
Deslembramentos,
ultimamente, nem já milagres
haverá ainda gente com a capacidade simples de querer estar com outras gentes? (e nesse estar: um descobrir, um escutar? oxalá!)
25mar2025 | Edição #921.
até mesmo a palavra maçã
permite abrir uma conversa, real ou imaginária, sobre uma coisa que pode gerar outra coisa. por exemplo: uma semente pode vir a ser fruto e flor. ou: como uma nuvem hoje pode, amanhã, esvoaçar-se em ar ou chuva molhada.
1.5 (uma vez fui apanhado por uma chuva molhada que voava de norte para sul. mas, bem vistas as coisas: era uma andorinha.)
2.
o corpo do futuro de cada lugar. o futuro a falar da capacidade das gentes e da sensibilidade do entendimento. a outros, seria útil poder usufruir.
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2.5 (houvesse um tempo para aqueles que andam sob a chuva do fogo, isto é, as guerras-que-duram, e pudessem eles usufruir desse tempo para simplesmente viver. serem felizes. espreitarem, como coisa banal, as brincadeiras felizes dos mais-novos.)
3.
onde há desencanto houve ilusão e crença. e onde há entrega, haverá certa paz. cooperar, participar de transformações. escuta e conversamento. assim como aproximando uma maçã (que já foi gesto e já foi semente; e já foi rega e já foi broto) do acto de transformar, pode que humanamente, no lugar de simples transformação, nasça a palavra transformaçã.
desabrir a chuva e visitar a infância, desabrir o barro e ler Manoel, desabrir a ponta e a ponte
3.5 (ilusão e crença… de mãos dadas ou de mãos afastadas. mas bem vistas as coisas: era uma questão de reconhecermos que todos têm merecimento de certa serenidade.)
4.
já diria o mais velho muito velho que inventava palavras: “triste e antiga sina a nossa: não há milagres, ultimamente!”
mas haverá ainda gente com a capacidade simples de querer estar com outras gentes?
4.5 (e nesse estar: um descobrir, um escutar? (longa pausa). oxalá!)
5.
o termo amombe’uta (língua mbya guarani) significa “vou contar”.
e quem conta, lembrando para trás ou para mundos paralelos, conversa consigo e com o mundo. desabrindo aos poucos as camadas do silêncio.
5.5 (como assim desabrir?)
6.
desabrir a disponibilidade. desabrir o convexo do humor. desabrir lentamente a palma da mão para que seja simples e vista. desabrir uma flor ao perto e ao pouco. desabrir a chuva e visitar a infância. desabrir o barro e ler Manoel. desabrir a ponta e a ponte.
6.5 (desabrir, celebrando, sem ter que responder a quem colocar “como assim desabrir?”)
7.
preparar uma conversa é expôr uma coisa — que pode gerar outra coisa.
por exemplo: uma maçã.
Matéria publicada na edição impressa #92 em abril de 2025.
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