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A escritora sul-coreana Han Kang (David Levene/Divulgação)

Literatura,

Han Kang vence o Nobel de Literatura 2024

Autora de ‘A vegetariana’, a sul-coreana é conhecida por sua prosa poética e por explorar as fronteiras do que nos define como humanos

10out2024 • Atualizado em: 11out2024

A poeta, contista e romancista sul-coreana Han Kang, de 53 anos, se tornou nesta quinta (10) a primeira escritora asiática a ganhar o prêmio Nobel de Literatura. Autora de A vegetariana, Han é conhecida por ter uma prosa elegante e por explorar temas como a opressão patriarcal, violências históricas e as fronteiras do que nos define enquanto seres humanos.

Foi, de certa forma, uma surpresa. Embora considerada uma estrela literária em seu país natal e detentora de prêmios importantes como o Booker International, principal distinção da literatura em língua inglesa, Han não aparecia entre os nomes mais cotados nas bolsas de apostas. Lideravam a australiana Alexis Wright, a chinesa Can Xue, o romeno Mircea Cărtărescu, o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o e a japonesa Yoko Tawada.  

Sua “intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”, como definiu o comitê do Nobel, pode ser conferida nos três livros de Han Kang publicados no Brasil: A vegetariana (2018, trad. Jae Hyung Woo), Atos humanos (2021, trad. Ji Yun Kim) e O livro branco (2023, trad. Natália T. M. Okabayashi). Todos saíram pela Todavia, depois de uma primeira edição de A vegetariana ter sido lançada no país em 2013 pela editora Devir, com tradução de Yun Jung Im.

A vegetariana

O romance mais conhecido de Han surgiu em 2007, quando a escritora consolidou numa narrativa única três contos já publicados. A vegetariana foi adaptado para o cinema dois anos depois pelo diretor Woo-Seong Lim e, em 2016, sua edição em inglês arrebatou o Booker International, prêmio para traduções publicadas no Reino Unido, deixando para trás autores consagrados como Elena Ferrante e os também ganhadores do Nobel Kenzaburo Oe e Orhan Pamuk.  

As três partes que compõem o romance contam, em ordem cronológica, mas de pontos de vista distintos, a história de Yeonghye, uma mulher pacata e submissa que, num ato inesperadamente voluntarioso, decide parar de comer carne. “Abdicando da carne, a jovem de fato refreia impulsos naturais, mas isso não a afasta do estado de natureza”, escreveu a editora Rita Mattar em resenha para a Quatro Cinco Um.

A originalidade do romance, ressaltou Mattar, se encontra no “abandono da dicotomia entre humano e animal” e na inserção de um terceiro e decisivo componente: “se bandear para o reino vegetal pela privação da carne e do sexo”.

Ao anunciar a vencedora de 2024, o comitê do Nobel destacou que Han “tem uma consciência única das conexões entre corpo e alma, entre os vivos e os mortos”, e que seu “estilo poético e experimental se tornou inovador na prosa contemporânea”. Sua “empatia por vidas vulneráveis, muitas vezes femininas, é palpável e reforçada por sua prosa carregada de metáforas”, disse Anders Olsson, presidente do comitê.

Trajetória

Han nasceu em Gwangju, cidade no sudoeste da Coreia do Sul, em 1970. Aos dez anos, se mudou com a família para Seul, onde depois estudou literatura coreana na Universidade Yonsei. A estreia literária da autora veio em 1993, com poemas publicados na revista sul-coreana Munhaggwa Sahoe (Literatura e Sociedade). 

O novo romance de Han, We Do Not Part (“Nós não nos separamos”, ainda sem tradução em português), deve chegar às livrarias brasileiras em 2025, pela Todavia. A história acompanha uma escritora ao descobrir as marcas deixadas na família de uma amiga pela Revolta de Jeju (1948-49), um levante popular que teve como consequência um massacre que levou à morte mais de 30 mil pessoas. 

Ano passado, ela publicou a edição em inglês de Greek Lessons (“Lições de grego”, também sem tradução brasileira), cujo original saiu em 2011 na Coreia do Sul.

Diversidade

Han é a 18ª mulher a ganhar o Nobel de Literatura entre os 117 vencedores da premiação. Nos últimos anos, o comitê tem trazido mais diversidade para o prêmio, que ao longo da história foi entregue principalmente a homens europeus e norte-americanos. 

Nas últimas dez edições, foram premiadas cinco escritoras: além de Han este ano, a belarussa Svetlana Aleksiévitch, em 2015; a polonesa Olga Tokarczuk, em 2018; a norte-americana Louise Glück, em 2020; e a francesa Annie Ernaux, em 2022. O Nobel de Literatura ainda reconheceu em 2017 um autor britânico nascido no Japão, Kazuo Ishiguro, e em 2021 um tanzaniano, Abdulrazak Gurnah.

Livros de Han Kang no Brasil

A vegetariana
Trad. Jae Hyung Woo • Todavia • 176 pp • R$ 74,90/51,90
Romance composto por três narrativas, conta a história de uma mulher que decide parar de comer carne motivada por perturbadores sonhos noturnos. O ato tem consequências dramáticas, revelando o erotismo e a loucura latentes na sociedade.

Atos humanos
Tard. Ji Yun Kim • Todavia • 192 pp • R$ 70,90/51,90
A autora de A vegetariana (2018) narra a história de um adolescente que sobreviveu ao massacre de Gwangju, quando o governo ditatorial de Chun Doo-hwan reprimiu uma insurreição popular.

O livro branco
Trad. Natália T. M. Okabayashi • Todavia • 160 pp • R$ 68,90/52,90
Livro mais autobiográfico da autora sul-coreana, traz indagações e pensamentos a partir do sentimento de ausência despertado por uma irmã morta ainda bebê, que a narradora não chegou a conhecer.