Feira do Livro encerra com recorde de público e tributo a Rita Lee

Discussões sobre branquitude, política, Inteligência artificial, diferentes estilos literários e até uma homenagem musical a Rita Lee movimentaram o último dia d’A Feira do Livro 2023, neste domingo, 11. O público, que superou as 30 mil pessoas nos cinco dias de evento no Pacaembu, em São Paulo, não decepcionou no encerramento, e lotou o Palco da Praça para ver também uma edição ao vivo do Foro de Teresina.

A colunista da Quatro Cinco Um Juliana Borges, a psicóloga Cida Bento e a pesquisadora Winnie Bueno [Sean Vadaru/Divulgação]

A programação começou cedo, às 10h, com a mesa O pacto da branquitude, título do livro da psicóloga Cida Bento e tema da conversa com a pesquisadora e ativista Winnie Bueno, com mediação de Juliana Borges, colunista da Quatro Cinco Um. “Não tem mais volta o questionamento desses lugares de privilégio. Nem todos os brancos estão em lugares de poder, mas todos os lugares de poder são ocupados por brancos. E a gente tem que procurar entender como isso aconteceu”, disse Bento.

Literatura vs. autoritarismo

O escritor Milton Hatoum [Sean Vadaru/Divulgação]

Na sequência, Milton Hatoum subiu ao Palco da Praça para uma conversa marcada por memórias e homenagens a grandes mestres da literatura, em que também defendeu o projeto de país que sofreu ataques nos últimos anos pela ascensão da extrema direita — mas que, na opinião do escritor, ainda pode ser recuperado.

“Nenhum governo autoritário consegue controlar tudo. Por mais autoritário que seja, você não consegue controlar a imaginação das pessoas. Essa é uma das forças da literatura”, disse o autor da trilogia O lugar mais sombrio (Companhia das Letras), em conversa com Roberta Martinelli na mesa Relatos de um certo país. A conversa foi transmitida ao vivo pela Rádio Eldorado e marcou a estreia do Clube do Livro, programa comandado pela apresentadora.

O fotógrafo Bob Wolfenson [Guilherme Rocha/Divulgação]

O fotógrafo Bob Wolfenson relembrou mais de meio século de carreira em conversa com o colega de profissão Renato Parada, colunista da Quatro Cinco Um, na mesa Retratos falados. Em meio a comentários sobre sua famosa passagem pela revista Playboy — “uma época em que tudo era possível" —, Wolfenson também descartou a ameaça da inteligência artificial ao ofício do fotógrafo. “O vídeo não acabou com o cinema. A televisão não acabou com o rádio. Há uma readequação. Sempre que surge algo muito revolucionário acontece isso.”

A mais completa tradução

A cantora Paula Lima [Sean Vadaru/Divulgação]

Rita Lee, a mais completa tradução de São Paulo, foi a homenageada do Interlúdio Musical neste domingo — A tua mais completa tradução —, que fez o público cantar os grandes hits da cantora morta em maio. A homenagem, também comandada por Martinelli, reuniu as compositoras e cantoras Paula Lima, Tiê e Tulipa Ruiz para um bate-papo sobre o legado de Rita. O encontro terminou com muita cantoria, como não poderia deixar de ser.

O escritor Pablo Katchadjian [Guilherme Rocha/Divulgação]

As mesas com os autores prosseguiram à tarde, com a presença do argentino Pablo Katchadjian em conversa com Joca Reiners Terron. Autor de livros difíceis de classificar, como A liberdade total (DBA), que deu nome à mesa, Katchadjian falou sobre seu processo criativo e inspirações. “Tento evitar qualquer coisa que os autores colocam como regra”, disse.

Os dois autores também encarnaram A e B, personagens que discutem a existência da liberdade no romance do argentino, em que não há narradores, personagens ou cenários muito bem definidos.

Os escritores Aline Motta e Felipe Charbel [Sean Vadaru/Divulgação]

Dois autores que trabalham com a memória e suas lacunas, misturando escrita, artes visuais, documentos e fotos, se encontraram na mesa Escrita e memória, com curadoria e mediação de Paulo Roberto Pires, colunista da Quatro Cinco Um. Aline Motta, autora de A água é uma máquina do tempo (Círculo de Poemas), e Felipe Charbel, que lançou n’a feira o livro Saia da frente de meu sol (Autêntica), falaram do mergulho em histórias familiares e ficção em diferentes linguagens.

Os cartunistas Pedro Vinício e Laerte [Guilherme Rocha/Divulgação]

Duas gerações do humor se encontraram na mesa Tirando tudo, tá tudo bem, no auditório Armando Nogueira. Fenômeno das redes sociais durante a pandemia, que traduziu com humor sentimentos como ansiedade, tensão e estresse, Pedro Vinício e a veterana Laerte falaram sobre inspirações, influências e cancelamento. “Falaram que eu era cartunista. Eu não sabia o que era isso, pesquisei no Google, e apareceu a Laerte”, disse ele, fazendo a plateia rir.

Foro ao vivo

Os jornalistas Thais Bilenky, Fernando de Barros e Silva e José Roberto de Toledo [Sean Vadaru/Divulgação]

O trio de comentaristas de política mais amado da podosfera lotou o Palco da Praça no fim da tarde para uma edição ao vivo do Foro de Teresina na mesa Foro na Feira. Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Thais Bilenky falaram sobre a relação do presidente Lula com o Supremo Tribunal Federal e os dez anos de Junho de 2013, entre outros temas.

Ao final, participaram de um Kinder Ovo, seção do podcast em que tentam adivinhar de quem é determinada fala, mas com uma dinâmica diferente: a diretora Mari Faria escolheu três personalidades políticas, e os três tinham que fazer perguntas para tentar adivinhar quem eram. Bilenky foi quem contou com mais ajuda do público e acertou os três nomes — Alexandre Frota, Renan Calheiros e Benedita da Silva — segurando a invencibilidade que vem mantendo no programa.

As escritoras Esmeralda Ribeiro, Giovana Madalosso, Natalia Timerman e Paula Carvalho [Sean Vadaru/Divulgação]

A Feira se encerrou com um grande encontro de autoras que relembrou um momento marcante da última edição: a foto histórica que reuniu mais de 400 mulheres escritoras na arquibancada do Pacaembu empunhando suas obras. A mesa Um grande dia em São Paulo marcou também o lançamento do livro homônimo, pela editora Bazar do Tempo, que reuniu registros de mais de trezentas autoras espalhadas pelo Brasil e de outros países que repetiram o gesto.

No palco, as escritoras Esmeralda Ribeiro, Giovana Madalosso, Natalia Timerman e Paula Carvalho, que também é editora de podcasts da Quatro Cinco Um, prestaram uma homenagem a todas as mulheres que vêm escrevendo e publicando suas histórias.

A Feira do Livro acontece de 7 a 11 de junho na praça Charles Miller, no Pacaembu, em São Paulo.

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