Sociologia,
Chico de Oliveira nos deixou
Haverá quem possa substituir o sociólogo na necessária função de grilo falante do bem?
16jul2019Um dos mais importantes sociólogos brasileiros e referência intelectual no país, Francisco de Oliveira nos deixou na última quarta (10), aos 85 anos, vítima de uma pneumonia. Recifense radicado em São Paulo, foi professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), participou do grupo inicial de pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e foi um dos fundadores do PT, com o qual rompeu em 2003 — posteriormente, participou da criação do PSOL. Escritor e ensaísta, recebeu o prêmio Jabuti de Ciências Humanas em 2004 pelo livro Crítica à razão dualista/O ornitorrinco (Boitempo).
Sobre ele, o sociólogo Gabriel Cohn, autor de diversos livros de sociologia, especialista na obra de Max Weber e professor aposentado do departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, escreve:
"Não teremos mais as agudas e indignadas advertências daquilo que estaria por vir caso os próprios amigos não abrissem os olhos para as consequências do que faziam ou deixavam de fazer. E isso sempre por boas razões e com sólida base na realidade. Pois a maior coragem não consiste em criticar os outros, mas em suportar a dor de recriminar os mais próximos.
Chico de Oliveira nos deixou, ao cabo de vida digna e produtiva. Haverá quem possa substituí-lo na necessária função de grilo falante do bem? Outro Chico jamais haverá, claro, e enquanto sua sombra se projetar sobre o campo da reflexão crítica sobre a política e a sociedade, dificilmente aparecerá alguém com a exuberante criatividade das intervenções do velho mestre. Há fantasmas que não assustam, porém, e sim desafiam e estimulam. Nisso consiste o inestimável legado desse pernambucano bravo como a peste."
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Cohn assina a resenha do livro Brasil: uma biografia não autorizada (Boitempo), de Chico de Oliveira, publicada na Quatro Cinco Um no final do ano passado. "A verve, a inteligência, a capacidade para colocar sua erudição sociológica e em áreas afins a serviço da intervenção mais pungente nos debates que mobilizam (ou deviam mobilizar) a sociedade em cada momento, a fina intuição para captar no ato aquele momento; todos esses traços, enfim, que caracterizam Francisco de Oliveira estão presentes em alto grau neste livro enganadoramente curto", escreve ele. Leia o texto aqui.