Listão da Semana,

Três anos de Brumadinho e mais 10 lançamentos

Daniela Arbex lança ‘Arrastados’, em que conta os bastidores do maior desastre humanitário do Brasil

28jan2022 | Edição #53

Três anos após o trágico rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, cerca de 90% das barragens a montante que ainda existem em Minas Gerais ainda não foram desativadas — mesmo que uma lei tenha sido criada para que isso acontecesse. Pelo menos 31 barragens estão em situação de emergência. Marcando a triste efeméride, a jornalista mineira Daniela Arbex lança nesta semana o livro Arrastados, em que conta os bastidores daquele que foi o maior desastre humanitário do Brasil.

Completam a seleção da semana o novo livro de Stefano Mancuso, duas novas traduções da argentina Alejandra Pizarnik, a história urbanística de São Paulo por Raquel Rolnik, o novo romance de Jennifer duBois e um box de Anne Rice; além de uma leva que antecipa o centenário da semana de 1922, com livros sobre modernismos alternativos, os diários de Oswald de Andrade, Drummond e os modernistas mineiros e o guarda-roupa de Oswald e Tarsila do Amaral.

Viva o livro brasileiro!

Assine a newsletter Listão da Semana: uma curadoria dos melhores títulos que chegam às livrarias brasileiras ao longo da semana

Arrastados: os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, o maior desastre humanitário do Brasil. Daniela Arbex.
Intrínseca • 328 pp • R$ 59,90/29,90

A jornalista mineira Daniela Arbex, autora de Cova 312 (2015), vencedor do Prêmio Jabuti, reconstitui as primeiras 96 horas da tragédia provocada pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019. Ela entrevistou bombeiros, sobreviventes, parentes das vítimas, médicos-legistas, policiais e moradores das áreas atingidas pela lama e pelos rejeitos de minério, e acompanhou as disputas por indenizações às famílias dos 270 mortos e contrapartidas institucionais para a reparação dos danos materiais.

Leia também: Em entrevista, a repórter Cristina Serra relata os dramas do desastre ambiental de Mariana.

———

A incrível viagem das plantas. Stefano Mancuso.
Trad. Regina Silva • Ubu • 192 pp • R$ 54,90 

Autor de Revolução das plantas e A planta do mundo, o neurobiólogo italiano explica nesse livro que, ao contrário da visão corrente, as plantas têm movimento: assim como os seres humanos, elas também migram pelo mundo, para assegurar sua sobrevivência ou para descobrir novas formas de vida, para se transformar ou para habitar outros espaços mobilizadas pelo acaso e pela “curiosidade”. As plantas usam os animais para carregá-las de um canto a outro, ou rolam pelas encostas, voam com o vento, nadam nos rios e mares ou desenvolvem frutos incrivelmente versáteis.
 
Trecho do livro: “Estamos convencidos de que, à diferença dos animais, as plantas são incapazes de perceber o ambiente ao redor, mas a realidade é que elas são mais sensíveis que os animais. Temos certeza de que o mundo delas é silencioso, incomunicável, e no entanto elas são comunicadoras de primeira linha. Apostamos que não mantêm nenhum tipo de relação social mas, ao contrário, trata-se de organismos genuinamente sociais. E, sobretudo, podemos jurar que são imóveis […]. Bem, também estamos errados quanto a esse ponto: as plantas não são de forma alguma imóveis. Elas se movem muito, mas a passos mais lentos”.

Leia também: Em livro de botânica, Goethe descreve os movimentos incessantes do mundo vegetal.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Ubu. Conheça o nosso clube de benefícios

———

Diário confessional. Oswald de Andrade.
Org. Manuel da Costa Pinto • Companhia das Letras • 560 pp  • R$ 99,90

O livro reúne registros autobiográficos escritos por Oswald de Andrade entre 1948 e 1954 (ano de sua morte) nos quais detalha temas como suas discussões com Albert Camus e Josué de Castro e e as tentativas de arrumar dinheiro vendendo terrenos a Oscar Niemeyer ou obtendo empréstimos com o banqueiro Gastão Vidigal. O volume traz ainda o texto “A Antropofagia como visão do mundo”, de 1930, que permaneceu inédito, e de reflexões de caráter fragmentário que Oswald escreveu em 1952 sobre os trinta anos da Semana de 1922.

Leia também: Entre salões, cafés, restaurantes, garçonnière e viagens, biografia culinária traça o roteiro da gastronomia na vida e na obra de Oswald de Andrade.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios

———

Modernidade em preto e branco: arte e imagem, raça e identidade no Brasil, 1890-1945. Rafael Cardoso.
Companhia das Letras • 372 pp • R$ 99,90/39,90

O historiador da arte Rafael Cardoso expõe a complexidade de todo o processo de modernização cultural do Brasil, que não se limita ao pequeno grupo que promoveu a Semana de 1922, e destaca a multiplicidade de “modernismos alternativos” que então se desenvolviam, mas que acabaram sendo relegados a uma posição secundária pela historiografia dominante em um momento em que a produção de ponta ocorria sobretudo fora do âmbito da arte erudita. O livro mostra a importância dos pintores Helios Seelinger e José Fiuza Guimarães, o impacto do movimento art nouveau, os usos divergentes do primitivismo no debate cultural e a emergência de um nacionalismo populista que preconizava uma identidade brasileira unificada.

Leia também: Livro compila as intervenções artísticas do grupo 3Nós3 no final da ditadura militar, que levaram táticas de guerrilha para a cena cultural.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios

———

Lira mensageira: Drummond e o grupo modernista mineiro. Sergio Miceli. 
Todavia • 264 pp • R$ 74,90/49,90

Professor titular da Universidade de São Paulo e autor de Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945), o sociólogo Sergio Miceli investiga a trajetória dos círculos modernistas de Minas Gerais (Drummond, Cyro dos Anjos, João Alphonsus) e de São Paulo (Mário de Andrade, Oswald, Menotti, Cassiano Ricardo, Plínio Salgado e outros), além de analisar a elite política brasileira pós-1930: Juscelino Kubitschek, os bacharéis da UDN, Etelvino Lins, Vitorino Freire e a dinastia Pinheiro Chagas.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Todavia Conheça o nosso clube de benefícios

———

O guarda-roupa modernista: o casal Tarsila e Oswald e a moda. Carolina Casarin.
Companhia das Letras • 288 pp • 109,90

A professora de história do vestuário Carolina Casarin descreve — com a ajuda de numerosas fotos de época, reproduções de jornais e registros em cartas, crônicas e diários — a maneira como Oswald e Tarsila procuravam se destacar no cenário cultural da década de 20 por meio de peças de roupa ousadas que traduzissem, na esfera pessoal, o projeto cultural e político dos modernistas.  
 
Trecho do livro: “As imagens de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade são continuamente exploradas pela história da cultura no Brasil — nas artes plásticas, na literatura, na imprensa — e reverberam há cem anos no imaginário nacional, gerando uma teia discursiva que cobre tanto a produção artística do casal quanto o próprio ato de vestir. À medida que os dois, cada um a seu modo de autorrepresentação, iam construindo sua persona, criaram também uma aparência que colaborou para o fortalecimento e a definição estética do modernismo brasileiro nos anos 1920.”.

Leia também: De Debret à era digital, livro conta história da moda brasileira a partir de seus grandes ilustradores.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Todavia Conheça o nosso clube de benefícios

———

São Paulo: o planejamento da desigualdade. Raquel Rolnik.
Pref. Emicida • Fósforo • 120 pp • R$ 59,90

Na reedição ampliada do livro São Paulo, lançado em 2001, a arquiteta, urbanista e professora titular Universidade de São Paulo narra a história urbanística da cidade, que se inicia com a implantação da vila no século 16 em território tupiniquim e avança até 2021, segundo ano da pandemia de coronavírus que assolou a cidade e o planeta, destacando os momentos decisivos dessa trajetória e a emergência de temas, conflitos e políticas que definiram o tecido sociopolítico espacial da cidade. O novo livro tem prefácio de Emicida.

Leia também: Raquel Rolnik enxerga São Paulo como um território em disputa, no qual as decisões não são tomadas em benefício da coletividade.

———

                 

Extração da pedra da loucura. Alejandra Pizarnik.
Trad. Davis Diniz • Apres. Nina Rizzi • Relicário • 152 pp • R$ 49,90
O inferno musical. Alejandra Pizarnik.
Trad. Davis Diniz • Apres. Laura Erber • Relicário • 108 pp • R$ 49,90

Penúltimo livro escrito pela poeta argentina Alejandra Pizarnik, A extração da pedra da loucura (1968) se inspira no mito de que a loucura resultava de tumores que se projetavam na testa. A obra reúne poemas melancólicos, que buscam na linguagem a redenção para uma existência dolorosa. A poesia é sobretudo um refúgio para a alma, um jardim das delícias que existe além dos jardins reais, que a protege da realidade angustiante. Publicado em 1971, um ano antes da morta da autora, O inferno musical revela forte influência de Antonin Artaud. Pizarnik expõe a afinidade entre a música e a morte e manifesta sérias dúvidas sobre o poder das palavras: “As palavras teriam podido me salvar, mas estou vivente demais”.

Leia também: Edição bilíngue de livros de Alejandra Pizarnik favorece o reconhecimento da música no canto original da língua irmã.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da Relicário Edições. Conheça o nosso clube de benefícios

———

Os espectadores. Jennifer duBois.
Trad. Ryta Vinagre • Rocco • 384 pp • R$ 79,90

A escritora norte-americana Jennifer duBois retrata nesse romance o cenário cultural dos Estados Unidos desde os anos 70, passando pelo apogeu do movimento gay e pela crise da aids, tendo como foco Mathew Miller, o apresentador de um popular talk show da televisão americana. Sua condição sofre uma reviravolta quando dois alunos do ensino médio, responsáveis por um tiroteio em massa em uma escola, deixam uma carta na qual revelam ser fãs ardorosos de seu programa, que a partir daí começa a enfrentar uma crise de credibilidade.

———

               

Entrevista com o vampiro. O vampiro Lestat. A rainha dos condenados (Box)Anne Rice.
Trad. Clarice Lispector/Reinaldo Guarany e Eliana Sabino. 1392 pp. R$ 229,90

O box reúne os três primeiros volumes das famosas Crônicas vampirescas da norte-americana Anne Rice, que faleceu em dezembro de 2020 aos oitenta anos. Responsável por popularizar ainda mais os vampiros na cultura pop, Rice passou a escrever sobre seres fantásticos depois da morte da filha em 1972. Como forma de lidar com a perda, ela escreveu Entrevista com o vampiro, publicado em 1976 e que inspirou um filme de sucesso em 1994, com Tom Cruise e Brad Pitt no elenco. O primeiro volume, que foi traduzido no Brasil por ninguém menos que Clarice Lispector, narra a relação do vampiro Lestat com Louis de Pointe du Lac, nascido em 1766 e transformado em vampiro pelo próprio Lestat. Foi o livro que deu início ao mundo erótico dos vampiros de Rice, marcados por uma sexualidade fluida e sem os tabus dos mortais. Já O vampiro Lestat mostra o ponto de vista de Lestat sobre a versão dos fatos narrados no primeiro volume das Crônicas vampirescas (no qual é retratado como vilão), desde quando era um simples mortal no interior da França pré-revolucionária até virar um astro de rock contemporâneo. Em A rainha dos condenados, Lestat, com sua música, acorda Akasha, a mãe dos vampiros, encarnação da força maléfica feminina, que procura escolher os vampiros que merecem sobreviver ao banho de sangue que ela realizará.

Ouça também: Episódio do podcast 451 MHz investiga por que a figura do vampiro continua a seduzir na literatura e no cinema.

———

Faça parte da revista dos livros! Assine a Quatro Cinco Um.

Quem escreveu esse texto

Marília Kodic

Jornalista e tradutora, é co-autora de Moda ilustrada (Luste).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #53 em janeiro de 2022.