Flip, Literatura brasileira,

Homem de vários estilos

O multifacetado escritor paraibano Braulio Tavares traz livro em que parodia e imita seus autores preferidos

14jul2019

É difícil encontrar uma linguagem na qual o escritor, poeta, tradutor e compositor paraibano Braulio Tavares não tenha se embrenhado. Na Flip, ele faz companhia à argentina Mariana Enriquez na mesa Santo Antônio da Glória, em que vão conversar sobre fantasia e ficção científica.

Ele também lança Fanfic (Patuá), que reúne 22 contos e minicontos em que a noção de realidade acaba por ser questionada, e mantém sempre atualizado seu blog, chamado Mundo Fantasmo e conversou com a Quatro Cinco Um sobre as várias linguagens textuais pelas quais se embrenhou ao longo dos anos.

Qual é o conceito de fanfic e de onde surgiu a ideia de fazer esse livro? Fanfic é uma coletânea de contos, que eu publiquei ao longo de vários anos em revistas, jornais e antologias. O termo fanfic significa ficção escrita por fãs, e não por autores profissionais. Eu tinha uma brincadeira de dizer aos amigos que me davam um conto para ler: “Isso aqui não é literatura, é fanfic”. Pus este título porque o meu livro é um pouco isso, são paródias, pastiches, imitações e homenagens minhas a autores que admiro, como Georges Perec, James Joyce, Robert Sheckley, Raymond Queneau, Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e vários outros.

Você também escreve bastante em seu blog Mundo Fantasmo. De onde veio a vontade de criar um blog? O blog surgiu como consequência de uma coluna diária sobre cultura que eu mantive no Jornal da Paraíba, de João Pessoa, entre 2003 e 2016. Como o número de artigos cresceu muito (hoje são mais de 4.400) criei o blog para que os leitores pudessem acessar o material com mais facilidade. Posto no blog de três em três dias, mais ou menos. Em 2016 o jornal deixou de circular, e com isso acabou-se o limite de 2.680 caracteres a que eu estava submetido. Hoje faço artigos mais longos e ilustrados. O blog já tem cerca de 1,4 milhão de acessos no total.

E a sua peça Suassuna – o Auto do Reino do Sol, há alguma ligação com a Guerra de Canudos? Andréa Alves, da produtora Sarau, me encomendou um texto de musical para os noventa anos de Ariano Suassuna, e eu tive a ideia de escrever uma peça original utilizando os temas, ambientes e personagens da obra dele. Imaginei uma guerra entre duas famílias de fazendeiros no sertão, e a fuga dos retirantes para criar um arraial chamado O Soturno, que é uma espécie de Canudos, um refúgio para o povo do “Brasil Real” para se proteger das guerras do “Brasil Oficial”. A peça foi dirigida por Luiz Carlos Vasconcelos, com música de Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del-Penho, e interpretada pelo grupo carioca Barca dos Corações Partidos, estreando no Rio em junho de 2017.

Você parece estar sempre antenado com as novas linguagens que surgem na internet. Como vc se relaciona com elas? Eu tenho uma relação um pouco lúdica com a linguagem, tenho prazer em imitar estilos ou narrativas alheias. Não quero ter um estilo só, gosto de pegar uma situação meio batida e dar-lhe um novo arranjo, no sentido musical do termo. A internet é um campo aberto onde é muito fácil aparecer e igualmente fácil desaparecer. Gosto porque se parece a uma biblioteca imensa, onde a gente pode ler tudo e assimilar o que interessa.

Que outros tipos de linguagem gostaria de explorar e ainda não explorou? Eu escrevo romance, conto, poesia, ensaio, crônica, peças de teatro, roteiros de cinema e TV, letras de música, folhetos de cordel… Gosto de me alternar entre esses modelos todos. Não ando propriamente em busca de outras formas, mas pode acontecer, já que há muitas experiências interessantes surgindo por aí. Estou aberto para novidades.

Quais são seus outros projetos para o futuro? Este ano estou escrevendo duas séries de TV: No País da Poesia Popular, para a Truque (Salvador), e A Persistência da Memória, para a Luni Produções (Recife), além de um documentário sobre o grupo do Gráfico Amador [fundado em maio de 1954 por Aloísio Magalhães, o grupo editava textos literários cuja extensão não ultrapassasse as limitações de uma oficina de amadores], também para a Luni. Quero montar uma coletânea de poemas curtos, e continuo tentando, reeditar meu livro A espinha dorsal da memória, que ganhou o Prêmio Caminho de Ficção Científica há trinta anos, e eu gostaria de fazer uma edição comemorativa.