Epifania submarina

Durante certas férias escolares, o menino Bill François teve uma epifania. Ao escalar os rochedos da praia onde passava férias com a família, viu, pela primeira vez, uma sardinha viva.

É com essa história que começa o livro Eloquência da sardinha (Todavia) e, também, a paixão pelos seres aquáticos, oceanos e rios que François passou a pesquisar e a defender, numa época em que os oceanos e a vida marinha estão constantemente ameaçados pela ação humana.

Formado em física pela École Normale Supérieure de Paris e doutor em hidrodinâmica, ele trabalha em uma tese sobre a mecânica dos fluidos aplicada ao nado dos peixes. A retórica e a linguagem, oral ou escrita, são a outra grande paixão do escritor e cientista. François é mais conhecido do grande público francês por ter vencido, em 2019, o Grand Oral, concurso de oratória transmitido pela France Télévisions.

A visibilidade adquirida na competição televisionada ajudou a impulsionar seu livro, publicado na França no mesmo ano. Mais importante, ajudou a divulgar as causas que, na obra, surgem na linguagem poética de cardumes, baleias, golfinhos e sardinhas. François é um ecologista e, como tal, está envolvido em programas para a preservação da vida marinha. Um deles é o rastreamento de atuns para documentar padrões migratórios inesperados e planejar melhores formas de proteger esses peixes da pesca predatória.

O que as sardinhas têm a dizer aos brasileiros?
Espero que minhas sardinhas contem aos brasileiros as histórias do oceano e os segredos da vida aquática. Há um território fantástico de vida aquática no Brasil, com uma riqueza incrível de águas puras, biodiversidade e vida marinha. E você não precisa ir muito longe para encontrar criaturas encantadoras, já que até uma humilde sardinha tem inúmeros segredos maravilhosos para compartilhar.

Como foi a experiência de entrar nos mares da literatura?
Os mares da literatura são fabulosos porque, assim como o mundo oceânico, eles conectam pessoas. Assim que um livro entra nos mares da literatura, é como uma mensagem dentro de uma garrafa jogada no oceano Atlântico: pode alcançar pessoas desconhecidas e inesperadas em qualquer lugar do mundo. Eu amo essa forma de fazer as ideias viajarem e serem compartilhadas no mundo todo.

Quais as suas expectativas ao participar presencialmente de uma feira do livro no Brasil, após o isolamento da pandemia?
Gostaria de dividir minhas histórias com muitas pessoas e de encontrar brasileiros que dividam suas histórias comigo. Há muito a aprender com as diferentes culturas.