Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: dezembro 2022
Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos
01dez2022 | Edição #64Tiago S. Cordeiro, 16 – São Paulo (SP)
Cormac McCarthy. Meridiano de sangue.
Tradução de Cássio Arantes Leite • Alfaguara • 352 pp • R$ 69,90
Nas vias desertas do oeste do Texas, as palavras fluem em frases disparadas como balas em um crepúsculo literário narrado por Cormac McCarthy, na ativa desde a década de 70 com seus livros introspectivos, que narram dilemas humanos como a morte, a velhice e o mal.
Em Meridiano de sangue, a narrativa é pautada por personagens metafóricos. Seu protagonista é um garoto sem nome, chamado apenas de Kid, que, após uma prisão na fronteira mexicana no século 19, é salvo por um grupo de migrantes liderados pelo coronel Glanton e pela figura oculta de um autodenominado juiz, os quais têm como objetivo coletar a maior quantidade possível de escalpos indígenas.
Caçada pelo México
O grupo segue em uma caçada pelas áridas terras mexicanas enfrentando o Sol, os animais, a Lua e a si mesmos. A lucidez e o delírio se unem nas críticas ao pensamento colonizador e imperialista dos “civilizados” americanos, mostrando seu caráter grotesco e absurdo em uma linguagem poética, equilibrada entre um realismo pungente e elementos surrealistas, que dispensa julgamentos morais.
Mais Lidas
Não parando apenas na base do surrealismo como inspiração clássica, também há referências à literatura alemã, principalmente ao Fausto (personagem oculto com ligações ao mal ancestral), aos famosos romances de formação (centrados num jovem personagem e suas metamorfoses) e a inspiração homérica na sangrenta Odisseia, onde descrições líricas cobrem simbolismos ocultos. Além disso, o misterioso juiz Holden e a sua descrição da guerra como verdadeira religião humana recordam um discurso nietzschiano. Essas citações são a marca do romance que percorre 352 páginas numa prosa que, ao descrever o massacre e o sangue que flui pela América, aspira à grandiosidade daquelas narrativas orais.
Luanny Gabrielly de Oliveira Silva, 16 – São Paulo (SP)
Robin LaFevers. O clã das freiras assassinas: perdão mortal.
Tradução de Edmundo Barreiros • Plataforma21 • 524 pp • R$ 25,50
Se você gosta de um livro com mulheres empoderadas está lendo a resenha certa. Ele faz parte de uma trilogia, mas vou falar do primeiro — “a história de Ismae”. Confesso que a autora, Robin LaFevers, me surpreendeu ao nos trazer um livro com suspense, ação, aventura, intrigas políticas e romance, mas fácil de ler e que nos faz suspirar com os acontecimentos.
Vivendo num mundo com pessoas que seguem religiões celtas, Ismae nasce sem o desejo de seus pais, sendo então desprezada, principalmente por seu pai, um criador de nabos. Depois que sua mãe morre, seu pai a vende para um homem terrível a fim de ganhar algumas moedas. Ela se casa com ele, mas logo percebe que ele não é nem um pouco agradável.
Quando já não havia mais esperança em seu coração, um padre a salva de um destino cruel levando-a para um convento onde se adorava o deus da morte. Era o lugar ideal para Ismae, já que, quando ainda estava no ventre de sua mãe, ela tomou um veneno para expulsá-la de lá, mas Mortain, em sua misericórdia, resolveu salvá-la e trazê-la ao mundo. No convento ela é treinada para ser uma assassina a serviço de Mortain.
Poder de pressentir a morte
Quando chega finalmente a hora de se mostrar digna do convento, ela viaja em uma missão a fim de proteger a duquesa Anne da Bretanha e descobrir quem em seu ducado estava passando informações para a regente francesa. Dotada de poderes como pressentir a morte, ser imune a qualquer veneno e se curar mais rápido do que os outros humanos, Ismae se infiltra na corte da duquesa ao lado do visconde Duval, e surge um sentimento entre eles. Ismae faz de tudo para garantir que Anne seja coroada e case com um bom marido, mas a sorte nem sempre anda a seu lado. A história é baseada em fatos reais.
A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RBNBC) é um dos projetos mais importantes de articulação entre leitores e bibliotecas no Brasil. Publicamos aqui resenhas de livros escolhidos por jovens que frequentam a Biblioteca Comunitária Mundo dos Livros (SP).Contamos com eles para manter acesa a chama da leitura! Conheça e saiba como apoiar a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias no site rnbc.org.br e a ong Vaga Lume no site vagalume.org.br
Este texto foi realizado com o apoio do Itaú Cultural.
Matéria publicada na edição impressa #64 em dezembro de 2022.