Listão da Semana,

Roberto Bolaño, Édouard Louis e mais 6 lançamentos

Antologia póstuma do escritor chileno retrata os traumas causados pelos golpes de Estado que assolaram a América Latina a partir da década de 60

07fev2024 | Edição

Nesta semana chega às livrarias um livro que reúne contos, conferências e ensaios de Roberto Bolaño. Coletânea póstuma, O gaucho insofrível — livro do Clube 451 de fevereiro resenhado na edição deste mês — traz grandes momentos do escritor chileno e seu fascínio pela repetição de traumas herdados do século 20, que se encerrava quando começou a escrever suas grandes obras. Em especial, os traumas de quem viveu na América Latina após a epidemia de golpes de Estado que se alastrou a partir da década de 60. 

A semana traz ainda um romance do dramaturgo norte-americano Jabari Asim sobre as esperanças dos negros escravizados antes da Guerra Civil, um estudo do cientista político Yascha Mounk sobre as razões que conduzem as democracias ao colapso, o primeiro livro de poemas da tradutora Marina Della Valle, o terceiro livro de ficção de Ferréz e um ensaio de Édouard Louis sobre seu processo de amadurecimento.

Viva o livro brasileiro!

O gaucho insofrível. Roberto Bolaño.
Trad. Joca Reiners Terron • Companhia das Letras • 152 pp • R$ 69,90

Coletânea que reúne cinco contos e duas conferências do grande escritor chileno (1953-2003), que abordam os traumas de um continente enfermo, assolado pela desigualdade social, pela violência política e por sucessivos golpes de Estado, e povoado por agentes da repressão e exilados dentro de seu próprio país, por famílias arruinadas pelas crises econômicas e poetas de produções perdidas e nunca publicadas, por caçadores de óvnis e de aparições de santos.

Ao resenhar O gaucho insofrível para a revista dos livros, Schneider Carpeggiani escreve: “A simples necessidade de reaquecer o costume está longe de ser o atrativo maior das narrativas de O gaucho insofrível. Aqui estão reunidos grandes momentos da produção do chileno, e arrisco a dizer que o conto de abertura, ‘Jim’, talvez seja um dos mais perfeitos de Bolaño, pela precisa desolação com que ele descreve seus vagabundos perdidos, seus Rimbauds pessoais.” Leia na íntegra a resenha publicada na presente edição da Quatro Cinco Um.

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Mudar: método. Édouard Louis. 
Trad. Marília Scalzo • Todavia • 240 pp • R$ 74,90

O livro constitui uma espécie de ensaio no qual o autor francês narra de forma crua as dificuldades enfrentadas durante sua infância e sua adolescência (pobreza material, violência, homofobia) e a maneira como se distanciou de sua família e de seus amigos, agarrando os estudos para se libertar da condição de operário fabril. Ele lê sem parar, janta com aristocratas e passa as noites com milionários para se tornar uma outra pessoa e erradicar de vez um passado que abomina.

Leia mais: Em entrevista, Édouard Louis fala sobre seus dois livros recém-lançados no Brasil e explica por que considera a literatura um ato político

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A mulher que me sonha à noite. Marina Della Valle.
,Nauta • 104 pp • R$ 50

Sob uma capa que reproduz uma litografia de Edvard Munch, o primeiro livro de poemas da notável tradutora paulista retrata as esperanças, as paixões e as angústias que movimentam nossas vidas frágeis e quebradiças: “Quando viu a mulher e o homem/ Rodopiando, incontroláveis/ Deus levou as mãos à cabeça/ E em seu desespero divino/ Criou o primeiro furacão”.

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Em algum lugar lá fora. Jabari Asim.
Trad. Rogerio W. Galindo • Instante • 256 pp • R$ 74,90

Romance publicado em 2022 pelo poeta e dramaturgo norte-americano, cuja trama se desenrola numa fazenda do sul dos Estados Unidos na década de 1850, em que os escravizados estão submetidos a um proprietário tirânico. Ainda que os negros sequestrados tenham aprendido o idioma e a religião de seus captores, eles se ressentem da falsa crença de que são incapazes de amar e desejam estar “em algum lugar lá fora”, longe de seus encargos extenuantes. A situação começa a mudar quando um negro liberto, um pastor errante, começa a incutir neles a ideia de que, se fossem livres, eles poderiam escolher tanto as pequenas coisas (quando jantar, quando trabalhar) como as grandes, como a quem amar.

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Manual prático do ódio. Ferréz.
Companhia das Letras • 240 pp • R$ 64,90

Publicado em 2003, o terceiro livro do escritor do Capão Redondo reúne contos que retratam a miséria e a violência nas periferias metropolitanas. O ódio está presente ao longo de todo o livro como chave das narrativas sobre os diferentes personagens (Régis, Lúcio Fé, Neguinho da Mancha na Mão, Aninha, Celso Capeta, Mágico) que, após anos tentando melhorar de vida, planejam o assalto a um banco.

Leia também: Um retrato do escritor Ferréz, por Renato Parada

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O grande experimento: por que as democracias diversificadas fracassam e como podem triunfar. Yascha Mounk.
Trad. Odorico Leal • Companhia das Letras • 400 pp • R$ 109,90

Autor de O povo contra a democracia (2019), resenhado pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira para a Quatro Cinco Um, o cientista político norte-americano sustenta que, ao longo da história, nenhuma democracia conseguiu tratar de forma justa e igualitária grupos étnicos e religiosos diferentes. Esse, contudo, é o grande experimento do nosso tempo: construir um projeto democrático que consiga preservar e conviver com a diversidade e, com isso, afastar os riscos dos populismos de direita que vêm se expandindo na Europa e nas Américas.

Leia também: Partido Republicano e legislação eleitoral são as grandes ameaças à democracia dos Estados Unidos, alertam Levitsky e Ziblatt em novo livro

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Ética. Baruch de Espinosa.
Trad. Diogo Pires Aurelio • Editora 34 • 640 pp • R$ 128

Publicada em 1677, após a morte do filósofo, a principal obra de Espinosa — cuja primeira parte trata de Deus — logo foi incluída no Index da Inquisição. Abordando problemas de ontologia, epistemologia, física e psicologia, a Ética se tornou uma das obras mais influentes do pensamento ocidental.

Longe do ninho. Daniela Arbex.
Intrínseca • 304 pp • R$ 69,90

Uma investigação sobre o incêndio de 8 de fevereiro de 2019 no chamado Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, que provocou a morte de dez jovens atletas. Os jovens, que tinham entre catorze e dezesseis anos, dormiam num contêiner que tinha apenas uma porta de saída e era feito de materiais que não impediram a rápida difusão das chamas — que alcançaram todos os quartos em menos de dois minutos.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa em .