Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: outubro 2021
Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos
01out2021 | Edição #50Anelise Almeida da Silva, 12 – Esteio (RS)
Lázaro Ramos.
Caderno de rimas do João.
Ilustrações de Maurício Negro
Pallas • 40 pp • R$ 37
O Caderno de rimas do João foi escrito por Lázaro Ramos e ilustrado por Maurício Negro em 2019.
O livro fala um pouco sobre o João, que tem um mundo só dele — o mundo dos versos. Ele gosta muito de escrever rimas, e escreve uma mais linda do que a outra. Estas são as que eu mais gosto: “Deixar o desânimo de lado e dar o primeiro passo, enfrentar o que não sei, pra explorar novos espaços […]. É chato se a gente briga por bobagem, por besteira, mas logo fazemos as pazes e recomeça a zoeira”.
Eu me identifiquei com o João. Rimas te trazem ânimo, parece que são conselhos, um incentivo para deixar a preguiça de lado e ser uma pessoa melhor
As ilustrações são muito artísticas e por vezes abstratas. Cada página tem cores diferentes, tons escuros e claros. Eu me identifiquei com o João em algumas rimas em que ele fala sobre amizade e companheirismo. A convivência é muito boa, mas quando brigamos não é legal, e passado um tempo já fazemos as pazes. As rimas também te trazem ânimo, parece que são conselhos, um incentivo para deixar a preguiça de lado e ser uma pessoa melhor.
Mais Lidas
O Caderno de rimas do João me ensinou a ver um sentido na poesia. Vou levar para sempre comigo esse livro, que me fez refletir e ter orgulho das pessoas que amo.
Kelly Leite Pereira, 13 – Paraty (RJ)
Lucy Maud Montgomery.
Anne de Avonlea.
Tradução de Márcia Soares Guimarães
Autêntica • 288 pp • R$ 44,90
Anne de Avonlea é o segundo livro da coleção Anne de Green Gables. Anne é uma órfã, que foi adotada por um casal de irmãos, Marilla e Matthew. Neste livro ela virou professora em Avonlea. Na escola ela conhece Paul Irving, a quem considera uma “alma irmã”, e Anthony Pye, que a odeia e vai lhe fazer um monte de pegadinhas.
Marilla adota mais dois gêmeos, Davy e Dora, de uma amiga muito doente. Eles vão ensinar muitas coisas a Marilla, assim como Anne fez.
Anne consegue avançar e atingir as coisas que queria. É seu primeiro ano como professora e ela vai superando os conflitos com seus alunos sempre com afeto. Vai fazendo amigos bem diferentes, e o carinho que ela dá a eles volta para ela também. Ela e Paul se dão muito bem porque têm a mesma imaginação, são bem fantasiosos.
Personagem criativa
Mesmo sendo mais velha, ela segue sempre criativa: bota nome nos lugares (Travessa dos Amantes, Lagoa das Águas Brilhantes, Rainha da Neve) e admira muito a natureza. Eu gosto deste livro porque é mais simples e tranquilo do que os outros da coleção.
Gostei muito do casamento da srta. Lavendar. Depois de anos ela se reencontrou com o pai de Paul, que apareceu para visitá-lo, e se aproximou dele através da Anne. Uma coisa que me chamou a atenção é seu carinho pela escola. Destaco o jeito dela com os alunos: ela consegue ser professora e lidar com eles sem bater neles, como outros professores da época.
Gosto da personagem porque, em seu lugar, outros estariam reclamando da vida, mas ela é muito feliz, mesmo não tendo nada. É muito fantasiosa. Recomendo porque muitos gostariam de fantasiar assim.
Jadilson Rodrigues Ferreira, 14 – Olinda (PE)
Jason Reynolds.
Miles Morales: Homem-Aranha.
Tradução de Ivar Panazzolo Junior
Novo Século • 240 pp • R$ 39,90
Escolhi falar sobre Miles Morales: Homem-Aranha, de Jason Reynolds, por causa da mensagem que ele passa e porque me identifiquei com o personagem principal: ele sempre teve de batalhar, tanto contra o crime como contra seus problemas pessoais e financeiros, e é um dos poucos heróis de quadrinhos que são negros, assim como eu. Sinto-me representado. Essa história já virou até filme de animação.
É um dos poucos heróis de quadrinhos que são negros, assim como eu. Sinto-me representado
O Miles é um jovem negro que mora no Brooklyn e tem superpoderes. Seu temperamento é bem calmo e ele tenta sempre ajudar os outros. Como a vida inteira estudou em escola pública, tem um pouco de dificuldade para se acostumar com o ritmo frenético das aulas (isso é até demonstrado no filme), e o seu sentido aranha fica alertando-o o tempo todo.
Apesar de o livro não deixar tão explícita a discussão sobre racismo, é possível detectarmos alguns traços, especialmente nas aulas de história, em que o professor não vai com a cara de Miles e se apresenta como um personagem bem racista de início, mas depois descobrimos por que ele se comporta desse jeito. O trecho do livro que mais me marcou foi quando Miles se sentiu preso e sem saída, mas se esforçou e fez de tudo para sair da situação. E me fez refletir que não importam as dificuldades — você precisa enfrentá-las de cabeça erguida.
Noemi Mary Reis Souza, 14 – Salvador (BA)
Cidinha da Silva.
Os nove pentes d’África.
Ilustrações de Iléa Ferraz
Mazza • 56 pp • R$ 25
O livro conta a história de amor em uma família preta, que se inicia com o encontro de Francisco e Berna, quando ainda eram adolescentes. Francisco logo se encantou com Berna, e o vazio na sua vida deu espaço à alegria que a pessoa de Berna transmitiu.
Francisco era carpinteiro, fazia móveis talhados em madeira. Quando conheceu Berna, ele se sentiu mais à vontade para trabalhar e passou a esculpir todo tipo de coisa, experimentando as texturas e possibilidades de cada pedaço de madeira. Fazia de tudo: bancos, animais e pássaros que nunca tinha visto, tudo depois de encontrar a mulher que mudou sua vida.
Francisco dizia que tudo o que ele criava precisava ser usado, por mais belo e delicado que fosse. Ele foi ganhando mais compradores para as suas peças e o amor dentro do seu coração pela mulher foi aumentando.
Francisco colocava amor e dedicação em tudo o que fazia, mas os barcos e os pentes eram os seus preferidos. Seu neto Zazinho lhe apresentou as embarcações do povo Songai, grandes navegadores africanos: Zazinho imprimia as imagens dos barcos, vô Francisco as estudava e esculpia, juntando passado e presente.
Ele presenteou os nove netos com os pentes de dentes contadores de histórias, e os ensinamentos sobre como usá-los foi passado dos mais velhos aos mais novos nos momentos de pentear os cabelos, sentados entre as pernas da vó Berna e das tias Neusa e Dinda. Os pentes ligavam todos da família, passando o amor, a alegria e as histórias. Ler o livro de Cidinha da Silva foi muito legal. Olhando a minha família, não conheci meus avós e sinto falta desse carinho. Ler Os nove pentes d’África me deixou feliz por ver uma história tão linda de amor e de luta.
Gesiel Marlon D. Costa, 20 – Belém (PA)
Leigh Bardugo.
Six Of Crows: sangue e mentiras.
Tradução de Eric Novello
Gutenberg/Autêntica • 376 pp • R$ 54,90
Se eu pudesse indicar um livro para todos os amantes de leitura no mundo, esse livro seria Six Of Crows, de Leigh Bardugo. O livro é uma trama de sentimentos e ação que te envolve e não te deixa largar as páginas.
O livro gira em torno de seis criminosos. Todos eles são protagonistas da história, e precisam invadir a prisão mais segura do mundo para conseguir uma recompensa bem generosa — recompensa essa que pode ser subjetiva para cada um deles.
A coisa que me surpreendeu muito nesse livro foi a múltipla narrativa em primeira pessoa, em que cada personagem tem a sua história e o seu ponto de vista.
O livro gira em torno de seis criminosos, e no fim você se pega torcendo para os vilões da história
E no fim você se pega torcendo para os vilões da história, se apaixona com eles e sofre com eles.
Six Of Crows: sangue e mentiras é o primeiro título da Duologia de Ketterdam, um spin-off (derivado) da Trilogia Grisha, um best-seller de Leigh Bardugo, uma autora israelense naturalizada norte-americana (o segundo volume da Duologia chama-se Crooked Kingdom: vingança e redenção).
Pode parecer um pouco complicado, eu sei, mas você não precisa ler a Trilogia Grisha (formada pelos livros Sombra e ossos, de 2012; Sol e tormenta, de 2013; Ruína e ascensão, de 2014) para ler este livro maravilhoso que é Six Of Crows, mas fica a seu critério.
Alysson Reis, 19 – Recife (PE)
João Cabral de Melo Neto.
Morte e vida Severina e outros poemas para vozes.
Nova Fronteira • 176 pp • R$ 34
A poética pernambucana sempre foi um sinônimo de resistência para mim, e a sua voz levanta bandeiras invisibilizadas, soando até como um grito. Não seria diferente com João Cabral de Melo Neto e seus maravilhosos poemas. Em Morte e vida Severina e outros poemas para vozes, a denúncia escancarada do descaso social é o fator mais importante, trazendo com força tudo aquilo que vivemos quando somos pretos, pobres, nordestinos…
Eu me identifiquei muito com a voz dos personagens dos poemas, sobretudo com o que dá nome ao livro. O autor dá voz a elementos importantes de Pernambuco: rios, cidades, gente periférica, retirante, marginalizada e oprimida por uma máquina cruel de fazer dinheiro com nossas vidas. O que mais chama a atenção é a capacidade do autor de exprimir nossas dolorosas vivências e ser voz para os que são calados à força pelo sistema.
Exemplar todo rabiscado
Confesso que, após a leitura, meu exemplar ficou todo rabiscado. Foi difícil não reagir a uma obra tão nua, transparente e legítima. Afinal, a morte e a vida do meu povo continuam sendo banalizadas e, sob meu olhar, continuarão sendo por muito tempo. O poema Morte e vida severina trata exatamente disto: de como somos explorados até não servirmos mais para o lucro, para a sociedade e para a vida, no padrão que inventaram para lucro, sociedade e vida. E nos negam direitos básicos como educação, saúde, aposentadoria, justiça…
João Cabral mudou minha visão sobre o mundo. Indico o livro a todos e todas. Assim, coletivamente, poderemos tirar do gatilho o dedo do monstro que nos mata e, de uma vez por todas, deixaremos de ser alvo.
Ângela Maria B. de Andrade da Silva, 12 – Nova Iguaçu (RJ)
Jeff Kiney.
Diário de um banana 9: Caindo na estrada
Tradução de Alexandre Boide
V&R • 218 pp • R$ 48,90
Tenho doze anos e sou da Biblioteca Comunitária Cantinho da Imaginação, que fica no bairro Zumbi dos Palmares em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Conheci o livro Diário de um banana, do autor norte-americano Jeff Kiney, através de um amigo da escola. Eu escolhi essa história porque o título me interessou e porque também eu nunca tinha lido.
Estou lendo o volume 9 da coleção, e ele é muito bom. Quando eu li esse livro achei que ele é legal. A história me fez lembrar de várias coisas de quando eu viajava com meu pai, e me identifiquei com algumas partes, me senti inspirada ao ler.
A história me fez lembrar de várias coisas de quando eu viajava com meu pai, e me identifiquei
De primeira a mãe já fala que vai fazer uma viagem, aí logo depois entra a história do barco e eles arrumam confusão. Já quero pegar o volume 10 para ler! Você precisa ver.
A parte que eu mais amei foi a que está na página 122, em que eles voltam de viagem e passam por uma minifazenda. Aí vem a parte do porco que mordia as crianças, e aconteceu uma reviravolta na história. Esse tipo de livro me chama a atenção: ele tem uma história em que as horas e os minutos passam, e você nem percebe que está lendo. Eu acho que o Diário de um banana 9 é muito legal. No livro tem uma frase que me interessou muito: “É difícil essa história ter final feliz”. Será?
A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) é um dos projetos mais importantes de articulação entre leitores e bibliotecas no Brasil. Publicamos aqui resenhas de livros escolhidos por três jovens que frequentam a Biblioteca Comunitária Casa das Histórias (SP), a Biblioteca Comunitária do Itae — Regina Célia Gama de Miranda (RJ) e a Biblioteca Comunitária Sorriso da Criança (CE). Contamos com eles para manter acesa a chama da leitura! Conheça e saiba como apoiar a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias no site rnbc.org.br
Este texto foi realizado com o apoio do Itaú Cultural.
Matéria publicada na edição impressa #50 em outubro de 2021.