Listão da Semana,

Werner Herzog, Susan Sontag e mais 4 lançamentos

Herzog resgata em livro a história de tenente japonês que se recusou, durante quase trinta anos, a acreditar no fim da Segunda Guerra Mundial

06abr2022 | Edição #56

Um dos mais aclamados (e sensíveis) cineastas da atualidade, o alemão Werner Herzog resgata em livro a história de Hiroo Onoda, tenente japonês que se recusou, durante quase trinta anos, a acreditar no fim da Segunda Guerra Mundial, certo de que se tratava de uma mentira do inimigo. Alimentando-se de cocos e bananas na selva de uma ilha perdida, recusou-se a aceitar a rendição e a derrota pois “era um oficial e recebi uma ordem, se eu não a tivesse cumprido, teria me envergonhado”, como explicou posteriormente. Com o olhar poético de Herzog, o livro, que chega nesta semana às livrarias brasileiras, é uma bela narrativa para fugir da estereotipada e propagandística perspectiva de guerra norte-americana.

Completam a seleção da semana uma nova tradução dos melhores ensaios de Susan Sontag, o novo romance de Rachel Cusk, uma reflexão sobre o uso de dados nas ciências sociais, uma análise sobre como governos podem fazer mais com menos recursos e uma antologia de ensaios de Monique Wittig sobre a opressão de gênero. 

Viva o livro brasileiro!

O crepúsculo do mundo. Werner Herzog.
Trad. Sergio Tellaroli • Todavia • 96 pp • R$ 54,90

Nessa mescla de romance e biografia, o célebre cineasta alemão Werner Herzog (diretor de filmes como Aguirre, a cólera dos deusesFitzcarraldo e Nosferatu) conta a assombrosa história do tenente japonês Hiroo Onoda, que se recusou a acreditar no fim da Segunda Guerra. Convicto de que tudo não passava de uma mentira dos inimigos, ele se escondeu nas selvas das Filipinas acompanhado de três soldados e demorou quase trinta anos para ser persuadido de que a guerra tinha acabado. Depois de sua baixa militar, em 1974, ele se mudou para o Brasil e se tornou fazendeiro.

Leia também: A extensa oferta de livros e produtos culturais sobre a Segunda Guerra Mundial ganha um volume de peso, que atesta o fascínio do conflito.

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Sob o signo de Saturno. Susan Sontag.
Trad. Rubens Figueiredo • Companhia das Letras • 192 pp • R$ 74,90

Em nova tradução, a antologia reúne sete ensaios sobre ética e estética, escritos entre 1972 e 1980 em periódicos como The New York Review of Books e The New Yorker. Sontag revela a influência do escritor Paul Goodman na sua vida, discute a obra sincera e visceral de Antonin Artaud e examina a estética fascista nos filmes e nas fotografias de Leni Riefenstahl e o conceito de história como catástrofe no filme Hitler, do cineasta Hans-Jürgen Syberberg. Descreve ainda a personalidade de Roland Barthes, em um texto escrito uma semana após a sua morte, e esquadrinha o método a-histórico de Elias Canetti. No texto que dá título ao livro, ela analisa o pensamento original e melancólico de Walter Benjamin.

Em texto que prepara para a Quatro Cinco Um, o escritor e professor Kelvin Falcão Klein observa: “Os ensaios frequentemente tocam no que pode ser definido como o paradoxo inerente à condição melancólica: quanto mais se afasta de seus semelhantes, melhor o artista percebe sua obra; mas, ao se afastar da comunidade, distancia-se também das energias urgentes de seu tempo”.

Leia também: Benjamin Moser sugere que tudo o que Susan Sontag escrevia era uma versão disfarçada de suas ideias e de sua vida.

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Segunda casa. Rachel Cusk.
Trad. Mariana Delfini • Todavia • 168 pp • R$ 62,90/44,90

Finalista do Booker Prize 2021, o novo romance da britânico-canadense Rachel Cusk tem como protagonista uma sofrida e inexpressiva escritora identificada como M, casada com um homem silencioso e mãe de uma garota. Eles constroem uma cabana ao lado de sua casa às margens de um pântano e nela hospedam um prestigiado pintor. A história é inspirada nas memórias da escritora Mabel Dodge Luhan, que hospedou D. H. Lawrence em sua casa em 1924. Cusk é autora da trilogia best-seller formada pelos romances EsboçoTrânsito Mérito.

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Evidências: sobre o bom uso de dados em ciências sociais. Howard S. Becker. 
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges • Zahar/Companhia das Letras • 408 pp • R$ 109,90

Autor de Uma teoria da ação coletiva (1977), Outsiders: estudos de sociologia do desvio (2008) e Mundos da arte (2010), o sociólogo norte-americano Howard S. Becker desenvolveu pesquisas em diversas áreas, como educação, arte, gênero e marginalidade. Admirador de Sérgio Buarque de Holanda e de Antonio Candido, o professor da Northwestern University discute o problema do uso de dados nas ciências sociais e os erros cometidos por pesquisadores quando procuram embasar suas teses. Ele sustenta que nenhum método de coleta de dados é absolutamente confiável e que grande parte do trabalho do pesquisador consiste em eliminar os erros.

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Como um governo deveria ser: os novos recursos da atuação estatal. Jaideep Prabhu.
Trad. Luiz Antônio Araujo • Record • 392 pp • R$ 74,90

Professor da Universidade de Cambridge, o indiano Jaideep Prabhu examina as políticas públicas bem-sucedidas em diversos países (Estados Unidos, Reino Unido, Dinamarca, Canadá, Índia, China, Quênia e Bangladesh) para argumentar que os governos podem fazer mais com menos recursos. Utilizando inovações tecnológicas já existentes e reduzindo suas hierarquias governamentais, é possível oferecer serviços públicos mais rápidos, melhores e mais baratos e, ao mesmo tempo, ser mais inclusivo na esfera da seguridade social e promover o desenvolvimento.

Leia também: Livro de Erik Reinert examina as rotas que conduzem as nações à riqueza e à pobreza.

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O pensamento hétero e outros ensaios. Monique Wittig.
Trad. Maíra Mendes Galvão • Autêntica • 144 pp • R$ 59,80/41,90

A coletânea de ensaios contém a síntese do pensamento da escritora francesa Monique Wittig. Com base em uma reinterpretação bastante pessoal do materialismo histórico, ela aponta a existência de uma luta de classes entre homens e mulheres e analisa a opressão de gênero e a resistência feminina ao longo da história. Wittig sustenta que o sexo constitui uma categoria social utilizada para naturalizar a oposição entre homens e mulheres e a dominação patriarcal, que aprisiona as mulheres dentro dos limites fixados pelo sistema. Ela afirma ainda que as lésbicas são “não mulheres” e, nessa condição, têm um papel emancipador.

Leia também: Lançada em 1986, obra que trata da homossexualidade ao longo da história do Brasil ganha edição ampliada.

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Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #56 em fevereiro de 2022.