que tentou cobrir o máximo possível do mundo em um número limitado de páginas. De fato, a quantidade de informações é tanta e vem em textos tão fragmentados que a leitura é entrecortada e precisa de intervalos de respiro. O descanso chega por meio de ilustrações de página dupla com pouco texto, que lembram o impacto visual de revistas como a National Geographic e convidam a passear por cores e texturas antes de seguir em frente. 

Mesmo assim, alguns ajustes tornariam a leitura menos cansativa e ajudariam na interpretação: dar títulos aos textos dos balões nos mapas de abertura, diferenciar visualmente as legendas de cidades e países, melhorar o contraste entre cor de texto e de fundo e aumentar o tamanho das letras em vários trechos. Além disso, como os textos tentam ser neutros e imparciais, a narrativa como um todo poderia ganhar mais emoção e vida com outras escolhas de como e o que representar em alguns ícones e ilustrações. 

Mas os detalhes não tiram o valor da obra traduzida para catorze idiomas nem a importância de sua presença nas livrarias. Em época de notícias falsas, precisamos de bons disparadores de conversas com crianças e jovens, especialmente os que descomplicam assuntos complexos e atiçam a curiosidade de pequenos e grandes.

Este texto foi realizado com o apoio do Itaú Social

Quem escreveu esse texto

Ana Paula Campos

Designer, é autora de Inventório, mestrado pela fau-uspsobre design e livros informativos para crianças.

Matéria publicada na edição impressa #32 abr.2020 em março de 2020.