Direito, Economia,
Filosofia política e as urgências do mundo real
Como a indústria do petróleo alimentou a violência política
12nov2018 | Edição #5 set.2017A indústria do petróleo estruturou e revolucionou a economia global no século 20. Foi uma bênção econômica para os países que dispunham desse recurso natural em abundância — um motor de crescimento. Junto com ela, contudo, vieram efeitos perversos: 1) alimentou regimes autocráticos e corruptos, inviabilizou democracias e criou fatores de permanente instabilidade; 2) produziu degradação ambiental por meio da emissão de carbono, protagonizando a mudança climática. Em ambos os vetores, conduziu a uma maciça violação dos direitos humanos, em especial das populações mais vulneráveis. De bênção, transformou-se em maldição.
O livro de Leif Wenar ataca o primeiro vetor dessa indústria: a violência política embutida e o sangue que carrega nas mãos, imagem de sua capa. Inscreve-se na tradição de filósofos políticos que não se limitam a investigações especulativas e abstratas sobre mundos ideais, mas estão situados na história e querem intervir nas causas urgentes do mundo real. Para Martha Nussbaum, importante filósofa contemporânea, entre as maneiras de mudar o mundo reside em escrever como Leif Wenar: “Exemplo soberbo de como um filósofo deveria escrever para o público geral: vívido, contundente e, ao mesmo tempo, rigoroso e factualmente preciso”.
Uma das maiores armadilhas políticas, morais e econômicas do século 21 é o que a escritora e ativista Naomi Klein chamou de “extrativismo progressista”: a exploração ilimitada de combustíveis fósseis em nome da justiça social, armadilha que seduz o Brasil (vide a euforia com o pré-sal).
Deixamos assim de priorizar a descarbonização da economia e de valorizar o potencial da biodiversidade e da energia limpa. Em vez de buscar uma matriz energética mais regenerativa e menos extrativa, permanecemos reféns de uma matriz decadente e insustentável.
O livro de Wenar é cristalino no diagnóstico, pungente na denúncia e nos convoca para uma autocrítica: não é mais possível ignorar os custos humanos e ambientais dessa indústria, em um momento em que o progresso tecnológico já apresenta alternativas de fontes energéticas. Temos que prestar contas das dramáticas consequências dessa escolha coletiva.
Matéria publicada na edição impressa #5 set.2017 em junho de 2018.
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