
Listão da Semana,
The Who, Ney Matogrosso e mais 4 lançamentos
Nascidos na década de 40, vocalistas de bandas célebres, Roger Daltrey e Ney Matogrosso fizeram (e fazem) história, agora contadas em biografias
23jul2021 | Edição #47O que Roger Daltrey e Ney Matogrosso têm em comum? Nascidos na década de 40, vocalistas de bandas célebres e bem-sucedidos também em carreira solo, ambos fizeram (e fazem) história com o dinamismo de suas apresentações ao vivo. Enquanto o The Who de Daltrey inaugurava a destruição de instrumentos musicais no palco como uma arte performática, Matogrosso e os integrantes do Secos e Molhados impressionavam o público com figurinos e maquiagens exóticos nunca antes vistos. Os bastidores dos shows eletrizantes de Matogrosso e Daltrey — assim como as histórias dos hits, a trajetória para a fama e as perdas e pedras no caminho — estão descritos nas biografias de ambos, que chegam às livrarias brasileiras nesta semana.
Completam a seleção ensaios do bibliófilo argentino Alberto Manguel, uma análise sobre o projeto genocida bolsonarista, uma coletânea do alemão W. G. Sebald e o quadrinho mais premiado da França no ano passado.
Viva o livro brasileiro!
Ney Matogrosso: a biografia. Julio Maria.
Companhia das Letras • 512 pp. • R$ 89,90
Com quase duzentas entrevistas, a biografia mostra a trajetória de um dos maiores artistas do país, que completa oitenta anos — cinquenta de carreira — em 1º de agosto. Aos dezessete, Ney de Souza Pereira deixou a casa do pai, um militar conservador, e começou a cantar em um coral de Brasília. Logo deu início à carreira de ator, quando conheceu os integrantes do grupo Secos e Molhados, do qual foi vocalista. Em carreira solo, suas criações musicais lhe renderam três discos de platina e três discos de ouro. Julio Maria é jornalista e autor de Elis Regina: nada será como antes (Master Books, 2015), que venceu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).

Ney Matogrosso em novembro de 1976 (Bob Wolfenson/Divulgação)
Trecho do livro: “Quando Ney caminhou para a beira do palco, enquanto os parceiros dançavam ao fundo, alguém da plateia gritou ‘bicha!’. Houve um pouco de tensão e expectativa para saber qual seria a reação da banda até que outra voz se ergueu a favor de Ney e o show foi retomado. No início algumas pessoas sentiam medo da figura do cantor, mas, minutos depois, elas poderiam chorar com ‘Rosa de Hiroshima’ e se levantar para dançar como crianças em ‘O vira’. Os músicos do grupo também observavam Ney. John Flavin não se acostumava com o que via. ‘Como ele consegue fazer isso?’, pensava. Logo em uma das primeiras noites, uma senhora foi acomodada na plateia estrategicamente ao lado de outra mais corpulenta. Se a pequena desmaiasse, a maior a seguraria. Era Beíta, pagando a promessa de que um dia veria o filho em ação. Uma fã do grupo achou melhor avisar: ‘A senhora não se assuste, porque Ney vai sair de um buraco, viu? E vai estar um pouco pelado’. João Ricardo a olhava do palco talvez preocupado enquanto Gerson e Ney pareciam não vê-la. Depois do show, todos ficaram curiosos. ‘A senhora é mãe do Ney?’, queriam saber, com tanto espanto que faziam Beíta devolver outra pergunta: ‘Por quê? Ele não pode ter mãe?’.”
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Valeu, professor Kibblewhite: a biografia do vocalista do The Who. Roger Daltrey.
Bestseller/Grupo Record • 280 pp. • R$ 64,90
O vocalista e fundador do The Who narra sua turbulenta trajetória escolar (com um agradecimento especial ao professor que previu que ele nunca seria nada na vida) e sua carreira musical ao lado de Pete Townshend, Keith Moon e John Entwistle, com revelações sobre os bastidores da banda, as brigas, a gravação de hits como “My Generation” e “Pinball Wizard”, a carreira solo e o sucesso como ator (Tommy, Lisztomania, A comédia dos erros).
Trecho do livro: “Todos esses elementos, essa combinação exata e esquisita, me transformaram no que eu precisava ser. Podia ter tomado milhões de outros rumos, mas foi do jeito que foi. Eu podia estar contando uma história totalmente diferente ou não contar história nenhuma. Quando canto essas músicas, é um equilíbrio entre vulnerabilidade e força. Quando estou no palco, os muros caem e canto para você. No fim, quando a gente para e pensa, quando todos nós partirmos e virarmos pó, a música vai perdurar. E espero que as pessoas falem sobre nós e digam que fomos até o fim com ela. E isso vai ser o bastante para mim. Sou sortudo. Tive uma vida de sorte. Valeu, professor Kibblewhite. De coração”.
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Encaixotando minha biblioteca: uma elegia e dez digressões. Alberto Manguel.
Trad. de Jorio Dauster • Companhia das Letras • 184 pp. • R$ 44,90
Em 2020, o escritor argentino doou sua biblioteca, então com cerca de 35 mil volumes, para a Câmara Municipal de Lisboa, que está construindo um centro de estudos para abrigá-la. Instalado em um palacete pombalino de 600 m², o Centro de Estudos da História da Leitura tem no seu comitê de honra nomes como Margaret Atwood, Salman Rushdie e Chico Buarque. Nesse livro, cujo título remete a um ensaio célebre de Walter Benjamin, Manguel fala sobre sua relação com os livros e o papel da literatura para uma sociedade democrática e engajada.
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Pele de homem. Hubert & Zanzim.
Trad. Renata Silveira • Nemo/Grupo Autêntica • 164 pp. • R$ 74,90
A história em quadrinhos de Hubert e Zanzim tem como protagonista Bianca, uma adolescente rica da Itália renascentista prometida para um jovem comerciante em um casamento arranjado por seus pais. Ela não consegue esconder sua frustração por ser entregue a um homem que mal conhece, mas as mulheres de sua família têm uma solução legada por gerações: uma “pele de homem”. Ao vesti-la, Bianca se torna Lorenzo e pode conhecer todos os segredos do noivo em seu mundo masculino.
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Diário da catástrofe brasileira, ano 2: um genocídio escancarado. Ricardo Lísias.
Record • 368 pp. • R$ 64,90
No primeiro volume de seu Diário da catástrofe brasileira, Lísias abordou a eleição de Bolsonaro pelo voto de “57 milhões, 796 mil e 986 eleitores”, a destruição da imagem do país no exterior, os desastres ambientais patrocinados pelo presidente e suas declarações inacreditáveis. No segundo volume, o autor de O céu dos suicidas (Companhia das Letras, 2012) mostra como a pandemia ofereceu a Bolsonaro uma oportunidade para um genocídio que ele já anunciava desde a campanha eleitoral de 2018, e que foi preparado e executado à luz do dia, sem nenhum tipo de oposição efetiva.
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Campo santo. W. G. Sebald.
Trad. de Kristina Michahelles • Companhia das Letras • 272 pp. • R$ 69,90
A coletânea reúne ensaios do escritor alemão W. G. Sebald (1944-2001), morto precocemente aos 57 anos em um acidente de automóvel. Os artigos tratam da dificuldade dos alemães em lidar com o luto no pós-Segunda Guerra e de como a literatura se configura como uma tentativa de reparação pelas injustiças do mundo real, além de analisarem Günter Grass, Heinrich Böll, Kafka, Peter Handke e Nabokov.
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Matéria publicada na edição impressa #47 em julho de 2021.
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