Repertório 451 MHz,
O grito de guerra de Davi Kopenawa Yanomami
O xamã e escritor fala sobre a situação atual do garimpo e as políticas públicas predatórias na Amazônia, o surgimento de novas lideranças indígenas e os 30 anos da demarcação da Terra Yanomami
19abr2022Ouça mais Episódios
Está no ar o 63º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! No episódio de 19 de abril, dia escolhido para celebrar os povos indígenas do país, o xamã e escritor Davi Kopenawa fala sobre a situação atual do garimpo e as políticas públicas predatórias na Amazônia, o surgimento de novas lideranças indígenas e a festa que estão preparando para comemorar os 30 anos da demarcação da Terra Yanomami.
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Kopenawa também conta sobre sua infância e a educação das crianças indígenas, seu encontro com a fotógrafa Claudia Andujar e a importância de ter escrito A queda do céu (Companhia das Letras) e realizado o filme A última floresta. A conversa foi conduzida pelo apresentador Paulo Werneck com participação de Paula Carvalho, editora da revista.
Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! O podcast tem ainda apoio da Companhia das Letras.
Davi Kopenawa Yanomami
Davi Kopenawa Yanomami [Beto Ricardo/Divulgação]
Davi Kopenawa Yanomami é um dos maiores líderes na luta pela preservação das terras indígenas. Seu povo Yanomami ocupa a maior terra indígena do Brasil, nos estados de Roraima e do Amazonas. Em 2015, Kopenawa lançou o livro A queda do céu (Companhia das Letras), espécie de chamado para a preservação da floresta amazônica, escrito em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert.
Garimpo
Kopenawa afirma que nos últimos anos, a degradação produzida pelo avanço do garimpo ilegal piorou muito. De fato, entre 2010 e 2020, a área ocupada pelo garimpo nas terras indígenas cresceu quase 500%. Além da destruição da biodiversidade, os garimpos ilegais, especialmente os de ouro, expõem os indígenas a doenças como malária, difteria, covid-19 e doenças sexualmente transmissíveis, e aumentam casos de violência contra a mulher e a população em geral.
Mas Kopenawa afirma que a queda do céu — crença de que o céu entrará em colapso se um dia a floresta desaparecer, conforme exposto em seu livro — não vai acontecer ainda, enquanto os Yanomami continuarem vivos e nós, os não indígenas, continuarmos a pressionar empresários e autoridades para evitar a destruição da floresta e dos povos originários.
Jovens lideranças
Dario, filho de Davi Kopenawa, faz parte da nova geração de lideranças indígenas, ao lado de nomes como Txai Suruí. Esses jovens foram formados para falar melhor a língua portuguesa, usar computador, celular e outros recursos da tecnologia — algo importante para reivindicar seus direitos, denunciar violações, debater com o poder público e conversar com não indígenas que também lutam em defesa desses povos.
Txai Suruí [Ana Pessoa/Midia Ninja/CopCollab25/Reprodução]
Davi Kopenawa, que fala sete etnias de língua materna, não frequentou a escola dos brancos. Aprendeu português na prática, viajando com funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) ou ouvindo os napa (não indígena) que chegavam à sua comunidade. Ele cresceu em Toototobi, perto da fronteira com a Venezuela, para onde vieram missionários evangélicos. Para Kopenawa, esses missionários queriam acabar com a língua e os costumes dos Yanomami, ao contrário dos missionários católicos, que chegaram a outras comunidades e respeitaram os povos indígenas.
Terra Yanomami
Em 25 de maio de 1992, a Terra Yanomami foi homologada por decreto presidencial. É a maior Terra Indígena do país, com 192 mil quilômetros quadrados situados em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela.
Para comemorar a data, os Yanomami vão se reunir com outras etnias, seus parentes, como chamam. Na festa, vão cantar, dançar, tomar vinho de banana, de açaí e de macaxeira. Também vão ter um encontro de lideranças, para conversar sobre a defesa de seus direitos e sua luta contra o garimpo, e uma assembleia para designar líderes e representantes da Hutukara Associação Yanomami. O nome da associação, Hutukara, pode ser traduzido como “mundo”, em português. Para os indígenas, é a Terra, o céu, o universo — uma coisa só.
Claudia Andujar
A fotógrafa Claudia Andujar nasceu na Suíça, em 1931, e cresceu na fronteira entre a Romênia e a Hungria. De origem judaica, fugiu para a Suíça em 1944, durante a perseguição nazista, emigrou para os Estados Unidos e, em 1955, chegou ao Brasil, onde iniciou sua carreira de fotógrafa. Boa parte de sua carreira foi dedicada aos Yanomami, com os quais conviveu. Entre dezembro de 2018 e abril de 2019, o Instituto Moreira Salles realizou uma retrospectiva dessa fase de sua carreira, “Claudia Andujar: a luta Yanomami”, que deu origem ao livro homônimo, publicado pelo instituto. Andujar conheceu Davi Kopenawa, sua família, sua comunidade e sua história, e os dois se tornaram amigos.
Funai
A Funai (Fundação Nacional do Índio) foi criada em 1967, sucedendo o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), autarquia criada em 1910. Davi Kopenawa conta como o SPI estava massacrando os indígenas e como a Funai teria sido criada para proteger esses povos. No entanto, ele considera a Funai hoje um órgão vendido, dominado por militares pró-Bolsonaro e que defendem os interesses da grande mineração e do garimpo.
Em 2011, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos começou a discutir a inserção de garimpeiros e pecuaristas na classificação de Povos e Comunidades Tradicionais, algo que as lideranças indígenas são contra. Kopenawa também falou sobre a relação problemática de Romero Jucá, presidente da Funai entre 1986 e 1988, com os Yanomami. Em um capítulo sobre violações de direitos humanos dos povos indígenas, o relatório da Comissão da Nacional da Verdade de 2015 aponta que a gestão de Jucá como presidente da Funai resultou no “caso mais flagrante de apoio do poder público à invasão garimpeira”.
A queda do céu
Em 2015, Davi Kopenawa lançou A queda do céu (Companhia das Letras), escrito com o antropólogo francês Bruce Albert. Kopenawa também fez, em parceria com o cineasta Luiz Bolognesi, o roteiro do filme A última floresta, lançado em 2021. Para Kopenawa, o livro e o filme são meios importantes para chamar a atenção do público, nacional e internacional, para a destruição da floresta e dos povos originários.
Infância
Na conversa, Kopenawa contou como é a educação das crianças indígenas — frequentam uma escola sem lápis nem papel, onde as crianças são levadas à floresta para aprender sobre a natureza. Ele falou também sobre sua infância, e como aprendeu com seu tio a cheirar yãkona, o rapé ritualístico que inicia o indígena no conhecimento xamânico de seu povo, além de como foi ensinado, pela família e por sua comunidade, para se tornar xamã e líder na luta pelos direitos de seu povo.
Mais na Quatro Cinco Um
As questões indígena e da preservação da Amazônia têm sido abordadas na revista dos livros e no 451 MHz. No 42º episódio do podcast, o líder indígena e escritor Ailton Krenak falou sobre suas ideias para adiar o fim do mundo, título de seu livro, publicado pela Companhia das Letras, que também foi resenhado pela antropóloga Aparecida Vilaça na edição de julho de 2019.
Em abril de 2019, José Bento Ferreira escreveu uma resenha sobre o livro A luta yanomami (IMS), de Claudia Andujar, para a Quatro Cinco Um.
O melhor da literatura LGBTI+
Neste episódio, a historiadora, poeta, tradutora, autora de Sereia no copo d’água (Jabuticaba) e colaboradora da Quatro Cinco Um Nina Rizzi recomenda o livro Antes que eu me esqueça: 50 autoras lésbicas e bissexuais hoje (Quintal Edições), organizado por Gabriela Soutello. Os contos, poemas e textos híbridos tratam de descobertas da sexualidade, gênero e diversidade..
Ao longo de 2021, o quadro contou com o apoio do C6 Bank e reuniu catorze livros e dicas literárias LGBTI+ de colaboradores da Quatro Cinco Um. Veja a lista completa.
O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação 451.
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Coordenação Geral: Évelin Argenta, Paula Scarpin e Vitor Hugo Brandalise
Produção: Gabriela Varella
Edição: Claudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger e FêCris Vasconcellos
Gravado com apoio técnico da Confraria de Sons & Charutos (SP).
Para falar com a equipe: [email protected]. br
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