Maria Horta, Maria Barreno e Maria Velho em Coimbra, Portugal, em 1974 [Centro de documentação 25 de Abril/Divulgação]

451, Encontro de Leituras,

Livro censurado pela ditadura em Portugal é tema do Encontro de Leituras

‘Novas cartas portuguesas’, manifesto feminista que mobilizou protestos pelo mundo, será debatido pela antropóloga Debora Diniz no dia 14 de maio

23abr2024 • Atualizado em: 25nov2024

Novas cartas portuguesas, coletânea de textos de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa organizada por Ana Luísa Amaral, será tema em maio do Encontro de Leituras, parceria do jornal português PÚBLICO e da Quatro Cinco Um em torno dos livros publicados nos dois lados do Atlântico. O clube de leitura terá como convidadas a antropóloga e professora brasileira Debora Diniz, conhecida pelo seu trabalho em defesa da descriminalização do aborto e dos direitos das mulheres, e a professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Marinela Freitas, especializada em estudos de gênero.

Escrito em 1971, durante o governo ditatorial chefiado por Marcello Caetano (que substituíra António de Oliveira Salazar em 1968), Novas cartas portuguesas continha 120 textos que expressavam um sentimento de revolta contra o autoritarismo do regime, manifestado na esfera social pelo patriarcalismo (que pregava que as mulheres deveriam ser puras e obedientes ao marido). Assinados por três Marias, os textos ganharam edição brasileira, pela Todavia, e uma nova reedição em Portugal, pela Dom Quixote.

A censura recolheu e destruiu boa parte dos exemplares da primeira edição três dias após o lançamento e instaurou um processo contra as autoras por terem escrito um livro “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”. O processo provocou uma onda de apoio internacional às “Três Marias”, mobilizando intelectuais como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Doris Lessing. 

“Não há nada pior para o orgulho de um governo fascista do que aparecer de forma negativa nas páginas dos principais jornais mundiais. E foi o que acabou acontecendo quando o caso das ‘Três Marias’ percorreu protestos de Boston a Paris”, escreve Tatiana Salem Levy no prefácio da nova edição (leia a íntegra).

O livro foi imediatamente publicado em outros países da Europa e nos Estados Unidos, tornando-se uma das obras portuguesas mais traduzidas em todo o mundo. Apesar disso, o julgamento das escritoras só não foi em frente devido à Revolução dos Cravos, em 1974.

“Em termos estéticos, é uma obra impressionante. São textos exigentes, e igualmente belos e com uma estrutura que reflete a imprecisão da autoria de cada um”, escreve Nara Vidal em resenha sobre o livro na edição de março da Quatro Cinco Um.

Alvo de grupos religiosos

Antropóloga, pesquisadora e documentarista, Debora Diniz é autora de dezenas de livros, entre os quais Zika: do sertão nordestino à ameaça global (Civilização Brasileira, 2016), vencedor do prêmio Jabuti em 2017 na categoria ciências da saúde. Sua participação decisiva para que a interrupção da gestação de fetos anencéfalos fosse legalizada a tornou alvo de grupos extremistas religiosos. Desde 2018 vive exilada em Nova York, após se licenciar da Universidade de Brasília e ser incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do governo federal. 

Na terça-feira, 14 de maio, às 18h do Brasil e 22h de Portugal, Diniz conversa com a jornalista Isabel Coutinho, do PÚBLICO, o diretor de redação da Quatro Cinco Um, Paulo Werneck e os participantes do Encontro de Leituras. 

O encontro é aberto a todos que queiram participar. A ID é a 821 5605 8496 e a senha de acesso 719623. A reunião no Zoom pode ser acessada neste link.

Parceria transatlântica

Tendo como ponto de partida o Encontro de Leituras — clube de leitura que durante os últimos três anos foi realizado pelo PÚBLICO com a Folha de S.Paulo na plataforma Zoom —, a parceria entre o jornal português e a Quatro Cinco Um inclui um espaço editorial fixo nos dois veículos e uma newsletter mensal sobre o trânsito literário e editorial entre os países de língua portuguesa. 

O Encontro de Leituras junta leitores de língua portuguesa e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor, editor ou especialista convidado.

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