Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: outubro de 2020
Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos
01out2020 | Edição #38 out.2020Isabel, 17 – Salvador (BA)
Ava Dellaira. Cartas de amor aos mortos.
Tradução de Alyne Azuma
Seguinte/Grupo Companhia das Letras
344 pp • R$ 34,90/23,90
Ao iniciar as aulas, Laurel não queria dar explicações sobre a morte de May, sua irmã mais velha, que era encantadora, admirada por todos. Laurel queria ser livre igual a ela, ser parte do mundo, porém isso não era mais possível. Sua família era muito unida, mas depois da tragédia seus pais se separaram e sua mãe viajou sem previsão de voltar. A vida de Laurel ficou confusa, pois morava em semanas alternadas com sua tia e seu pai.
A história de Laurel mostra como é importante continuar vivendo, mesmo depois de tanta dor
Sua professora passou como tarefa escrever uma carta para alguém que já morreu. Laurel se sentiu desconfortável, mas começou a escrever para o cantor favorito de sua irmã, Kurt Cobain, assim como para outros artistas. Nas cartas, ela falava sobre suas amizades novas e seus novos hábitos, como sair escondida, beber, fumar, cabular aula. Ao fazer isso, se sentia mais perto da irmã e menos culpada. Depois de quase sofrer um abuso sexual, ela passa a conviver melhor com o pai e a tia. Só então conta o que realmente aconteceu com sua irmã em uma carta que entrega à professora. May, bêbada, tropeçou e caiu de uma ponte, após Laurel revelar que foi molestada pelo amigo do cara com quem estava saindo. Laurel foi, então, para a casa dos pais e entrou no quarto de May, que estava intacto. Lá, escreveu um poema, uma carta de amor a sua irmã. É importante continuar vivendo, mesmo depois de tanta dor.
Lorena, 16 – Duque de Caxias (RJ)
Thalita Rebouças. Fala sério, professor!
Rocco • 168 pp • R$ 31,90
Mais Lidas
A personagem principal de Fala sério, professor!, da escritora Thalita Rebouças, é Malu, a Maria de Lourdes de Fala sério, mãe! e Fala sério, pai!, que conta histórias do que viveu com vários professores ao longo de seus 22 anos de vida. Quem já leu os outros livros da série vai se lembrar de que a mãe da Malu faz ela pagar altos micos.
Professores
Aos oito anos, quando a turma toda fazia muita bagunça na sala de aula, a professora, em vez ficar nervosa e dar uma bronca, chorou e abandonou a sala, deixando os alunos sozinhos. Isso fez com que eles se dessem conta de que gostavam da professora e de que não deviam ter feito aquilo. No outro dia, a abraçaram e beijaram. Com treze anos, ela conta que foi fazer um curso de teatro e o professor propôs um exercício muito estranho, e todo mundo tinha que mastigar um chiclete e, depois, trocá-lo com alguém, porque ele dizia que ninguém tinha que ter nojo de ninguém no teatro. Quando percebeu que os alunos estavam com muito nojo, propôs um exercício pior, no qual todo mundo se beijasse.
Aos dezessete, ela conta que sem querer acabou criando uma manifestação na escola, por causa dos preços altos na cantina, que saiu do seu controle. Ela termina o livro relembrando com saudade de cada professor que passou na vida dela e finaliza falando que gostaria de vê-los e agradecer por tudo.
Esse livro me fez lembrar da minha experiência na escola. Eu me identifiquei muito. É muito interessante e divertido. Pode ser um exemplo na nossa vida. Ainda mais para quem estuda, como eu estudo. Aprendi que nós não pensamos nos professores. É um livro que dá uns exemplos das coisas que não devemos fazer na nossa vida escolar.
Maria Eduarda, 16 – Nova Iguaçu (RJ)
Rachel Renée Russell. Diário de uma garota nada popular.
Tradução de Antônio Xerxenesky
Verus/Grupo Editorial Record
288 pp • R$ 44,90
O Diário de uma garota nada popular me encontrou na biblioteca comunitária do meu bairro. Gosto muito de ler romances e esse é um dos meus favoritos. Já li a série completa, mais de uma vez. Esse volume, em especial, fala sobre as amizades e as surpresas da adolescência. Nikki, uma adolescente de catorze anos, que não é popular na escola, recebe uma bolsa de estudos na Westchester Country Day e, por isso, ganha um presente de sua mãe. Achando que seria um celular moderno, o que seria o passaporte para entrar no grupo das meninas populares, fica indignada ao ver que o presente é um diário, um livro de folhas vazias e brancas.
Eu me identifico com Nikki, não por querer ser popular, mas por me encontrar na leitura e na escrita
Ao longo do livro, Nikki conhece duas meninas que amam ler e que conversam muito sobre livros. Assim, ela aprende a ver as coisas ao seu redor. A autora quis passar a ideia de que ter um celular moderno, ser popular, não é nada, porque ela faz amizades verdadeiras, se apaixona pelo menino mais gato da escola e esquece a ideia de ser popular.
Eu me identifico muito com Nikki, não por querer ser uma garota popular, mas por me encontrar na leitura e na escrita. Foi pelo meu contato com a biblioteca que tive a oportunidade de conhecer mundos e lugares da literatura. Mesmo sendo uma série adolescente, é uma leitura que traz muitos aprendizados.
Sabrina, 15 – Santa Luzia (MG)
A. G. Howard. O lado mais sombrio.
Tradução de Denise Tavares Gonçalves
Novo Conceito • 368 pp • R$ 30
Esse livro é perfeito para quem gosta da história Alice no País das Maravilhas. Alyssa Gardner, tataraneta de Alice Liddell, a inspiração de Lewis Carroll para escrever seu clássico, é uma garota que tem a vida conturbada, pois ouve vozes de insetos e flores. Ela mora apenas com o pai, pois a mãe está internada por supostamente ter problemas de saúde mental. A mãe de Alyssa alegava ouvir vozes, que a filha sabia que eram verdadeiras.
O final é surpreendente. A autora foi muito cuidadosa ao juntar os fatos para fazer o final
Para evitar que sua mãe passe por um procedimento médico que poderia matá-la, Alyssa faz uma investigação sobre o País das Maravilhas. Ela descobre que ouve vozes por causa de uma maldição deixada pelos erros que Alice cometeu quando estava no País das Maravilhas, e quer consertar o que ocorreu antes. Ela, então, conhece Morfeu, um ser que vive nesse mundo mágico e que é capaz de se transformar em mariposa, e que a guia nessa viagem. Por acidente, seu amigo Jeb, por quem ela é apaixonada, vai com ela ao País das Maravilhas. Nessa jornada, Alyssa vai descobrir que o País das Maravilhas não é totalmente igual ao do livro de Lewis Carroll.
Essa história é fantástica e faz a gente ver o País das Maravilhas de outra forma. Fiquei muito interessada em saber como o livro termina. O final é surpreendente. A autora foi muito cuidadosa ao juntar os fatos para fazer o final. O livro nos intriga com seu ar de sombrio e louco.
Rhayanne, 18 – Recife (PE)
Matthew Quick. O lado bom da vida.
Tradução de Alexandre Raposo
Intrínseca • 256 pp • 39,90/22,90
O lado bom da vida é um livro do autor norte-americano Matthew Quick, publicado em 2013 pela editora Intrínseca, e inspirou o filme de mesmo nome, lançado no mesmo ano. A obra conta de forma encantadora a história de um ex-professor de trinta anos chamado Pat Peoples. Pat é um homem que acaba de sair de uma instituição psiquiátrica e, ao ir para a casa dos pais, percebe que tudo está mudado: seu time favorito está perdendo o campeonato, seus amigos estão ocupados, as ruas estão diferentes e até o seu psiquiatra é novo.
Em casa, Pat faz várias sessões de exercícios, como se estivesse obcecado. Obcecado por Nikki, sua ex-esposa? Ou seria uma obsessão para ter o corpo de que Nikki gostava? É, talvez os dois. Ele está convencido de que ficou apenas alguns meses “naquele lugar ruim”, como chama a instituição psiquiátrica. Pat Peoples não sabe a razão que o fez ir parar lá nem seus amigos comentam o assunto. A única coisa que ele sabe é que Nikki quis que ficassem um “tempo separados”. Ao sair da instituição, ele passa a acreditar no lado bom da vida. Tudo o que ele quer é se reconciliar com a sua esposa e construir uma família com ela.
Loucura de amor
Depois de um tempo, os amigos de Pat lhe apresentam uma garota chamada Tiffany e, a partir daí, a história muda. Tiffany tenta ajudar o ex-professor a retomar sua vida. O livro faz com que o leitor fique curioso sobre o que aconteceu e vai acontecer com Pat. Ficamos torcendo para que ele tenha um final feliz e embarque nessa “loucura de amor”. Por ser um livro com episódios curtos e palavras fáceis, os leitores entram no desafio. Matthew Quick mostra a história de um homem que não desiste da felicidade nem da esperança.
Maria Eduarda, 15 – Belém (PA)
Rick Riordan. O filho de Netuno.
Tradução de Raquel Zampil
Intrínseca • 432 pp • R$ 54,90/34,90
O livro O filho de Netuno é o segundo livro da série Os Heróis do Olimpo, que conta uma das tantas histórias sobre o filho semideus de Netuno, mais conhecido como Poseidon. Percy Jackson, que ao final do último livro perdeu a memória, acaba se metendo em uma nova aventura sem querer. As únicas coisas de que ele se lembra são do próprio nome e de uma amiga muito próxima. Sem nem perceber, ele chega a um novo acampamento de semideuses e conhece novos amigos: Hazel, filha de Plutão, e Frank, que não sabe qual deus é seu pai.
Nesse livro, Percy Jackson passa uma determinação admirável, de inspirar qualquer pessoa
Eles entram em contato com uma profecia envolvendo os deuses antigos, tendo de ir atrás de Gaia, a deusa da Terra. Com isso, muitas coisas do passado de Hazel e Frank acabam vindo à tona. Já deu para perceber que vem uma profecia uma atrás da outra, e muitas coisas que ninguém esperava acontecem. As reviravoltas são muito divertidas, só lendo para entender.
O autor desse livro transmite emoções diferentes a cada capítulo: o amor e o ódio entre os personagens são maravilhosos. Percy Jackson passa uma determinação admirável, de inspirar qualquer pessoa. O modo como Rick Riordan conta as histórias da mitologia grega nesse livro, através de Percy Jackson, é totalmente diferente do esperado, é surpreendente. Também o modo como os personagens são posicionados em certas situações faz o leitor aprender sem perceber que está aprendendo.
Thayssa, 16 – São Luís (MA)
Patrícia Barboza. Férias, amor e chocolate quente.
Verus/Grupo Editorial Record • 176 pp • R$ 39,90/29,90
Como toda história começa com um príncipe e princesa, vou contar uma bem diferente! Ela fala sobre um garoto muito rebelde chamado Adolfo e de uma menina chamada Fabi. A garota, ao contrário de Adolfo, era meiga e gentil. Apesar de ter perdido o pai, ela conseguiu lidar muito bem com essa situação, graças à mãe, que está sempre ao seu lado. Já Adolfo não lidou muito bem com a morte da avó. Ele se perdeu no meio do álcool, começou a fumar e ficou um garoto muito rebelde.
Os pais de Adolfo acharam melhor ele ir passar as férias num acampamento aonde não poderia levar celular. Por acaso, Fabi também estaria nesse mesmo acampamento. Chegando lá, Fabi fez várias amizades.Já Adolfo, nem tanto. Na primeira noite, rolou uma festa e todos estavam se divertindo muito, incluindo Fabi. Até mesmo Adolfo, que não era muito de se misturar com os outros. Mas eles não sabiam que completavam ano no mesmo dia. No acampamento, fizeram uma festa para os dois aniversariantes. Eles também mal sabiam que esse era o começo de uma história de amor.
Chocolate
Como tudo que é bom dura pouco, eles tiveram que se separar, pois moravam longe um do outro. Mas isso não os impediu de continuar a se falar. Antes de se separarem, foram a uma lanchonete e, como já era de costume, tomaram chocolate quente. E, ao som das buzinas dos carros e na noite fria de São Paulo, eles se beijaram. Mas não foi um beijo de despedida. Foi um dos muitos beijos que eles ainda vão dar. Mesmo com a distância, eles não acabam com o namoro. Uma coisa que esse livro me ensinou foi que não existe distância para o amor.
Este texto foi realizado com o apoio do Itaú Social
Matéria publicada na edição impressa #38 out.2020 em setembro de 2020.