Literatura infantojuvenil,

Leitores de carteirinha: setembro de 2020

Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos

01set2020 | Edição #37 set.2020

Yasmin, 15 – Fortaleza (CE)

Julie Garwood. Um amor para Lady Johanna.
Tradução de Cely Couto
Universo dos Livros • 421 pp • R$ 30

Um amor para Lady Johanna, de Julie Garwood, é um romance que se passa na Inglaterra medieval. A protagonista é Johanna, uma jovem de dezesseis anos que é obrigada a se casar com um barão que não a respeita. Johanna tem trauma desse casamento arranjado, pois sofre várias agressões físicas e psíquicas. No século 13, as mulheres não tinham voz no tribunal. O rei John, sendo claramente misógino, concorda com todo esse descaso.

Acredito que quem for lê-lo acabe achando que a leitura demora a engrenar, mas comigo foi bem diferente

Com a morte de seu marido, Lady Johanna se vê livre e promete jamais se casar novamente. Ela possui uma força de vontade que impressiona quem consegue enxergar além de sua beleza avassaladora. Contudo, o rei John ordena que ela se case outra vez, para proteger seu reinado. Assim, o irmão de Johanna sugere um pretendente: o belo guerreiro escocês Gabriel Macbain.

No começo, a personalidade de Johanna irrita (afinal, não entendemos os motivos por trás de seus medos e aflições). Gabriel MacBain enxergará além da face angelical de Johanna, e os dois terão um romance calmo e sólido em meio ao clima de aventura do livro. Acredito que quem for lê-lo acabe achando que a leitura demora a engrenar. Comigo foi bem diferente. Eu adorei desde o começo e acabei a leitura segurando as lágrimas e com um sorriso bobo no rosto graças a esses personagens cativantes e fortes.

Duda, 18 – São Paulo (SP) 

Margaret Atwood. O conto da aia.
Tradução de Ana Deiró
Rocco • 368 pp • R$ 44.50/28,90

Lançado em 1985, o livro é um romance distópico que retrata a mudança de vida dos habitantes da Nova Inglaterra depois de um golpe de Estado, que implanta um regime totalitário e teocrático. A sociedade passa a ser organizada por uma divisão rígida de papéis e as pessoas são constrangidas por uma hierarquia moralmente ancorada na Bíblia e no cristianismo. 

Opressão

As mulheres, principais vítimas do regime, tornam-se propriedade do governo e sofrem as piores formas de opressão. Aquelas que antes viviam sua liberdade e tinham relações afetivas fora dos padrões do casamento convencional foram destinadas a trabalhar como “aias”, tendo a função de dar filhos aos comandantes cujas esposas fossem estéreis. Outras mulheres, as “marthas”, realizam trabalhos domésticos, enquanto as “tias” são responsáveis por treinar e comandar as “aias”. As demais mulheres — idosas, portadoras de doenças, inférteis, universitárias, homossexuais ou aquelas que cometeram algum ato contrário ao regime — são condenadas a trabalhos forçados nas “colônias”.

É necessário prestar atenção nos detalhes que vão sendo apresentados, bem como nas referências e comparações entre o passado e o presente dos personagens. A leitura dessa obra é uma incrível experiência e faz pensar nas sociedades patriarcais, mesmo que fictícias. A realidade construída no texto aponta para injustiças e abusos da realidade atual, expondo como regimes autoritários produzem a objetificação dos corpos femininos, algo presente no nosso cotidiano, como se vê pelas estatísticas da violência contra a mulher. Apesar da dureza da narrativa, O conto da aia é um importante exercício para pensarmos nas lutas e resistências contra todas as formas de agressão aos direitos humanos.

Bruna, 17  – Paraty (RJ)

Paulo Coelho. O alquimista.
Companhia das Letras • 208 pp 
R$ 34,90/15,90
 

Em O alquimista, de Paulo Coelho, o protagonista Santiago é um pastor de ovelhas cujo sonho é viajar e ter novas experiências. Após partir da sua cidade, passa a ter um sonho curioso, sobre um tesouro na pirâmide do Egito. Em consulta com uma cigana, ela confirma seu sonho. Mas é só depois de encontrar um rei — que lhe diz: “É justamente a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante” — que ele se convence de que deve ir atrás da sua lenda pessoal — de seu propósito. Santiago atravessa o deserto, passa por muitas dificuldades e aprende muito. Roubos e assassinatos dão início a uma guerra, e, no meio disso, encontra Fátima, seu amor, quando já estava desacreditado. Apesar de quase ter desistido, ele continua e encontra o seu tesouro.

Esse livro é uma grande lição de persistência e fé, pois Santiago seguiu sua lenda pessoal

Esse livro é uma grande lição de persistência e fé. Santiago seguiu sua lenda pessoal. Enfrentou vários conflitos, internos e externos. Teve que deixar pessoas amadas. Quase desistiu, mas por fé continuou. Essa é a maior das lições do livro! Seja qual for seu sonho, vá atrás! Acontecerão conflitos, mas isso lhe dará aprendizado e amadurecimento, e seu maior tesouro será sua transformação pessoal. Foi exatamente o que aconteceu comigo, quando assumi a responsabilidade de ir atrás dos meus sonhos. Esse livro me trouxe a sensação de estar no caminho certo. Muitas vezes é doloroso, mas a satisfação de transformação é gratificante.

Ilustrações: Jan Limpens

Este texto foi feito com ajuda do Itaú Social

Quem escreveu esse texto

Yasmin Vitoria dos Santos Mesquita

15 anos, estuda em Fortaleza (CE). 

Maria Eduarda (Duda) Pimentel Almeida

18 anos, estuda em São Paulo (SP).
 

Bruna Caroline dos Santos Coelho

17 anos, estuda em Paraty (RJ).

Matéria publicada na edição impressa #37 set.2020 em julho de 2020.