Memória,

Márcio Souza, autor de ‘Mad Maria’, morre aos 78 anos

Consagrado por representar na literatura a cultura, história e questões sociais da Amazônia, escritor é fundamental em momento decisivo na região

13ago2024
(TV Cultura/Reprodução)

O escritor, dramaturgo e jornalista Márcio Souza morreu nesta segunda-feira (12), aos 78 anos, em Manaus, Amazonas. Souza passou mal no domingo e foi internado. A causa da morte, segundo os familiares, foi uma parada respiratória após uma crise de diabetes. 

Autor dos romances Galvez, imperador do Acre (1976) e Mad Maria (1980), que inspirou a série homônima da TV Globo, o amazonense foi uma das figuras consagradas na literatura moderna no Brasil, sobretudo na ampliação de visibilidade das histórias do Norte do país. 

Em 1990, foi convidado a dar aulas na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, sobre “o moderno romance brasileiro” e “imagens da Amazônia”. Ele, porém, percebeu que não tinha referências bibliográficas para indicar aos alunos.

Em resenha para a Quatro Cinco Um, o jornalista Rubens Valente conta que esta lacuna o levou a produzir uma obra mais rápida: Breve história da Amazônia, lançada em 1994 (Marco Zero), com menos de duzentas páginas. Mais de duas décadas depois, em 2019, lançou pela Record a edição revisada e ampliada Histórias da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século 21.

“A melhor definição da obra é dada pelo próprio autor na apresentação: ‘Uma espécie de roteiro de chegada a um pedaço imenso, mas pouco conhecido, da América do Sul’. O livro vale sobretudo por organizar o rico e turbulento passado da região, afastando a falsa impressão de que é um marasmo para o historiador. A mais evidente conclusão é que foi um pedaço da aventura brasileira extremamente sangrento e especialmente custoso para os indígenas”, escreveu Valente.

Souza é reconhecido por desfilar personagens heroicos e infames numa narrativa dinâmica. No consagrado Mad Maria, romance que carrega “muito de verdadeiro”, como está escrito na introdução do livro sobre o relato da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, o manauara narra os estragos causados pelo empreendimento no início do século 20. Situada no estado de Rondônia, a rodovia percorre um trajeto de quase quatrocentos quilômetros, que liga Porto Velho a Guajará-Mirim.

“Neste momento em que a região cresce em relevância no debate público, temos a sorte de reencontrar o livro, que acaba de ganhar reedição após quase vinte anos fora de catálogo”, escreveu Guilherme Magalhães para a Quatro Cinco Um em 2023, quando o romance ganhou sua mais recente reedição, pela Record.

Souza também é autor de A resistível ascensão do Boto Tucuxi (1982), onde fala sobre a realidade política e social da Amazônia; e Lealdade (2005), que faz parte da tetralogia Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro, abordando a história da Amazônia desde o período colonial até o século 19.

Formado em ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP), Souza começou a vida profissional no cinema, como crítico, roteirista e diretor, atuando também como diretor de teatro. Seja na literatura ou em todos os outros campos das artes, seu legado como uma voz ativa na defesa da cultura, dos direitos dos povos amazônicos e do meio ambiente seguirá como uma porta de entrada para conhecer a história de uma das regiões mais importantes do mundo.