Literatura infantojuvenil,
Leitores de carteirinha: julho de 2021
Jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias resenham seus livros preferidos
01jul2021 | Edição #47Rayssa Carvalho, 15 – Porto Alegre (RS)
Chimamanda Ngozi Adichie. O perigo de uma história única.Tradução de Julia Romeu
Companhia das Letras • 64 pp • R$ 27,90
O perigo de uma história única foi escrito em 2009 por uma mulher que se apresenta como uma “contadora de histórias”, porque, para ela, o interessante é a vida, e não as teorias. Ela é Chimamanda Ngozi Adichie. O livro fala sobre os estereótipos que uma história única cria, como, por exemplo, quando nas escolas, muitas vezes, são mostradas a pobreza e as desgraças da África e estas acabam se tornando as únicas histórias sobre o continente, sem mencionar as coisas boas que acontecem lá.
Mudar a percepção
Chimamanda passou a infância num campus universitário no sudeste da Nigéria. Começou a ler com quatro anos de idade e se tornou escritora aos sete. Todos os livros que ela lia tinham personagens brancos de olhos azuis. Ela nunca achou um livro com que se identificasse até encontrar os africanos, que eram de acesso bem difícil. Depois disso, a percepção da literatura passou por uma mudança. Então, começou a escrever sobre as coisas em que ela se reconhecia. A autora também criou alguns estereótipos, mas, quando percebeu, ela se envergonhou e mudou sua percepção. É sobre isso: perceber e mudar.
Escolhi esse livro porque me identifiquei com algumas coisas, pois existem estereótipos sobre a comunidade onde eu moro. Claro que tem coisas ruins por aqui, mas não é só isso. Por algum preconceito, as pessoas só querem saber do lado ruim da história, generalizam o todo e isso acaba se tornando uma história única. Gostei demais e recomendo a leitura. Chimamanda é uma mulher incrível. Que mais pessoas leiam o livro e se espelhem para passar adiante a mensagem que ela traz.
Wellington da Silva Dias, 16 – Duque de Caxias (RJ)
Mais Lidas
Jonatan Magella. Vidas irrisórias.
Luva • 88 pp • R$ 22,90
O livro Vidas irrisórias, de Jonatan Magella, é baseado em várias vidas negras e pobres que vivem em periferias. Várias poesias que representam a Baixada Fluminense, que nos retratam em um contexto só, com poemas fortes. Eles fazem com que o leitor sinta empatia, pois trazem, através da leitura, a realidade de vida de muitos que vivem aqui e que é desconhecida de muitas pessoas. Com livros como esse Vidas irrisórias, nos vemos retratados, e eles também nos servem de aprendizado, pois em diversos poemas do Jonatan Magella aprendemos o que fazer, como agir e qual caminho seguir.
Ao ler os poemas do livro, você se prepara para lidar com vários tipos de preconceito e combatê-los
Ao ler eses poemas, você se prepara para lidar com vários tipos de preconceito, tanto de cor e raça quanto de gênero, religião e nacionalidade, e combatê-los. O livro nos dá mais força para continuar lutando contra o preconceito, a desigualdade e o genocídio, coisas ainda tão comuns na sociedade. O Jonatan faz isso nessa obra, trazendo a nossa realidade da Baixada. Ele faz com que você ganhe força para entrar na luta: por mais que a vida daqueles personagens seja a realidade de muitos ao nosso redor, podemos fazer diferente, podemos escrever nossa própria história.
Ao nos vermos nas situações que aparecem nos textos, podemos agir e tomar uma posição diferente quando passamos ou vemos alguém passar por situações parecidas.
Vitória Camily S. dos Santos, 18 – Betim (MG)
Diana Wynne Jones. O castelo animado. Tradução de Raquel Zampil
Galera Record • 320 pp • R$ 31,90
“O bom de se estar velha é que não se tem nada a perder.” Em um dia você é uma jovem de dezoito anos e, de repente, se vê transformada em uma velha de noventa. É exatamente o que acontece com Sophie, jovem chapeleira que tinha uma vida sem graça e sem expectativa, que acaba se tornando uma idosa depois de ser amaldiçoada por uma bruxa. Com vergonha de sua própria aparência, Sophie foge de casa e se refugia em um lugar perigoso e místico, o castelo do Howl.
Ele é um mago poderoso, irresponsável, egoísta e histérico. Howl se apaixona e desapaixona por moças bonitas com facilidade, partindo o coração de muitas jovens. Ele mora em um castelo ambulante que é controlado por um demônio de fogo, Calcifer, e seu aprendiz Michael, que segura as rédeas quando o mago apronta. Sophie torna-se, assim, a faxineira de Howl. Afinal, quem melhor que um mago para quebrar uma maldição?
Magia
O castelo animado é um dos livros mais mágicos que já li. A escrita de Diana Wynne Jones é fascinante e cativante. Eu me vi presa na história nas primeiras páginas, o que me fez devorar o livro em um único dia. Os personagens são engraçados e bem desenvolvidos. Howl é a própria definição de um garoto mimado, e suas falas sinceras e comentários sarcásticos o tornam muito humano. Já Sophie é uma protagonista decidida e forte. Ela tem um amadurecimento surpreendente no decorrer da narrativa.
Apesar de ser um livro destinado a jovens, digo com convicção que todos que derem uma chance vão se apaixonar por essa história repleta de magia, aventuras e mistério. Aliás, uma dica: cuidado com as estrelas cadentes; elas podem devorar seu coração.
Este texto foi realizados com o apoio do Itaú Social.
Matéria publicada na edição impressa #47 em maio de 2021.
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