Listão da Semana,
Vozes femininas da Flip e mais 9 lançamentos
Annie Ernaux, Saidiya Hartman, Teresa Cárdenas e Cidinha da Silva, convidadas da festa literária, lançam livros nesta semana
25nov2022 | Edição #63Nos últimos anos, os livros mais vendidos da Festa Literária Internacional de Paraty — cuja edição de 2022 começa nesta quarta (23) — têm refletido um desejo do público por diversidade e representatividade. No topo da lista estiveram livros que exploram temas como racismo, colonialismo e subalternidade, como Torto arado, de Itamar Vieira Junior, Memórias da plantação, de Grada Kilomba, e Na minha pele, de Lázaro Ramos. Neste ano, a Flip homenageia a escritora negra Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira, e faz uma programação com predominância de vozes femininas. Entre as convidadas estão Annie Ernaux, Saidiya Hartman, Teresa Cárdenas e Cidinha da Silva, que lançam livros nesta semana, como você vê abaixo. Qual será o mais vendido? Faça suas apostas! E, se você vai a Paraty, procure por nosso almanaque que será distribuído gratuitamente com entrevistas, resenhas, depoimentos e textos inéditos dos autores convidados.
Viva o livro brasileiro!
A sedução e as artimanhas do poder & O ventre do mundo: uma nota sobre os trabalhos das mulheres negras. Saidiya Hartman.
Trad. Fernanda Silva e Sousa, Marcelo R. S. Ribeiro e Stephanie Borges •
Crocodilo • 148 pp • R$ 62,90
O volume traz dois textos da norte-americana Saidiya Hartman que abordam a relação entre escravidão e liberdade e a função do direito na manutenção da opressão social. Em “A sedução e as artimanhas do poder”, de 1996, ela critica a reificação da mulher negra e mestiça como símbolo de sedução e observa que o crime de estupro contra uma mulher escravizada era impensável nos quadros do direito do século 19, já que elas eram vistas como sinônimo de lascívia e promiscuidade. Já em “O ventre do mundo”, ela destaca que, nas plantations, as escravizadas precisavam trabalhar tão duramente como os homens, mas recebiam encargos extras, pois seus ventres foram transformados em fábricas de novos escravizados: “O trabalho do sexo e da procriação era o motor principal para reproduzir as relações materiais, sociais e simbólicas da escravidão”.
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O jovem. Annie Ernaux.
Trad. Marília Garcia • Fósforo • 56 pp • R$ 39,90
Em resenha para a Quatro Cinco Um, Fabiane Secches escreve: “A relação entre o pequeno e o grande, digamos assim, é algo que a autora busca estabelecer entre a narrativa de episódios de sua vida pessoal, com riqueza de detalhes, ainda que num estilo seco e direto, e a história coletiva de seu país e de seu tempo. Um dos maiores méritos da obra de Annie Ernaux é justamente essa costura hábil que ela faz entre o campo público e o privado”. Leia o texto na íntegra.
Trecho do livro:
“Na praia, deitada ao lado dele, sabia que as pessoas ao redor ficavam nos espiando, a mim sobretudo, e que elas examinavam meu corpo, medindo seu estado avançado, quantos anos ela deve ter? Se estivéssemos deitados separados na areia, nenhum de nós receberia uma atenção especial. Ao se deparar com o casal que nitidamente formávamos, os olhares passavam a ser descarados, quase estupefatos, como se diante de uma união antinatural. Ou um mistério. O que as pessoas viam não éramos nós, e, sim, de modo confuso, o incesto”.
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Awon Baba. Teresa Cárdenas.
Pallas • 96 pp • R$ 38
O novo livro da escritora cubana Teresa Cárdenas reúne doze histórias sobre homens e mulheres que viveram na escravidão e sobreviveram a ela — resistindo com amor, raiva, humor e vitalidade — e seus planos de liberdade. O romance mistura ficção e memória, tendo como arquétipos a oralidade, a poesia e a musicalidade ancestral africana.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Todavia. Conheça o nosso clube de benefícios.
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Exuzilhar. Cidinha da Silva.
Pallas • 88 pp • R$ 37
Mais Lidas
A coletânea, em nova edição, reúne as melhores crônicas da escritora e editora mineira Cidinha da Silva e inclui outras inéditas. As narrativas abordam questões como o racismo estrutural contra os negros, as tradições religiosas afrobrasileiras e os sofrimentos dos povos indígenas. Em 2019, a escritora recebeu os prêmios Biblioteca Nacional e Rio Literatura.
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O negro visto por ele mesmo. Beatriz Nascimento.
Org. Alex Ratts • Posf. Muniz Sodré • Ubu • 240 pp • R$ 69,90
A coletânea de textos da historiadora e ativista negra Beatriz Nascimento reúne críticas, entrevistas e sua prosa poética, nos quais tece reflexões sobre a experiência íntima das pessoas negras na universidade e na cena cultural brasileira e fala das representações midiáticas e historiográficas que lhes são devolvidas dia após dia por uma sociedade racista. Nascimento ajudou a criar o Grupo de Trabalho André Rebouças, em 1974, e o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, em 1975, além de participar da criação do filme Ôri (1989). Durante sua vida, teve apenas um livro publicado: Negro e cultura no Brasil, em coautoria com Helena Theodoro Lopes e José Jorge Siqueira.
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O coração é um caçador solitário. Carson McCullers.
Trad. Rosaura Eichenberg • Carambaia • 368 pp • R$ 129,90
Publicado em 1940, quando a escritora americana tinha apenas 23 anos, o romance alcançou sucesso imediato e tornou McCullers uma das grandes representantes da literatura sulista, ao lado de Eudora Welty e Flannery O’Connor. A trama tem como protagonista um trabalhador surdo, John Singer, homem triste e solitário em torno do qual gravitam personagens desajustados, como uma adolescente andrógina apaixonada por música, um médico negro que luta pela emancipação racial e um bêbado revoltado com as injustiças. O livro conquistou fãs como Maria Bethânia e Oprah Winfrey.
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O evangelho do novo mundo. Maryse Condé.
Trad. Natalia Borges Polesso • Rosa dos Tempos/Record • 294 pp • R$ 64,90
Autora do premiado Eu, Tituba: bruxa negra de Salém e professora emérita da Universidade Columbia, a guadalupense Maryse Condé foi a vencedora do New Academy Prize, criado como alternativa ao Nobel de 2018 (que tinha sido suspenso devido a um escândalo de assédio sexual envolvendo pessoas ligadas à academia sueca). Seu novo romance, O evangelho do novo mundo, transpõe a história bíblica para Guadalupe, local onde nasce, em um domingo de Páscoa, o lindo bebê Pascoal – que, segundo rumores, seria o filho de Deus.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 30% de desconto no site da editora Record. Conheça o nosso clube de benefícios.
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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas
Canção para ninar menino grande. Conceição Evaristo.
Pref. Valter Hugo Mãe • Pallas • 136 pp • R$ 40
Um relato sobre as contradições e a complexidade das relações entre os homens negros e as mulheres negras.
Cartas de amor para mulheres negras. Midria.
Jandaíra • 80 pp • R$ 45
Poemas da slammer e cientista social sobre o sofrimento e a dor associados às vivências de mulheres negras.
Cenas de um pensamento incômodo: gênero, cárcere e cultura em uma visada decolonial. Rita Segato.
Trad. Ayelén Medail, Larissa Bontempi, Rita Paschoalin e Silvia Massimini Felix • Bazar do Tempo • 256 pp • R$ 74
A antropóloga argentina discute as relações de poder e opressão, os efeitos da violência colonial e patriarcal e as lutas feministas no mundo contemporâneo.
Nos bastidores da Vogue: a história da revista que transformou o mundo da moda. Nina-Sophia Miralles.
Trad. Cristina Cavalcanti • Record • 308 pp • R$ 94,90
O livro acompanha a trajetória das Vogue americana, britânica e francesa desde o nascimento do título em Nova York, como um folhetim, até se tornar a bíblia da moda.
Olho reavido. Luci Collin.
Iluminuras • 108 pp • R$ 59
Novo livro de poemas da escritora paranaense: “São versos bárbaros/ os que vos trago/ que é feito de esperas/ e de ladainhas/ esse calendário que ora é/ marasmo e ora é/ redemoinho”.
Teatro e escravidão no Brasil. João Roberto Faria.
Perspectiva • 416 pp • R$ 104,90
Analisa a extensa dramaturgia do século 19 que aborda a violência e os horrores da escravidão (José de Alencar, Castro Alves, Fagundes Varela, Martins Pena).
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Matéria publicada na edição impressa #63 em outubro de 2022.
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DEZEMBRO, 2024