Democracia só será conquistada por meio da educação, diz Pedro Bandeira

Com mais de cem obras publicadas e quase trinta milhões de exemplares em circulação, Pedro Bandeira é o autor de literatura infantojuvenil mais vendido no Brasil. O escritor esteve no Espaço Rebentos, n’A Feira do Livro 2025, neste sábado (21), ao lado de Andréa Del Fuego, que publicou no ano passado a nova edição de A sociedade da caveira de cristal, voltado para os leitores adolescentes, pela editora Escarlate.

No bate-papo mediado por Jaqueline Silva, curadora do Espaço Rebentos e assistente editorial da Quatro Cinco Um, os escritores foram recebidos por uma plateia cheia e fortes aplausos. Bandeira começou sua fala pontuando a raiz do problema da leitura no Brasil: a falta de contato com livros durante a infância. “O Brasil de verdade é composto por famílias menos letradas, que não colocam os filhos tão em contato com a língua portuguesa e com a ficção”, disse.

Nenhum dos dois escritores nasceu em famílias de leitores. Del Fuego conta que só teve acesso aos livros devido aos programas de incentivo do governo nas escolas públicas; e para Bandeira, um menino introvertido, encontrou nos livros sua principal companhia. “Sou de uma família muito medíocre, classe média baixa e cultura muito pequena. Mas, como eu era muito sozinho, me ocupava com gibis.”

Leitura e libertação

Segundo Bandeira, conhecer palavras e a língua é construir um arsenal para pensar melhor. Concordando com o escritor, Andréa Del Fuego relembrou sua infância e a vez em que escreveu uma carta para a sua mãe pedindo para que ela comparecesse à reunião da escola, e outra, desejando feliz aniversário para o pai. “Pela leitura e escrita consegui me conectar com os meus pais e com os professores, ou seja, com as instâncias de poder”, contou. 

Ambos os autores afirmam ver a literatura infantojuvenil como instrumento de libertação para as infâncias. “Entendi que a leitura e a escrita eram o lugar em que eu podia conhecer os meus limites”, disse Del Fuego. Bandeira — que escreveu A droga da obediência em 1984, um ano antes do fim da ditadura militar, e é o autor da famosa frase “só a desobediência modifica o mundo” — torce para que a leitura sirva eternamente para eliminar aparatos de repressão. 

“Eu espero que daqui a quinhentos anos haja alguém que diga ‘é mesmo, ninguém pode me mandar calar a boca! Eu li em um livro velho que cala a boca, já morreu, quem manda na minha boca sou eu!’”, disse o escritor, arrancando risadas e palmas do público.

Calar a boca dos tiranos é mote de Bandeira, mas para que isso seja possível, segundo o escritor, é preciso ampliar o acesso ao sistema educacional desde a infância. “Nós nunca tivemos democracia nesse país. Ela começa pela oferta das oportunidades, que é a educação. Nossa história é de baixa educação, mas estamos progredindo: veja essa feira de livros ao ar livre.”

Del Fuego celebrou ainda o espaço dedicado ao público infantojuvenil do festival: “Estamos nesse lugar, chamado Rebentos, porque Pedro Bandeira pavimentou esse chão”, celebrou Del Fuego. 

Bandeira contou ainda que o que o motiva a escrever é preparar as crianças para o futuro. “Quando chegarem na idade adulta, eu paro de escrever para eles!”, brinca o autor, revelando que na verdade também escreveu um livro para adultos “que talvez saia um dia, se alguma editora quiser”.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.