Literatura,

Onde os fracos não têm vez

7 leituras de fôlego para as quais você nunca teve tempo — até agora

02abr2020

Sabe aquele belo calhamaço que enfeita sua estante e que você insiste em prometer a si mesmo que vai ler assim que tiver “um tempinho”? É agora ou nunca! Brincadeiras à parte, para aqueles que têm o privilégio de ficar em casa durante a quarentena do coronavírus e já passaram por todo o catálogo da Netflix, é um bom momento para se perder nas páginas de um alfarrábio de respeito. Listamos aqui nove deles.

Guerra e paz, Liev Tolstói
Clássico das obras volumosas, o tomo de Tolstói narra a história da Rússia à época de Napoleão Bonaparte. A trama se passa durante a campanha de Napoleão na Áustria e descreve a invasão da Rússia pelo exército francês e a sua retirada, compreendendo o período de 1805 a 1820. Descrevendo o jogo da política, as táticas da nobreza arruinada, as intrigas da corte e a brutalidade (e banalidade) da guerra, o livro, publicado entre 1865 e 1869, fez sucesso graças à riqueza e ao realismo de seus detalhes e suas numerosas descrições psicológicas. Em 2017, a Companhia das Letras lançou um vistoso box em dois volumes, com 1544 páginas.

Tetralogia napolitana, Elena Ferrante
Com mais de 10 milhões de cópias vendidas em quarenta países e uma adaptação para a televisão pela HBO, a história das amigas Lila e Lenù é um dos maiores fenômenos da literatura mundial da última década. Dividida em quatro volumes (A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida, todos lançados pela Biblioteca Azul), a saga de mais de 1.500 páginas é centrada na vida de duas figuras femininas napolitanas, fortes e problemáticas, percorrendo da infância à maturidade. “As vidas de Lila e Lenu não deixam, portanto, nada a desejar se comparadas às de Claire Underwood, Meredith Grey, Alicia Florrick, Lady Mary Crawley, Carrie Mathison, Annalise Keating ou qualquer outra da legião de protagonistas das atuais séries audiovisuais que nos roubam o sono madrugadas adentro”, escreve Eliane Robert Moraes em resenha publicada na primeira edição da Quatro Cinco Um. Em 2016, Ferrante foi eleita pela revista Time uma das cem pessoas mais influentes do planeta. Ainda em 2020, a editora Instrínseca deve lançar no Brasil o novo romance de Ferrante, intitulado A vida mentirosa dos adultos.

Em busca do tempo perdido, Marcel Proust
Os sete volumes de Proust são considerados por muitos a obra literária mais extensa de todos os tempos — na clássica tradução de Editora Globo, feita por luminares como Manuel Bandeira, Drummond e Mário Quintana, tem 3.938 páginas. Publicada entre 1913 e 1927, a narrativa é uma das mais improtantes — e menos lidas — da literatura mundial. Proust apresenta reflexões sobre temas universais como o amor, a arte, a memória e, é claro, a passagem do tempo. Na cena mais célebre, o sabor de uma madeleine (bolinho típico da França) mergulhada no chá desperta a memória involuntária do narrador e faz com que descreva em detalhe mais de 2 mil tipos que habitam tanto as sociedades da aristocracia decadente como da burguesia vulgar, entre as quais se divide. Em 2002, a Nova Fronteira lançou um box compacto, com 2.472 páginas, da obra completa. Dividida em três partes, tem tradução do poeta carioca Fernando Py.

Graça infinita, David Foster Wallace
O livrão (com o perdão do trocadilho rudimentar) de Foster Wallace retrata uma geração ligada à ironia e ao entretenimento, porém desconectada da imaginação, da solidariedade e da empatia. Situada em um futuro próximo em que Estados Unidos, México e Canadá formaram a ONAN (Organização das Nações da América do Norte) e no qual nada escapa de patrocínio publicitário, o livro questiona a obsessão humana pelo entretenimento enquanto enquanto reflete sobre vício, solidão e narcisismo. O autor, conhecido também pelo ensaio “Pense na lagosta” (2004), sobre as questões éticas e filosóficas de se ferver lagostas vivas, cometeu suicídio em 2008. A edição brasileira de Graça infinita, da Companhia das Letras, foi lançada em 2014 com 1.144 páginas.

1Q84, Haruki Murakami
O catatau de Murakami, que vendeu 4 milhões de exemplares somente no Japão, tem mundos paralelos, garotas misteriosas, assassinatos e estranhas seitas. Ao costurar trechos de suspense, violência e distopia com momentos de nostalgia, amor e união, a trama, dividida em três volumes, conquistou fãs no mundo todo. O título faz referência ao clássico 1984, de George Orwell, resenhado na revista dos livros por Samir Machado de Machado. No Brasil, a trilogia foi publicada pelo grupo Companhia das Letras, com 1.280 páginas. O escritor japonês foi tema de capa da Quatro Cinco Um #30, com um texto em que traça um perfil de seu pai.

Os miseráveis, Victor Hugo
Publicado em 1862, o emblemático romance de Victor Hugo já teve ao menos cinquenta adaptações para o cinema (a versão de 2012, dirigida por Tom Hooper, levou três estatuetas do Oscar), o teatro (desde 1985, é apresentada de forma ininterrupta no Barbican Centre, em Londres) e a televisão (incluindo uma telenovela brasileira exibida pela TV Bandeirantes em 1967). A obra narra a emocionante história de Jean Valjean, condenado a dezenove anos de prisão por ter roubado um pão, e retrata a miséria, a desigualdade social e a injustiça da França provincial do século 19. Uma bela edição da finada editora Cosac Naify, lançada em 2012, tem 3.100 páginas em dois tomos.

Bíblia
Não é preciso crer para ler: a coleção de textos religiosos do cristianismo tem imenso valor literário, filosófico, histórico… Não à toa é o livro mais vendido de todos os tempos, com estimadas 7 bilhões de cópias traduzidas para centenas de idiomas. Segundo a tradição mais aceita pelos cristãos, a Bíblia foi escrita por quarenta autores, entre 1 500 a.C. e 450 a.C. (livros do Antigo Testamento) e entre 45 d.C. e 90 d.C. (livros do Novo Testamento), totalizando um período de quase 1.600 anos. Com interpretações religiosas do motivo da existência do homem na Terra, o livro mais influente de todos os tempos tem diversas versões gratuitas online, incluindo versões em audiolivro (quem não se lembra da grandiloquente narração de Cid Moreira?). A edição impressa da Companhia das Letras tem três volumes que totalizam 2.056 páginas.