Só temos a ganhar aprendendo sobre PANCs, diz nutricionista e pesquisadora Neide Rigo

A nutricionista e pensadora da comida Neide Rigo é uma referência em Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), e dedicou parte de sua trajetória à pesquisa sobre o cultivo e o uso culinário desses vegetais, presentes nas ruas das cidades, mas desconhecidos da população. A autora de Comida comum, publicado pela editora Ubu em 2024, não quer, no entanto, que as pessoas substituam sua alimentação por PANCs ou que comam tudo o que encontram nas ruas. Afinal, a comida tradicional é mais do que o suficiente para se ter uma alimentação saudável, esclareceu.

Ela tampouco acha que a função das PANCs é acabar com a fome, lugar que segundo ela deve ser ocupado por programas sociais que garantam acesso à comida de qualidade, que não é ultraprocessada, por exemplo, por meio de subsídios às famílias e criação de restaurantes populares.

A intenção de seu trabalho é mais simples. “Temos uma alimentação muito limitada. Acho que a intenção de todo mundo que trabalha com PANCs é mostrar que podemos ter uma alimentação mais biodiversa, colorir os pratos”, afirmou, mencionando que, embora existam mais de 10 mil espécies no mundo, apenas cerca de vinte delas são responsáveis por 90% de todo o consumo alimentar no planeta.

“Independentemente do que se vai fazer com esse conhecimento, é importante que observemos as plantas que existem mesmo em uma cidade como São Paulo, com tanto cinza”, prosseguiu. “Só temos a ganhar.”

Ao longo da conversa com a mediadora, a jornalista Isabelle Moreira Lima, Rigo contou que se interessa por plantas desde a infância, apesar de só ter encontrado a nutrição após se aventurar por diversos cursos, incluindo artes plásticas.

Agricultura de frestas

Também comentou suas experiências viajando pelo país para dar oficinas culinárias, ocasiões nas quais pode trocar conhecimento sobre alimentos nativos e práticas já arraigadas com populações locais; e o processo de criação de uma horta comunitária em seu bairro, que gerou uma disputa em sua vizinhança. O canteiro, erguido em uma área antes voltada para o descarte de lixo, abriga principalmente plantas exóticas que resistem a intempéries, como curry, moringa, jerivá e louro, disse a nutricionista. 

Àqueles que desejam se aventurar no que Rigo chama de “agricultura de frestas”, ou seja, desenvolver a habilidade de identificar plantas comestíveis que crescem em meio ao concreto, ou ainda no universo do plantio comunitário, a principal dica da pesquisadora é experimentar.

Isso significa, por exemplo, exercitar o olhar em relação às plantas ao nosso redor e ir a feiras de produtores locais para conhecer novas espécies e “treinar o olhar”, nas palavras da pesquisadora. Se sabemos identificar o que é um pé de alface, ela afirmou, é porque vimos muitos deles nos supermercados.

“As pessoas acham que eu entendo muito de cultivo de plantas, o que não é verdade. Mas não tenho medo. Essa é minha vantagem”, afirmou ela. “O aprendizado faz parte.”

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